Rosely Sayão – Fico impressionada quando percebo como é grande o número de pais que se preocupam em evitar que o filho experimente frustrações na vida e que consideram que passar por essa experiência pode prejudicar o desenvolvimento da criança.
Nesta semana, uma mãe me disse que está procurando professores particulares para acompanhar seu filho durante todo o ano letivo. Ela não quer que ele tenha baixo rendimento escolar porque, nas raras vezes em que isso aconteceu, ele manifestou um comportamento preocupante: recusava-se a ir para a escola, ficou muito triste e precisou –segundo a mãe– de algumas sessões com um psicólogo para conseguir seguir em frente e recuperar as notas que considerou baixas.
Outra me contou, algumas semanas atrás, o trabalho que teve para fazer com que a filha, de nove anos, fosse convidada para uma festa de aniversário de uma colega que ela mal conhecia. É que a garota estava tendo crises de choro diariamente porque a colega que considera sua melhor amiga havia sido convidada, e ela não. E não é que essa mãe conseguiu fazer com que a filha fosse ao evento?
Basta observar crianças pequenas brincando para perceber que algumas reagem melhor do que outras às pequenas frustrações de seu cotidiano. Já vi crianças tendo crises de birra por não terem conseguido fazer algo do jeito que queriam. E já constatei também que, em situações semelhantes, outras simplesmente trocaram de estratégia, calmamente e até com entusiasmo, quando perceberam que ainda não tinham condições de fazer o que queriam.
Em geral, as primeiras frustrações que a criança experimenta são uma consequência de sua própria condição. Quem já não viu um bebê tentando dar seus primeiros passos e cair, se desequilibrar, se machucar por causa disso? Pois então: a criança chora não apenas porque caiu, mas também porque não conseguiu caminhar como queria. Chora também porque vive, nesse momento, uma frustração decorrente de sua limitação física. Nessas horas, podemos simplesmente acolher a criança, confortá-la amorosamente.
Algumas limitações pessoais, como essa do bebê, serão superadas com o crescimento, mas algumas outras não. Todos temos limitações, não é verdade? Por isso, é inevitável que passemos pela vida toda por frustrações. Quando a criança aprende a reagir bem às frustrações pessoais ela se prepara melhor para enfrentar aquelas que os contextos da vida nos impõem.
A garota que não foi convidada para a festa, por exemplo, não teve essa possibilidade. Sabemos que a intenção da mãe foi a de proteger a filha das emoções que ela estava sentindo, mas a garota perdeu a oportunidade de enfrentar de maneira mais saudável a desagradável sensação de frustração, que irá, inevitavelmente, experimentar muitas outras vezes na vida, como todos nós experimentamos, por sinal.
Insisto em dizer aos pais, e vou repetir nesta conversa: educar os filhos é tarefa simples e complexa que consiste em permitir que conheçam a vida para que, mais tarde, tenham recursos pessoais para vivê-la por conta própria.
Alguém conhece a vida sem frustrações? Então, em vez de poupá-los de frustrações, precisamos colaborar para que aprendam a enfrentá-las das melhores maneiras possíveis.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/2017/04/1872442-pais-tentam-proteger-os-filhos-mas-as-decepcoes-fazem-parte-da-vida.shtml
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