Geografia

Avaliação da prévia do censo 2022 para o Brasil, regiões e Unidades da Federação

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José Eustáquio Diniz Alves – O IBGE di­vulgou no dia 28 de de­zembro de 2022 a prévia da po­pu­lação dos mu­ni­cí­pios, dos es­tados e do país com base nos dados co­le­tados pelo Censo De­mo­grá­fico até o dia 25 de de­zembro.

O le­van­ta­mento in­dicou 207.750.291 mi­lhões de ha­bi­tantes em 2022. Porém, este nú­mero não re­pre­senta o re­sul­tado final. A co­leta pros­segue nos meses de ja­neiro e fe­ve­reiro de 2023 e al­guns nú­meros das es­ti­ma­tivas mu­ni­ci­pais en­vi­adas ao Tri­bunal de Contas da União (TCU) devem ser re­vi­sados.

Como é sa­bido, o censo de­mo­grá­fico pre­visto para o se­gundo se­mestre de 2020 foi adiado por conta da pan­demia da covid-19. O censo po­deria ter sido re­a­li­zado no se­gundo se­mestre de 2021, mas in­fe­liz­mente foi adiado mais uma vez.

Eu, par­ti­cu­lar­mente, sempre achei que seria muito di­fícil e ar­ris­cado re­a­lizar o censo pa­ra­le­la­mente às elei­ções ge­rais de 2022, em um clima de muita po­la­ri­zação po­lí­tica. Em uma live do jornal Valor (Alves, 06/04/2021), alertei sobre os pro­blemas que se­riam ge­rados pelo adi­a­mento do censo para o se­gundo se­mestre de 2022 e as di­fi­cul­dades de chegar a todos os do­mi­cí­lios do país e con­se­guir res­postas con­fiá­veis dos mo­ra­dores em uma so­ci­e­dade po­li­ti­ca­mente ra­di­ca­li­zada. Na falta do censo, o Brasil ficou com uma la­cuna es­ta­tís­tica, que in­clu­sive pre­ju­dicou a acu­rácia das pes­quisas elei­to­rais em 2022.

Os pro­blemas do adi­a­mento do censo foram am­pli­fi­cados pela não re­a­li­zação da Con­tagem Po­pu­la­ci­onal de 2015 (que foi can­ce­lada pela Di­re­toria do IBGE da época, por falta de re­cursos fi­nan­ceiros). Desta forma, as pro­je­ções po­pu­la­ci­o­nais de 2018 do IBGE já foram pre­ju­di­cadas pela au­sência de dados mais atu­a­li­zados. Para com­plicar a si­tu­ação veio a pan­demia da covid-19 que re­duziu o nú­mero de nas­ci­mentos e au­mentou o nú­mero de mortes. Por­tanto, as úl­timas pro­je­ções e as es­ti­ma­tivas po­pu­la­ci­o­nais estão su­pe­res­ti­madas, pois a di­nâ­mica de­mo­grá­fica mudou nos úl­timos anos.

Para atu­a­lizar os dados du­rante a dé­cada pos­te­rior ao censo de­mo­grá­fico, nor­mal­mente, re­corre-se às pro­je­ções po­pu­la­ci­o­nais. Nas úl­timas pro­je­ções re­a­li­zadas pelo IBGE (de 2018) a me­to­do­logia uti­li­zada im­pli­cava tomar como base a po­pu­lação re­cen­seada em 2010 (e con­ci­liada com o censo de 2000) apli­cando-se a pro­ba­bi­li­dade de so­bre­vi­vência pro­je­tada para o pe­ríodo in­ter­cen­si­tário e es­ti­mando a po­pu­lação de 0 a 10 anos a partir das taxas pro­je­tadas de fe­cun­di­dade para o pe­ríodo. Desta forma, ainda que o censo co­le­tasse de fato 100% da po­pu­lação, os dados das pro­je­ções po­de­riam não coin­cidir com os dados di­vul­gados pelo censo.

Em me­ados de 2021, es­crevi no Portal Eco­de­bate o ar­tigo “Qual o ta­manho da po­pu­lação bra­si­leira atual?” (Alves, 25/08/2021), onde ar­gu­mento que o total de cerca de 215 mi­lhões de ha­bi­tantes no Brasil, pre­visto para me­ados de 2022, es­tava exa­ge­rado e que o censo 2022 não en­con­traria este valor, mas sim um valor mais baixo. De fato, a prévia do censo 2022, in­dicou um valor bem mais abaixo dos 215 mi­lhões de ha­bi­tantes. Porém, o valor de 207,8 mi­lhões, in­di­cado pelo IBGE no dia 28/12/2022, está abaixo do que era es­pe­rado. Ou seja, 215 mi­lhões de ha­bi­tantes é muito, mas 207,8 mi­lhões é pouco.

Uma ma­neira de ava­liar o ta­manho da po­pu­lação bra­si­leira atual é con­si­derar a po­pu­lação re­cen­seada em 2010, somar com o nú­mero de nas­ci­mentos e sub­trair do nú­mero de óbitos do pe­ríodo. A ta­bela abaixo mostra o nú­mero de nas­ci­mentos re­gis­trados pelo Sis­tema de In­for­ma­ções sobre Nas­cidos Vivos (SI­NASC), o nú­mero de óbitos re­gis­trados pelo Sis­tema de In­for­ma­ções sobre Mor­ta­li­dade (SIM), entre agosto de 2010 e julho de 2022 e o au­mento ve­ge­ta­tivo (nas­ci­mentos – mortes), para o Brasil, re­giões e Uni­dades da Fe­de­ração (UF).


Desta forma, como a po­pu­lação bra­si­leira do censo 2010 foi de 190,8 mi­lhões, se so­marmos os 18,2 mi­lhões do cres­ci­mento ve­ge­ta­tivo, te­ríamos 209 mi­lhões de ha­bi­tantes em me­ados de 2022. Mas também sa­bemos que existiu su­be­nu­me­ração no re­cen­se­a­mento de 2010 e a pro­jeção de 2018 es­timou 194,8 mi­lhões de ha­bi­tantes em 2010.

Desta forma, so­mando os 18,2 mi­lhões do cres­ci­mento ve­ge­ta­tivo com os 194,8 mi­lhões da pro­jeção po­pu­la­ci­onal (que cor­rige a su­be­nu­me­ração do censo 2010) te­ríamos 213 mi­lhões de ha­bi­tantes em 2022. Por­tanto, a po­pu­lação bra­si­leira es­taria entre 209 e 213 mi­lhões de ha­bi­tantes, desde que o saldo da mi­gração in­ter­na­ci­onal seja pró­ximo de zero. Sem dú­vida, saíram muitos bra­si­leiros do país, mas também en­traram muitos es­tran­geiros (como os ve­ne­zu­e­lanos em Ro­raima). Na falta de dados ofi­ciais, a hi­pó­tese de saldo zero da mi­gração in­ter­na­ci­onal é útil para o cál­culo da po­pu­lação na­ci­onal.

A ta­bela abaixo mostra a po­pu­lação bra­si­leira, das re­giões e das Uni­dades da Fe­de­ração (UFs) se­gundo os dados do censo 2010 mais a soma dos nas­ci­mentos re­gis­trados pelo Sis­tema de In­for­ma­ções sobre Nas­cidos Vivos (SI­NASC) menos a soma dos óbitos do Sis­tema de In­for­ma­ções sobre Mor­ta­li­dade (SIM), entre agosto de 2010 e julho de 2022, além da prévia do censo de 2022.


Como já visto, com a soma do nú­mero de nas­ci­mentos entre a data de re­fe­rência do censo 2010 e a data de re­fe­rência do censo 2022 e a di­mi­nuição do nú­mero de óbitos ocor­ridos no pe­ríodo, o Brasil teria 209 mi­lhões de ha­bi­tantes em 31 de julho de 2022. Entre as re­giões bra­si­leiras, a prévia do censo 2022 in­dicou uma po­pu­lação menor no Norte e no Nor­deste do que a soma da po­pu­lação exis­tente nestas duas re­giões em 2010 e a soma do cres­ci­mento ve­ge­ta­tivo dos úl­timos 12 anos (se­gundo as in­for­ma­ções do SIM e SI­NASC do Mi­nis­tério da Saúde). Isto im­plica dizer que a di­fe­rença po­deria ocorrer de­vido à emi­gração da po­pu­lação destas duas re­giões.

Já para as re­giões Su­deste, Sul e Centro-Oeste os nú­meros da prévia do censo 2022 apon­taram nú­meros mai­ores do que a soma do valor do censo 2010, acres­cido do cres­ci­mento ve­ge­ta­tivo do pe­ríodo. Isto seria pos­sível se estas 3 re­giões ti­vessem re­ce­bido imi­grantes das ou­tras duas re­giões (ou hou­vesse su­be­nu­me­ração das es­ta­tís­ticas vi­tais).

Em termos das Uni­dades da Fe­de­ração, a prévia do censo 2022 in­dicou nú­meros me­nores do que a soma do cres­ci­mento ve­ge­ta­tivo dos úl­timos 12 anos nos es­tados de Rondônia, Acre, Ama­zonas, Pará, Amapá, em todos os es­tados da re­gião Nor­deste, além de Minas Ge­rais, Rio de Ja­neiro, Rio Grande do Sul e Dis­trito Fe­deral. A prévia do censo 2022 in­dicou nú­meros mai­ores do que a soma do cres­ci­mento ve­ge­ta­tivo dos úl­timos 12 anos nos es­tados de Ro­raima (com forte imi­gração de ve­ne­zu­e­lanos), To­can­tins, Es­pí­rito Santo, São Paulo, Pa­raná, Santa Ca­ta­rina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

A ta­bela abaixo mostra os nú­meros da prévia do censo 2022 e os nú­meros da soma da po­pu­lação do censo 2010 mais o cres­ci­mento ve­ge­ta­tivo do pe­ríodo. As di­fe­renças são pe­quenas, mas o IBGE deve apre­sentar nú­meros mais de­fi­ni­tivos na con­clusão do censo, ob­je­ti­vando re­duzir a su­be­nu­me­ração e as di­fi­cul­dades para atingir a co­ber­tura de 100%.

O IBGE di­vulgou as es­ti­ma­tivas mu­ni­ci­pais ainda em 2022 para atender ao TCU, em função de de­ter­mi­nação legal. Mas a não con­clusão do re­cen­se­a­mento traz im­pre­ci­sões sobre os re­sul­tados fi­nais e devem ser re­vi­sados até março de 2023. Ao mesmo tempo existem mu­ni­cí­pios que apre­sen­taram cres­ci­mento acima da média na­ci­onal.

Re­por­tagem de Rone Car­valho, pu­bli­cada no Diário da Re­gião (07/01/2023), mostra que os pre­feitos da re­gião No­ro­este de São Paulo estão sa­tis­feitos com os nú­meros da prévia do censo 2022. Até o final do re­cen­se­a­mento os nú­meros ge­rais devem ser re­vi­sados e é fun­da­mental que se chegue a um nível de co­ber­tura que seja o mais pró­ximo pos­sível da re­a­li­dade.

Os dados para o Brasil, re­gião e Uni­dades da Fe­de­ração estão pró­ximos do es­pe­rado, em­bora ne­ces­sitem uma re­visão com­ple­mentar. Já as es­ti­ma­tivas mu­ni­ci­pais estão mais dis­tantes do es­pe­rado para os muitos mu­ni­cí­pios, em­bora haja mu­ni­cí­pios com cres­ci­mento acima da média na­ci­onal. Nos pró­ximos ar­tigos vamos ana­lisar os dados para as ca­pi­tais es­ta­duais e ou­tros mu­ni­cí­pios.

Re­fe­rên­cias:

ALVES, JED. Qual o ta­manho da po­pu­lação bra­si­leira atual? Eco­de­bate, 25/08/2021
https://​www.​eco​deba​te.​com.​br/​2021/​08/​25/​qual-​o-​tamanho-​da-​pop​ulac​ao-​bra​sile​ira-​atual/

ALVES, JED. O corte dos re­cursos para o Censo De­mo­grá­fico, En­tre­vista à re­pórter Lu­ci­anne Car­neiro do jornal Valor, 06/04/2021 https://​www.​youtube.​com/​watch?​v=U2k​9XYc​OUjg&​t=2529s

IBGE. Prévia da Po­pu­lação dos Mu­ni­cí­pios com base nos dados do Censo De­mo­grá­fico 2022 co­le­tados até 25/12/2022, di­vul­gação em 28 de de­zembro de 2022
https://​www.​ibge.​gov.​br/​est​atis​tica​s/​sociais/​pop​ulac​ao/​22827-​censo-​dem​ogra​fico-​2022.​html?​edi​cao=359​38&​t=res​ulta​dos

ALVES, JED. De­mo­grafia e Eco­nomia nos 200 anos da In­de­pen­dência do Brasil e ce­ná­rios para o sé­culo XXI, Es­cola de Ne­gó­cios e Se­guro (ENS), maio de 2022. (Co­la­bo­ração de Fran­cisco Ga­liza). Acesso gra­tuito no site da ENS: https://​ens.​edu.​br:​81/​arq​uivo​s/​Liv​ro%20D​emog​rafi​a%20e%20E​cono​mia_​digital_​2.​pdf

Car­valho, R. Custo de vida menor e rá­pido acesso a Rio Preto ‘in­cham’ ci­dades da re­gião, Diário da Re­gião, 07/01/2023 https://​www.​dia​riod​areg​iao.​com.​br/​cidades/​regiao/​custo-​de-​vida-​menor-​e-​rapido-​acesso-​a-​rio-​preto-​incham-​cidades-​da-​regi-​o-​1.​1038344

Fonte da matéria: Avaliação da prévia do censo 2022 para o Brasil, regiões e Unidades da Federação – https://correiocidadania.com.br/2-uncategorised/15373-avaliacao-da-previa-do-censo-2022-para-o-brasil-regioes-e-unidades-da-federacao

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