Internacional

Que democracia? 70% dos países ‘não livres’ recebem ajuda militar dos EUA

Tempo de leitura: 4 min

RT News – Washington tem o hábito de bombardear nações indefesas em nome da democracia, mas não é nem um pouco reticente em vender armas e ceder ajuda militar a países cujos próprios vigilantes dos direitos humanos consideram como ditatoriais.

A Freedom House, organização não-governamental baseada nos EUA fundada em 1941, publica o relatório Liberdade no Mundo anualmente, e categoriza países como “livres”, “parcialmente livres”, ou “não livres”. Financiada quase inteiramente pelo governo dos EUA, a Freedom House considera os EUA e seus aliados como “livres” enquanto designa países inimigos como Rússia e China como “não livres”. O relatório de 2018 do grupo descreveu 2.7 bilhões de pessoas vivendo em 49 países como tragicamente “não livres”.

E desses 49 países, ao menos 35 – ou 71% – ou já foram clientes do complexo industrial-militar dos EUA, ou já receberam algum tipo de assistência militar do Pentágono nos últimos três anos.

‘Pior dos piores’

Em setembro de 2017, Rich Whitney do Truthout cruzou o relatório da Freedom House e o do Pentágono sobre assistência militar dos EUA, e chegou à surpreendente conclusão: mesmo com as proclamações públicas sobre ampliar a democracia e se opor à ditaduras, Washington forneceu assistência militar à cerca de 73% dos países “não livres” na lista da ONG. Pouco mudou desde então.

Doze desses países são tão horríveis, de acordo com a Freedom House, que foram nomeados como “o pior dos piores”. Ainda assim metade deles – Arábia Saudita, Somália, Turcomenistão, Uzbequistão, República Central Africana e a Líbia – são recipientes contínuos da ajuda militar dos EUA.

Claro, a Somália foi tomada pela guerra civil, terrorismo e conflitos tribais desde 1991, mas os EUA continuam a patrocinar o governo central atual, fornecendo ajuda militar e bonés escrito “Tornar a Somália Grande Novamente”.

A República Central Africana foi tomada pela guerra civil entre cristãos e muçulmanos desde 2012, e tem miseráveis 9 de 100 pontos no ranking da Freedom House. Um embargo de armas da ONU está em vigor desde 2013. Isso não deteve os EUA de entregar 48 veículos às forças armadas CAR em agosto desse ano.

A Líbia é outro caso que vale a pena salientar. Em 2010, a nação da África do norte foi declarada “de alto desenvolvimento humano” pela ONU, ficando em 53o de 162 países pesquisados. No ano seguinte, no entanto, o governo do país foi deposto por rebeldes apoiados pelos EUA e pela OTAN. Sete anos depois de ser bombardeada e deixada à mercê de senhores de guerra, milícias tribais e até do EI, a Líbia  foi para 108o no ranking da ONU, tem uma pontuação de 9 de 100 no índex da Freedom House, e possui mercados de escravos a céu aberto. Por outro lado, o governo oficialmente reconhecido recebe ajuda militar.

Arábia Saudita: moralizando sob interesse

Um dos países em pior posição no índex da Freedom House é a Arábia Saudita – com somente 7 de 100 pontos, bem abaixo dos vilões favoritos de Washington, a Venezuela (26), Rússia (20), China (14) e até o Irã (17), menos da Coréia do Norte (3).

Como colocou o Departamento de Estado no mês passado, no entanto, o reino saudita é o “maior cliente estrangeiro, com mais de $114 bilhões em casos ativos”. Foggy Bottom espera um “aumento significativo” nas vendas militares estrangeiras (FMS) devido ao acordo de $110 bilhões para modernizar as forças armadas sauditas, assinado em maio de 2017 pelo presidente Donald Trump e pelo Rei Salman bin Abdulaziz Al Saud. Até agora, $14.5 bilhões em vendas já foram implementados nessa iniciativa.

Mesmo com pedidos contínuos por sanções contra Riyadh pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em outubro, a administração Trump está relutante em interferir com as vendas de armas.

Isso não parou a Alemanha de suspender as entregas de armas à Arábia Saudita, citando a morte do jornalista. O país era o segundo melhor cliente de Berlim, depois da Algéria, com estimados $457 milhões em contratos somente esse ano.

A Noruega e a Espanha também cancelaram contratos de armas sauditas, mas a França, que tem acordos com Riyadh de quase $12 milhões, está se recusando a seguir o exemplo.

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Poder-e-ContraPoder/Que-democracia-70-dos-paises-nao-livres-recebem-ajuda-militar-dos-EUA/55/42492

Deixe uma resposta