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Diferença na renda formal entre bairros de SP é de quase 8 vezes, diz ONG

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Gabriela Fujita – Quanto mais longe do centro de São Paulo, pior é a renda do morador da cidade. Esta é uma das conclusões apresentadas no Mapa da Desigualdade, pesquisa organizada com dados oficiais pela Rede Nossa SP. Considerando 38 indicadores com foco em desigualdade social e qualidade de vida, a entidade sem fins lucrativos divulga nesta terça-feira (24) seu estudo sobre os resultados da capital em 2016. A ONG monitora um “desigualtômetro” entre os 96 distritos paulistanos.

“O ‘desigualtômetro’ é a medição que a gente faz entre o pior e o melhor distrito. Você tem duas formas de reduzir a desigualdade: melhorando os distritos que estão piores ou piorando os distritos que estão melhores”, afirma Américo Sampaio, sociólogo e gestor de projetos na Rede Nossa SP, que publica seu mapa desde 2012.

No indicador “remuneração média do emprego formal”, a variação entre o bairro que tem melhor renda e o que tem a pior é de 7,83 vezes. Levando em conta o rendimento médio dos habitantes com trabalho e carteira assinada nos 96 distritos paulistanos, Marsilac, no extremo sul do município e a 51 km do centro, tem o menor valor: R$ 1.287,32. O maior valor fica em Campo Belo, a cerca de 42 km de Marsilac e a 11 km do centro: R$ 10.079,98.

Isso mostra que você tem na região central da cidade uma ilha de privilégios

Américo Sampaio, sociólogo

“Majoritariamente a população é branca na região do centro, tem acesso à infraestrutura urbana, ao emprego perto de casa e, por conta de tudo isso, vai conseguir ter acesso a melhores salários também”, ele diz.

Segundo dados da Fundação Seade (Fundação Sistema Estadual de Sistema de Dados), Marsilac tem cerca de 8.400 moradores. Já no distrito de Campo Belo são 64.400.

No levantamento apresentado em 2016, Marsilac teve o pior desempenho no quesito “número de empregos por 10 mil habitantes”, com índice de 168,38. O bairro de Campo Belo, na 18ª posição do ranking de 96 distritos, registrou índice de 11.345,80, para efeito de comparação.

“Se você mora na periferia, você tem mais dificuldade em conseguir atingir cargos mais altos no setor privado. E, no geral, quando a pessoa começa a ganhar melhor, ela se muda para área central e para a zona oeste da cidade, o que vai gerando uma concentração de riqueza nesta região”, afirma Sampaio.

Renda não chega a R$ 2.000,00 em 26 distritos

Nesta terça-feira, também vão ser apresentados outros dados que compõem o perfil da cidade de São Paulo, a mais rica da América Latina.

Além de Marsilac, outros 25 distritos têm renda inferior a R$ 2.000,00 –dois salários mínimos correspondem hoje a R$ 1.874,00. São eles: Rio Pequeno (zona oeste); José Bonifácio, Carrão, Parque do Carmo, São Mateus, São Miguel, Ermelino Matarazzo, Aricanduva, Cidade Líder, Cangaíba, São Rafael, Vila Matilde, Ponte Rasa, Artur Alvim, Jardim Helena, Guaianases e Lajeado (zona leste); Vila Medeiros, Cachoeirinha e Brasilândia (zona norte); Jardim Ângela, Grajaú, Cidade Ademar, Campo Limpo e Parelheiros (zona sul).

De acordo com o sociólogo Sampaio, essa característica de menor renda e baixa quantidade de empregos na periferia vem sendo mantida, no decorrer dos anos, em vez de ser revertida pela administração pública.

A pesquisa mostra que a desigualdade em São Paulo é congelada. É a perpetuação da desigualdade

Américo Sampaio, sociólogo

“Entra governo, sai governo e isso se mantém, o que a gente pode chamar de desigualdade estrutural. Isso é absolutamente grave em toda a sociedade, e os poderes públicos deveriam, de fato, se empenhar em mudar isso”, ele critica.

Para chegar a constatações como esta, a ONG utilizou informações da Prefeitura de São Paulo, de secretarias municipais e de organizações como o Ministério do Trabalho e Previdência Social e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Embora alguns indicadores tenham apresentado melhora em 2016, isso não quer dizer que a redução da distância entre o pior e o melhor bairro represente, efetivamente, algo positivo para a cidade.

“Os indicadores onde houve melhora dizem respeito a uma aproximação entre o pior e o melhor distrito porque o que era o melhor distrito piorou. São poucos os que tiveram fenômeno contrário, como é o caso do acesso à creche e à educação pré-escolar, indicadores que tiveram alguma melhora”, afirma o pesquisador.

“A desigualdade piorou de forma geral. Os dados de 2016 mostram que houve piora no campo, por exemplo, de oferta de serviços em cultura, como teatros, salas de cinema, centros culturais, e na questão da violência, com elevação no número de homicídios”, ele diz.

O interesse na organização do mapa é expor o problema da desigualdade social e propor à sociedade civil e aos governos que o tema seja amplamente debatido e que se torne foco permanente das políticas públicas.

“O pré-requisito de uma cidade boa para todos viverem é que seja pequena a distância entre a melhor região e a pior região. Quanto maior for a distância entre a melhor região e a pior região, isso significa que a cidade, no geral, até mesmo para os ricos, é uma cidade com pouca qualidade de vida e que não consegue garantir que todos tenham acesso igual às oportunidades”, ele conclui.

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