Sociedade

A nova guerra do Alemão

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Marco Aurélio Canônico – Quase ninguém de fora está vendo ou noticiando, mas o Complexo do Alemão está em guerra novamente. Desde a última quinta (2), seguidas operações policiais —que o comando da PM trata oficialmente como “incursões de rotina”— vêm resultando em tiroteios que infernizam a vida dos moradores.

Fotos, vídeos e relatos divulgados nas redes sociais descrevem como tem sido viver em área conflagrada. As balas começam a voar desde cedo, quando trabalhadores e crianças estão saindo de casa. Não raro a troca de tiros se estende por muitas horas, ininterruptamente. As imagens de imóveis completamente perfurados são a evidência medonha disso. Parece Aleppo, mas é o Rio.

Dono de um dos piores IDHs da cidade, mesmo em comparação com outras favelas, o complexo sedia oito Unidades de Polícia Pacificadora, que há muito tempo perderam o controle do território. Pior, os comandantes das UPPs parecem ter perdido também o controle sobre seus homens.

Multiplicam-se na internet denúncias de abusos cometidos por policiais. Segundo os moradores, eles invadem casas para usá-las como esconderijo, ponto de observação e base para troca de tiros com os criminosos. Há fotos para comprovar.

Relatos de “esculachos” e mesmo de crimes mais graves também tornaram-se comuns. Numa cidade em que a Justiça já autorizou, em novembro passado, a excrecência de um mandado de busca e apreensão coletivo em favela, os PMs sentem-se à vontade para agir sem freios.

O pior é que o Alemão já viu esse cenário, e ele termina em tragédia. Em 2007, 19 moradores do complexo foram mortos em uma dessas megaoperações policiais. A maioria das vítimas não tinha relação com o tráfico e foi executada de modo sumário e arbitrário. Quão pouco evoluímos em uma década.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marco-aurelio-canonico/2017/02/1857102-a-nova-guerra-do-alemao.shtml

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