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Controvérsia 10 anos: uma vitória dos leitores

Tempo de leitura: 4 min

Ricardo Alvarez – O site Controvérsia comemora 10 anos de vida neste 17 de julho. Com altos e baixos ele resistiu ao tempo e questiona a máxima que o brasileiro não gosta de ler.

Livros não mudam o mundo,
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas.

Mário Quintana

Há uma década atrás, depois de muito questionamento de ex-alunos, alunos, amigos e conhecidos sobre as confusões que vicejam no mundo, resolvi postar alguns textos que acendiam uma luz sobre os problemas contemporâneos.

As visitas cresceram e não pararam mais. O tempo passou, o mundo ficou mais complexo e a necessidade de reflexão cresceu na mesma medida.

Não existem respostas fáceis para explicar o terrorismo, os desastres ambientais, a saída da Inglaterra do Euro, o crescimento da violência urbana, as doenças epidêmicas, a influencia das novas tecnologias no comportamento humano, enfim, temas não faltam e as dúvidas ganham amplitude.

A aparente confusão tem uma lógica intrínseca. Não é o resultado de seres humanos maldosos, do nervosismo divino ou de uma determinação natural.

O pano de fundo são as bases em que se assentam o funcionamento da sociedade capitalista. Assim como, em modos de produção anteriores, os passos que a sociedade dava eram efeitos das disputas disputas sociais geradas no seio do sistema vigente e a forma como se reproduzia.

Por isso as mulheres não usam espartilho nas ruas, os homens não andam de armadura e nem a escravidão é a forma dominante de trabalho.

O que bebemos, comemos, vestimos se refere ao momento histórico vigente. A leitura e reflexão nos permitem enxergar para além do óbvio e do aparente. Eis a sua importância.

No capitalismo a lógica fundante é a obtenção do lucro. Tudo o que o impede deve ser eliminado ou minimizado, assim como no feudalismo a terra tinha importância essencial na sua reprodução.

Na medida que o tempo passa as formas como o lucro é gerado vão se metamorfoseando, porém, sem perder sua essência. Para se obtê-lo ganha sentido a concorrência, o egoísmo, a disputa, a guerra e a máxima exploração dos recursos naturais e humanos.

A destruição da natureza passa por ai. A corrupção também. Aliás, a corrupção nada mais é do que o mercado de pessoas e partidos no jogo do poder. Compram-se e vendem-se ideias através de representantes da sociedade.

Ler nos abre possibilidades de sermos autênticos e ímpares. Nos possibilita fugir da normalidade que nos é imposta dada pelo consumo e a satisfação através de bens.

Einstein dizia: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original.” Ninguém tira de você, ninguém apaga do seu repertório. Eis o salto para além.

Mas não é ler aos montes apenas, ela deve compor um todo, uma base de vida.

Mas rotina corrida do cotidiano nos afasta dos prazeres da vida. Temos que ganhar dinheiro e gastá-lo para alcançar a plenitude da vida no capitalismo.

Falta tempo para tudo mais. “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”, dizia Mário Quintana com sua sabedoria milenar.

Para romper com esta rotina estafante é preciso se desvencilhar das falsas conquistas pessoais que representam pouco para a sociedade. O sucesso individual é, ao mesmo tempo, o fracasso social.

Sem decifrar o enigma que nos absorve sucumbimos diante do desconhecido. É preciso romper a lógica dominante e dar essência ao que é efetivamente humano. Ler nos permite acumular e compreender melhor as coisas. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, afirmava Paulo Freire.

Quando conseguimos enxergar o óbvio que se acortinava diante dos olhos, clareamos nossas ideias em relação ao mundo e a mente se expande.

Ler é dialogar com nossos antepassados que fizeram um enorme esforço de interpretação das coisas. Para René Descartes “A leitura de todos os bons livros é uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.

Enfim, somos bombardeados cotidianamente com mensagens que valorizam a concorrência, o sucesso, a disputa e o egoísmo. O outro é uma ameaça num mundo que não tem para todos, ou melhor, que tem, mas fica nas mãos de poucos.

Precisamos superar este momento histórico e construir uma sociedade mais justa e igualitária. Este é o propósito do Controvérsia.

A leitura não muda o mundo, muda as pessoas…Quintana tem toda razão.

Obrigado pelas visitas e pelas leituras.

Obs: “O Torpor do Capitalismo” foi o primeiro texto publicado pelo site Controvérsia. Clique.

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