Fania Rodrigues Havana (Cuba) e Caracas (Venezuela) -Há 60 anos, o Exército Rebelde cercava a cidade de Santiago de Cuba, na última batalha liderada pelo comandante Fidel Castro, no final de dezembro de 1958. Ao amanhecer do dia 1º de janeiro de 1959, o ditador Fulgencio Batista abandonava a ilha. Com a destituição do ditador alinhado aos Estados Unidos, consolidava-se assim a Revolução Cubana.
Depois da fuga do ditador Batista, Fidel Castro e sua tropa levaram sete dias para chegar à capital cubana. No dia 8 de janeiro de 1959, mais de mil combatentes rebeldes fizeram uma entrada triunfal em Havana, em cima de tanques e carros blindados do exército de Batista.
Para marcar a data, a reportagem do Brasil de Fato resgatou fatos históricos e conversou com pessoas que participaram da resistência naqueles dias e mantêm viva ainda hoje a memória da luta na ilha caribenha.
FULGENCIO BATISTA
Batista alinhou-se com os latifundiários ricos do país, que possuíam as maiores plantações de açúcar, e conduziu a ilha para um abismo social, com economia estagnada e um aumento cada vez maior da desigualdade social entre cubanos ricos e pobres. Além disso, a corrupção e o autoritarismo eram a tônica da gestão.
Com um governo cada vez mais corrupto, as máfias estadunidenses passaram a ter grande influência no país, controlando a distribuição de drogas, jogos de azar e a prostituição. Simultaneamente, as grandes multinacionais com sede nos Estados Unidos mantinham contratos lucrativos com o governo de Fulgencio Batista.
A insatisfação popular cresceu e ficou ainda mais evidente com o apoio demonstrado pela população às forças rebeldes que, comandadas por Fidel Castro, derrubaram o governo.
APOIO POPULAR
No longo caminho percorrido até Havana, cortando o país de ponta a ponta, uma multidão saiu às ruas e estradas de terra para ver e aplaudir os novos heróis. “Fidel qualificou esse momento como um ‘banho de multidões’, ‘um banho de povo’. Todos queriam ver Fidel e os combatentes que haviam dado liberdade a Cuba”, contou González na publicação do Cuba Debate.
“O exército é o povo fardado”, dizia Camilo Cienfuegos, um dos comandantes da guerrilha cubana. Assim foi durante a luta armada, mas também depois da vitória revolucionária nos anos seguintes.
Um momento histórico que entrou para a memória do povo cubano.
MÃE E FILHO
“Em 1961, fomos enviados para Santiago de Cuba para ajudar na proteção dessa zona costeira. Eu tinha 12 anos, mas junto com minha mãe já ficava de guarda também, vigilante. Lembro-me da noite da invasão da Baía dos Porcos. A ordem era manter a vigilância em alerta máxima”, recorda.
“Chovia muito naquela noite, e comecei a ficar gripado. Minha mãe, com o fuzil nas mãos, me disse: ‘Filhinho, a mamãe adoraria levar você para casa, fazer um chazinho e cuidar de você. Mas não posso deixar esse fuzil, senão os gringos terminam de invadir e nos matam’”.
Os dois aguentaram firme até a derrota dos mercenários, após quatro dias de batalha intensa, entre 17 e 20 de abril daquele ano. “Os mercenários dos Estados Unidos não puderam com nosso povo”, diz orgulhoso Arturo Matute.
GUERRILHEIRO
CAMPONÊS REBELDE
“Lembro-me de combater ao lado de Che em vários momentos. Ali, na frente de batalha, ele era mais um combatente, nunca houve diferenciação hierárquica. Ele não recuava nunca. Che foi o homem mais valente que já conheci”, conta.
FORÇA DA REVOLUÇÃO
CHE
Anos mais tarde, Fidel Castro recordaria o dia em que Che e seus homens protagonizaram a maior proeza da guerrilha cubana.
“Quando, já ao final de dezembro, nossas forças tinham praticamente dominado a província Oriente [antiga província], Che levou a cabo uma de suas últimas proezas em nosso país. Avançou sobre a cidade de Santa Clara com 300 combatentes, enfrentou um trem blindado que estava fora da cidade, interceptou a via entre o trem e a sede das forças armadas: descarrilaram o trem, ocuparam, renderam os militares e confiscaram as armas”, relembrou Fidel em um discurso de 1971, na cidade de Santiago do Chile, durante uma homenagem a Che Guevara.
Foi a escolha de Cuba por outro modelo político e econômico, mais igualitário, que despertou a ira dos Estados Unidos, argumenta Che. “‘Mau exemplo’ o cubano, ‘muito mau exemplo’. Aqueles que controlam os monopólios não conseguirão dormir tranquilos enquanto esse ‘mau exemplo’ permanecer de pé, avançando em direção ao futuro”, explicou o guerrilheiro em 1961, quando os ataques dos EUA contra Cuba se intensificaram.
Na obra, Che fala sobre as mudanças radicais que aconteceram logo nos primeiros anos após a derrubada de Batista pelos rebeldes.
“A Revolução Cubana liquidou os latifúndios, limitou o lucro dos monopólios estrangeiros e dos intermediários estrangeiros de capital parasitário que se dedicam ao comércio de importações. Também rompeu o monopólio de dois gigantes do setor mineiro. Cuba lançou uma política nova na América”, destaca.
Para o argentino, a construção desse novo modelo socialista cubano mostrou que era possível superar as desigualdades sociais, a corrupção e o burocratismo. A força ideológica da revolução foi o que possibilitou que se superassem todas as notícias contrárias divulgadas pelos grandes meios de comunicação.
“A Revolução Cubana rompeu todas as barreiras impostas pelas empresas de notícias e difundiu sua verdade, que se espalhou como uma carreira de pólvora entre as massas americanas ansiosas por uma vida melhor. Cuba é um símbolo de nova nacionalidade e Fidel Castro, símbolo de liberação”, afirma Che.
VITÓRIA MORAL
- “Qual roupa?”, respondeu Castro, tirando da boca o charuto cubano, para desabotoar a camisa.
- “Todo mundo diz que o senhor tem um colete à prova de balas”, insiste o jornalista.
- “Não”, responde Castro, sorrindo enquanto mostra o peito descoberto. “Vou desembarcar assim em Nova York. Tenho um colete moral, que é mais forte. Esse é o que me protege sempre”.
Fidel Castro acreditava profundamente na dignidade do povo cubano e na moral da Revolução Cubana como fortalezas que impediram os Estados Unidos de lançarem uma guerra contra Cuba.
Em uma entrevista concedida em 1995 à jornalista María Elvira Salazar, do canal estadunidense Telemundo, o líder cubano sintetizou a força em que acreditava. “Meu pior inimigo? Eu acredito que não tenho inimigo pior, porque creio que todos os inimigos podem ser vencidos”.
https://www.brasildefato.com.br/2019/01/01/revolucao-cubana-completa-60-anos-de-construcao-de-um-processo-revolucionario/
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