Quando consideradas todas as faixas etárias, o número de indivíduos com sobrepesochega aos 250 milhões — 60% da população regional.
A obesidade avança “incontrolavelmente” na América Latina e no Caribe, alertou nesta quarta-feira (7) um representante da FAO, Julio Berdegué, durante o lançamento de um panorama nutricional da região. O relatório aponta que a cada ano, 3,6 milhões de pessoas se tornam obesas em países latino-americanos e caribenhos. Problema já afeta um em cada quatro adultos.
Segundo o levantamento, na região, 7,3% de todas as crianças com menos de cinco anos estão com sobrepeso. O índice representa 3,9 milhões de meninos e meninas e está acima da média mundial de 5,6%. Quando consideradas todas as faixas etárias, o número de indivíduos com excesso de peso chega aos 250 milhões — 60% da população regional.
“A situação é chocante “, disse Berdegué em evento em Santiago, no Chile, para divulgar a pesquisa.
Também presente, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne, enfatizou que “embora a desnutrição persista na região, particularmente em populações vulneráveis, devemos considerar a obesidade e o excesso de peso, que também afetam esses grupos”.
“Uma abordagem multissetorial é necessária, uma que garanta o acesso aos alimentos equilibrados e saudáveis, abordando simultaneamente outros factores sociais, que também impactam estas formas de desnutrição, como o acesso à educação, à água, ao saneamento básico e aos serviços de saúde”, completou a especialista.
Fome aumenta pelo 3º ano consecutivo na região
O relatório também avalia a subnutrição na América Latina e Caribe e alerta que a fome aumentou em 2017, afetando 39,3 milhões de pessoas. Contingente equivale a 6,1% de toda a população. O número também representa 400 mil indivíduos a mais na comparação com 2016.
Desde 2014, Argentina, Bolívia e Venezuela registraram aumentos na desnutrição. O avanço mais pronunciado da fome ocorreu na Venezuela — 600 mil pessoas ficaram sem ter o que comer ao longo do período 2014-2017. O país é uma das nações com o índice mais alto de subnutrição da América Latina e Caribe — são 3,7 milhões, ou 11,7% da população, em situação de insegurança alimentar.
No ranking da fome, também figuram o Haiti — 5 milhões de pessoas ou 45,7% da população — e o México — 4,8 milhões ou 3,8% da população. No entanto, nesses dois países, e também na Colômbia e na República Dominicana, a subnutrição diminuiu nos últimos três anos. Essas foram as únicas quatro nações da região que conseguiram reduzir o problema continuamente desde 2014.
Onze países mantêm o número de pessoas subnutridas relativamente inalterado — Chile, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, Jamaica, Nicarágua, Panamá, Paraguai e Peru. Por outro lado, Brasil, Cuba e Uruguai são as três nações da região com porcentagens de fome abaixo de 2,5% de sua população.
Desigualdades sociais e desnutrição infantil
O relatório alerta que as diferentes formas de má nutrição — a fome e o sobrepeso — têm maior impacto sobre as pessoas de baixa renda, mulheres, povos indígenas, afrodescendentes e famílias rurais. Em dez países, por exemplo, crianças entre os 20% mais pobres da população têm três vezes mais chance de desenvolver nanismo do que os meninos e meninas entre os 20% mais ricos.
Uma das principais causas do aumento da desnutrição em grupos populacionais vulneráveis são as transformações que os sistemas alimentares sofreram — o ciclo da alimentação desde a produção até o consumo. Essas mudanças afetaram toda a população, mas principalmente seus membros mais excluídos. Embora muitos cidadãos tenham aumentado o consumo de alimentos saudáveis, como leite e carne, eles também precisam, muitas vezes, optar por produtos baratos, com alto teor de gordura, açúcar e sal.
Em Honduras, por exemplo, a desnutrição infantil afeta 42% das crianças em famílias de baixa renda, mas apenas 8% das pessoas que vivem com renda mais alta.
A subnutrição também é maior entre população indígena. No Equador, em 2012, 42% das crianças de povos originários viviam com desnutrição crônica, em comparação com os 25% em nível nacional. Na Guatemala, o déficit de crescimento afetou 61% das crianças indígenas em 2014-2015, mas apenas 34% das crianças não indígenas.
Crianças em áreas rurais têm indicadores piores do que os jovens em áreas urbanas. Em Belize, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Peru e Suriname, o déficit de crescimento no campo excede em mais de 50% as taxas observadas nas cidades.
“Atrofiar está estreitamente relacionado com desigualdade e pobreza, mas o excesso de peso também está afetando cada vez mais as crianças mais pobres. Elas enfrentam condições de alta vulnerabilidade social e econômica e sofrem com o acesso desigual a serviços de saúde e dietas saudáveis ”, alertou María Cristina Perceval, diretora regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Má nutrição mais alta entre as mulheres
De acordo com o relatório, na América Latina, 19 milhões de mulheres (8,4%) passam fome, em comparação com 15 milhões de homens (6,9%). Em todos os países da região, a taxa de obesidade das mulheres adultas é maior que a dos homens. Em 19 deles, a taxa de obesidade feminina é pelo menos 10% maior que a masculina.
Mas a desigualdade que afeta as mulheres não é apenas um problema de gênero. A anemia entre mulheres em idade fértil, por exemplo, afeta sobretudo as que têm menos recursos financeiros.
“A equidade de gênero é um instrumento político valioso para reduzir as desigualdades. Precisamos fortalecê-la na prática, que envolve a promoção da igualdade no acesso e controle dos recursos domésticos, bem como nas decisões de empoderamento das mulheres em (situação de) desigualdade”, disse Miguel Barreto, diretor regional do Programa Mundial de Alimentos (PMA).
O panorama nutricional da região foi elaborado pela FAO, OPAS, UNICEF e o PMA. Acesse o documento clicando aqui.
http://www.ihu.unisinos.br/584505-na-america-latina-3-6-milhoes-de-pessoas-se-tornam-obesas-a-cada-ano
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