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KARL MARX FAZ SEU RETORNO NOS ESTADOS UNIDOS

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Anne Dujin – Uma parte da juventude americana encontra nas idéias do filósofo alemão ferramentas para entender a sociedade. Investigação sobre o ressurgimento do marxismo na terra do macarthismo.

Karl Marx faria 200 anos em maio. No momento deste bicentenário, aparece todo um conjunto de publicações e eventos sobre a vida e obra do filósofo, agora unanimemente reconhecido como autor central, e sem dúvidas o melhor pensador do capitalismo. Mas, o que dizer do Marx militante, que inspirou as revoluções socialistas do século XX, evocado por Raoul Peck em seu filme O jovem Marx (2017)? Ele ainda tem discípulos, trinta anos depois da queda do leste europeu? A resposta é sim. Mas contra todas as probabilidades, eles têm 20 anos e são… americanos!

CRÍTICA DO CAPITALISMO

A organização Democratic Socialists of America (DSA) [Socialistas Democratas da América] (DSA), que emergiu da divisão do Partido Socialista da América em 1973, cresceu quatro vezes nos últimos dois anos, ultrapassando hoje os 32.000 membros. Considerado até então como representante da ala esquerda do Partido Democrata, mas de fato em uma situação de dependência com relação a ele e, portanto, pouco radical em suas posições, o movimento foi recentemente assumido por jovens militantes ávidos por escrever uma nova página da história da esquerda americana, num tom muito mais crítico do capitalismo do que o de seus predecessores.

Como resultado desse afluxo, a idade média de seus membros passou de 68 em 2013 para 33 atualmente. Enquanto a qualificação “socialista” assustava os mais velhos, que a consideravam inseparável dos regimes totalitários do século XX, uma nova geração não hesita mais em se definir como tal e em reivindicar uma leitura “marxista” dos acontecimentos. Seth Ackerman, editor-chefe da revista de esquerda radical Jacobin, confirma: “Quando eu tinha 20 anos [ele tem 35], declarar-se socialista era sinal de excentricidade. Hoje, é uma qualificação que muitos jovens assumem.”

Num país onde o anticomunismo e o antimarxismo pareciam ser algo dado e natural, como explicar esse entusiasmo? Para Jeffrey Isaac, professor de ciência política na Universidade de Indiana, “esse interesse está obviamente na esteira da grande crise do neoliberalismo em 2008”. A crise financeira de 2008, que, lembremos, fez milhões de americanos perderem suas casas, abriu uma brecha nas consciências. Ela foi seguida pelo movimento Occupy Wall Street e seu slogan “Somos os 99%”, denunciando a concentração de riqueza nas mãos de uma pequena minoria.

UM MOMENTO DE RUPTURA HISTÓRICA

Este ímpeto não teve nenhum efeito político direto, mas muitos consideram que ele abriu o caminho para a campanha de Bernie Sanders para as primárias nas eleições presidenciais de 2016, cujo tom contrastava com o discurso tradicional do Partido Democrata. A vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton concluiu dolorosamente a sequência.

Não apenas faltaram às eleições finais as vozes de uma parte da esquerda, que viu nela a candidata de Wall Street, mas, ainda mais perturbador, 8,5 milhões de pessoas que, em 2012, votaram em Obama, apoiaram Donald Trump quatro anos depois, seduzidas pelas medidas protecionistas de seu programa e sua promessa de recriar empregos americanos. Para toda uma parte da esquerda americana, especialmente os mais jovens, cuja consciência política se formou durante esses anos de crise, provou-se que o devir tem de ser pensado de outra maneira.

Esse fracasso do pensamento de esquerda, suspeito de ter se acomodado ao neoliberalismo e de ter renunciado à luta contra seus efeitos, alimenta a renovação do pensamento progressista. A filósofa Nancy Fraser observa que a crítica da economia política clássica passou a ocupar um lugar inédito: “A partir dos anos 1970, nos Estados Unidos, o pensamento radical e militante se desenvolveu em setores apartados, levados a cabo por grupos com objetivos específicos – feminismo, ecologia, gênero… Hoje, há uma tentativa de convergir essas mobilizações em um contexto mais amplo. E a crítica do neoliberalismo aparece como um denominador comum para esses grupos.” Visando a possibilidade de definir novas estratégias políticas: “Há uma convergência entre uma parte do eleitorado de Trump – se excluirmos o núcleo mais direitista e racista, na minha visão minoritário – e o de Sanders. São as pessoas que rejeitam o status quo neoliberal. Penso que estamos num momento de ruptura histórica”, acrescenta ela.

Tradução: Ana Cotrim

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