Luiz Felipe de Alencastro – A menos de duas semanas do referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) – o chamado “Brexit” – a Europa prende a respiração. Há quantidade de pesquisas diversas que permitem uma análise fina das tendências de voto no referendo nos últimos meses. Mas a complexidade do tema e os desdobramentos de uma eventual saída da UE, se refletem nas sondagens, mantendo as incertezas sobre o voto britânico no dia 23 de junho.
A somatória das opiniões expressas nas sondagens realizadas de 1º de setembro de 2015 até o dia 8 de junho, cuja evolução é regularmente atualizada no site do “Financial Times”, mostra que os eleitores favoráveis ao Brexit só encostaram nos pró-europeus no mês de dezembro e em maio. Do ponto de vista partidário, o eleitorado britânico está dividido, visto que tanto os trabalhistas quanto os conservadores contam com adeptos e adversários do Brexit.
O recorte se dá nas variáveis econômicas, sociais e culturais. No campo dos defensores da saída do Reino Unido estão os eleitores mais velhos, menos favorecidos socialmente, morando no interior, possuindo menor escolaridade e leitores do “Daily Express”, tabloide conservador. O lado pró-europeu conta com os eleitores mais jovens, com melhor inserção profissional, residentes na zona metropolitana de Londres e leitores do “Guardian”, jornal de esquerda. No final das contas, a variável que faz mesmo diferença é demográfica. Os eleitores de 18 a 35 anos são majoritariamente pró-europeus. Aqui se situa o verdadeiro divisor de águas.
Como se pode constatar nos gráficos do “Financial Times” linkados acima, o aumento da porcentagem em favor do Brexit está quase em correlação com a queda do número dos abstencionistas. No entanto, os eleitores da faixa de 18 a 29 anos, terceiros na lista das categorias mais pró-europeias, têm as mais altas taxas de abstencionismo. Em contraste, os eleitores maiores de 50 anos, sobretudo na faixa dos maiores de 60 anos, em maioria pró-Brexit, têm a menor taxa de abstenção. Na medida em que o voto não é obrigatório no Reino Unido, o resultado do referendo e, numa larga medida, os rumos da EU, dependerão da ida ou não dos jovens eleitores às urnas na quinta-feira, dia 23.
Aqui também as sondagens registram outra incerteza, desta vez ligada às mudanças do tempo na Inglaterra. De fato, uma sondagem bem detalhada publicada pelo “Daily Express” cita uma pesquisa mostrando que uma chuva de uma polegada (25, 4 milímetros/hora) – pouco acima da média ocorrida em São Paulo nos últimos dez dias – aumenta em 1% a porcentagem dos abstencionistas. Inversamente, um aumento de temperatura 10°C aumenta de 1% a frequentação das urnas. Segundo os especialistas, esta variação do tempo tem um efeito desproporcionalmente maior entre os eleitores mais jovens. Em outras palavras, se o tempo estiver bom, com sol e tudo no dia 23, os pró-europeus terão mais chance de vencer.
Assustado com as consequências do Brexit no curto prazo, isto é, na sobrevivência de seu governo, David Cameron, primeiro-ministro inglês, declarou que o Brexit “põe uma bomba” debaixo da economia britânica. Nos próximos dias, nos jornais, nas bolsas, nos centros de decisão do mundo inteiro, muita gente seguirá atentamente a caprichosa previsão do tempo na Inglaterra.
http://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/luiz-felipe-alencastro/2016/06/09/a-meteorologia-e-a-saida-do-reino-unido-da-uniao-europeia.htm
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