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Sementes do fascismo em Israel

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LUIZ EÇA – Sob ameaça de um voto de desconfiança, Netanyahu procurou o líder da oposição, Herzog, para entrar no seu governo, trazendo os votos do seu Partido Trabalhista.

As negociações avançaram apesar dos protestos de muitos correligionários, indignados por um apoio do seu partido, socialdemocrata, à coligação direitista no poder.

O líder trabalhista justificou-se dizendo que sua presença no ministério faria o governo pender para uma posição centrista, mais aceitável.

Na hora de bater o martelo, Netanyahu foi para o outro extremo e convidou o ultradireitista Avigdor Lieberman em lugar do centro-esquerdista Herzog.

Com isso, garantiu uma maioria mais confortável no Knesset, passando de 61 a 67 votos num total de 120 parlamentares.

Lieberman fez uma série de exigências. A que produziu maior ruído foi a de tomar o lugar do moderado Yalon no Ministério da Defesa.

Justamente num momento em que o comando das forças de Israel está em conflito com o governo, reclamando contra a política excessivamente violenta na repressão dos ataques contra israelenses, inclusive com execuções extrajudiciais.

A atuação do linha-duríssima Lieberman pode criar mais tensões entre ele e os militares. E piores entre o novo titular da Defesa e os palestinos de Gaza e da Cisjordânia.

O general Arens, que foi ministro do Exterior e ministro da Defesa, escreveu no jornal Haaretz: “a demissão de Yalon (que apoiava os militares) é, provavelmente, um ponto de inflexão na história política de Israel. Um terremoto político está em gestação. Pode levar algum tempo, mas está vindo. Consequências imprevisíveis se afiguram”.

Outra manifestação séria partiu de Ehud Barak, ex-primeiro ministro. Ele declarou ao Canal 10: “o que aconteceu foi uma assunção do poder no governo de Israel por elementos perigosos. Israel está sendo infectada pelas sementes do fascismo”.

Por fim, Ron Daniel, um dos mais aplaudidos comentaristas que apoiam o governo, declarou-se assustado com Lieberman: “eu não posso dizer a meus filhos que fiquem aqui, porque não é um lugar onde seja bom estar”.

Todos estes receios se explicam: Lieberman é um dos mais ardorosos defensores da expansão dos assentamentos. Vê com desconfiança as negociações de paz na Palestina. É duro, para não dizer violento, com os palestinos.

Trocar Herzog e Yalon por Lieberman é uma opção pela guerra.

Pena de morte. Só para palestinos

Antes de tomar posse, Lieberman já começou a mostrar a que veio. Como condição para assumir seu ministério exigiu que a maioria governamental acelerasse a aprovação de lei sobre a pena de morte, já correndo no parlamento. Netanyahu não vacilou em dar seu ok.

Atualmente, já existe essa pena em Israel, que deve ser aplicada em indivíduos culpados de traição ou genocídio. O que nunca aconteceu no país.

A diferença da nova lei é que sua jurisdição passa a ser exclusiva dos tribunais militares.

Surgiram preocupações na base aliada do governo no parlamento. O deputado Kulanu teme que, devido à tradicional severidade dos juízes militares, as execuções virassem rotina.

Os caciques do Likud (partido de Netanyahu) o tranquilizaram. Na prática, somente palestinos estarão sujeitos à pena de morte.

Judeus jamais, mesmo que condenados pela prática dos mesmos crimes sujeitos à punição capital.

Aplicar a nova lei é uma prerrogativa dos tribunais militares, onde apenas palestinos são julgados. Os judeus têm direito a julgamento por tribunais civis, que não podem condenar ninguém à morte.

Trata-se de uma clamorosa discriminação racial, que vai certamente provocar críticas pesadas da opinião pública internacional.

E os problemas vão além de mais essa lei nada compatível com a democracia. Ninguém duvida que os duros juízes militares considerem terrorismo uma forma de traição, tornando seus autores sujeitos à pena capital.

Na Cisjordânia ocupada, os soldados frequentemente detêm palestinos, até mesmo menores de idade, como terroristas. Às vezes por simples suspeita.

Há razões para se recear que a aprovação da lei exigida por Lieberman cause uma verdadeira onda de condenações à morte de palestinos.

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