Internacional

O gênio enganador que ajudou a eleger Donald Trump

Tempo de leitura: 4 min

JOAN FAUS – “Há uma caça às bruxas contra Trump”, diz Roger Stone, veterano assessor em entrevista ao EL PAÍS

Quando tinha oito anos, Roger Stone fez o que chama de seu primeiro truque político. Às vésperas da eleição presidencial de 1960, sua escola fez uma votação fictícia. Ele queria que ganhasse o democrata John F. Kennedy e para convencer os colegas decidiu inventar uma mentira: contar no refeitório que o republicano Richard Nixon queria que as crianças fossem à escola aos sábados. Kennedy venceu confortavelmente.

Esta foi seguida por inúmeros embustes ou falsas verdades que fizeram de Stone o mais provocador e enganador dos assessores políticos conservadores. Trabalhou para quase todos os presidentes republicanos ao longo das últimas quatro décadas. Aos 64 anos, roupas histriônicas e com uma tatuagem do idolatrado Nixon nas costas, é uma figura-chave para entender a política norte-americana. E também o auge de Donald Trump, do qual foi lobista e ideólogo na sombra desde que se conheceram, em 1979. Sem Stone, os lobbiesteriam menos poder e na política haveria menos luta para denegrir o adversário sob a tese de que vale tudo para ganhar uma eleição.

Transita nos limites da moralidade e costuma invadir os bastidores das grandes polêmicas, de Watergate à recontagem dos votos na eleição de 2000, que o democrata Al Gore perdeu. Seu olho para a roupa suja e sua influência são mitificados ou desdenhados, mas sempre se acaba falando dele. Agora, ele está novamente no olho do furacão no caso da suposta conexão russa do estafe de Trump. O FBI está investigando se Stone teve algum papel na interferência de Moscou na campanha das presidenciais de novembro. E no dia 24 de julho prestará depoimento, a portas fechadas, na Comissão de Inteligência da Câmara dos Deputados que analisa a trama russa.

Roger Stone com Ronald Reagan em 1980.Roger Stone com Ronald Reagan em 1980

Ele nega qualquer irregularidade. Rejeita a acusação de que sabia com antecedência do ciberataque contra o Partido Democrata ou da publicação pelo Wikileaks da informação roubada. “Como provavelmente fui espionado de junho a novembro, qualquer pessoa que tenha visto os meus e-mails, mensagens e chamadas sabe que não tive contato com ninguém que representasse os russos”, diz o consultor em uma entrevista por telefone. “Não há nada a investigar.”

Mas suas aparições e mensagens públicas alimentaram a especulação. Antes de o Wikileaks divulgar os e-mails de John Podesta, o chefe de campanha de Hillary Clinton, Stone alardeou que tinha “se comunicado” com Julian Assange, o fundador da organização, e que tinha material sobre a candidata democrata, que seria divulgado antes das eleições. Também antecipou que Podesta teria problemas “em breve”. E depois da piratagem aos democratas, trocou mensagens no Twitter com Guccifer 2.0, um hacker vinculado aos serviços de inteligência russos.

Stone afirma que não falou com Assange, mas com um “amigo comum”, que a referência a Podesta era por um artigo que estava preparando e que o contato com Guccifer 2.0 foi “inócuo”.

Afirma não estar preocupado com a investigação do FBI e explica que ainda não foi interrogado. Diz estar feliz em depor no Congresso, mas lamenta que seja a portas fechadas. E está disposto a conversar com Robert Mueller, o procurador especial que investiga os laços russos de Trump, embora acredite que deveria renunciar por causa de sua proximidade com James Comey, o ex-diretor do FBI que foi demitido pelo republicano em maio.
Como o presidente, ele se sente confortável indo contra a corrente. Nega que a Rússia tenha roubado os e-mails dos democratas ou que o objetivo fosse ajudar o bilionário nova-iorquino a ganhar a eleição. “É um belo conto de fadas, você pode repetir o quanto quiser, mas ainda não há nenhuma prova”, afirma.
17 agências de inteligência norte-americanas acusaram oficialmente Moscou, mas o assessor acredita que essa conclusão responde a uma ofensiva. “O presidente está certo. É uma caça às bruxas feita para desestabilizar e deslegitimar sua presidência”, diz. Stone acusa funcionários próximos de Barack Obama, que integram o “Estado profundo” do “complexo militar industrial”, incomodados com a derrota de Clinton porque “provavelmente prometeu-lhes a expansão da guerra na Síria”.

Stone em sua casa na Flórida, em abril.Stone em sua casa na Flórida, em abril

http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/O-genio-enganador-que-ajudou-a-eleger-Donald-Trump/6/38402

Deixe uma resposta