Economia

Alerta Periferia: Nova Depressão Do Preço Internacional Do Petróleo Pode Provocar Nova Crise Das Commodities

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Fernando Grossmann – Crítica em tempo real. Luz amarela para os preços do mercado internacional de commodities agrícolas e matérias primas. Nesta quarta-feira (21) o preço do petróleo continuou a cair pesadamente no mercado internacional. Isso já está se passando há varias semanas.

No final da quarta feira o preço do barril do West Texas (WTI) tinha caído para US$ 42.48 ou (-) 2.34% sobre o dia anterior. O mais marcante é que mercado de petróleo já entrou no market bear [“mercado urso”, mercado vendedor, mergulho dos preços, etc.].

O market bear acontece, pelas convenções do mercado, quando a queda dos preços de uma commoditie ou de qualquer outro ativo fica abaixo de 20% do último pico. Na quarta feira já tinha caído 25,08% !

Tendência de depressão de preços (e de lucros) no mercado? Se isso for verdade não será só no mercado de petróleo. Nova depressão dos preços dessa commoditie causará efeitos imediatos sobre os mercados e preços de todos das demais commodities: soja, milho, algodão, cobre, minério de ferro, alumínio, etc.

Acontece que, pela boa teoria dos preços internacionais (base Marx e Engels), neste início de século 21 a produção e a oferta de petróleo e demais produtos da matriz energética mundial estabelecem o preço de produção regulador do mercado mundial de commodities agrícolas e minerais.

Em resumo: a evolução dos preços do petróleo determina a evolução dos preços de todas as demais commodities agrícolas e minerais comercializadas no comércio internacional. E, consequentemente, da taxa geral de lucro embutida.

A evolução dos preços internacionais do petróleo é muito mais importante para o futuro das exportações de mineradoras e agronegócio da periferia do que a popular demanda da China por essas commodities.

Mais importante que os determinantes da circulação e realização, o que acontece ou não acontece com os preços de mercado do petróleo atinge diretamente o desempenho do setor primário exportador de economias dominadas como Brasil, Argentina, Venezuela, México, Turquia, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Rússia, etc.

Mas voltemos a turbulenta conjuntura diária do mercado. A queda dos preços de mercado do petróleo continuou mesmo com a divulgação de um relatório da Energy Information Administration informando que os estoques norte-americanos do combustível tinham caído.

O problema é que o mercado não está mais preocupado apenas com as erráticas variações dos estoques armazenados nos EUA e Europa, mas com a ininterrupta elevação da soma da produção de combustíveis fósseis nos EUA. Que já ultrapassou a Arábia Saudita na produção mundial.

Surge então outra particularidade muito importante na atual variação de preços internacionais do petróleo e outros combustíveis fósseis: a atual variação dos preços dessas estratégicas commodities não se deve apenas a fatores próprios da circulação simples – variação de estoques, acordos de mercado, fatores geopolíticos, etc.

Esses fatores exógenos da circulação e de realização das mercadorias afetam unicamente seus preços de mercado. Acontece que a atual variação de preços do petróleo deve-se, mais do que nunca, a modificações estruturais da matriz produtiva mundial do setor de energia. E isso já pode estar afetando seu preço de produção regulador do mercado mundial.

A análise da evolução dos preços fica mais sofisticada. Em Wall Street, grande parte dos homens do mercado começa a considerar em seus cálculos que o brutal progresso técnico ocorrido na produção norte-americana de petróleo, carvão, xisto e gás natural pode ter rebaixado endogenamente o patamar de preço de produção (e de taxa de lucro) do petróleo.

Começa a ser seriamente considerado que a variação dos preços de mercado do petróleo que se observa nas últimas semanas deve-se a esse processo de transformação endógena na produção da mercadoria. Então, se encontraria em curso um “novo normal” de preços na indústria do petróleo. Muito abaixo dos padrões estabelecidos de produção e de concorrência. Sem retorno, portanto.

Esse deslocamento estrutural dos preços de produção e das taxas de lucro fica mais claro observando a evolução nem um pouco errática dos preços de mercado no decorrer do atual ciclo econômico. Vejamos a curva de longo prazo dos preços de mercado do barril do West Texas (WTI)


Fonte: The Wall Street Journal

O preço de mercado do WTI Crude alcançou seu ponto mais elevado (US$ 88,88) no presente período de expansão global em 06 de Janeiro de 2014. Até o terceiro trimestre daquele ano manteve-se acima de US$ 80 por barril. Foi a “era de ouro” para os países dominados da periferia exportadora de matérias primas e gêneros agrícolas. Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foram por breve temporada a grande sensação do mercado mundial.

A partir daí inicia-se três mini ciclos anuais de variação e quedas dos preços do petróleo e, o mais importante, dos preços das demais commodities agrícolas e minerais do comércio internacional.

No primeiro mini ciclo, no decorrer dos anos de 2014 e 2015, observa-se uma abrupta e contínua queda dos preços. Durou até início de 2016. Materializou a chamada “crise das commodities”.

Essa expressão “crise das commodities” foi usada pelos economistas e políticos das economias dominadas dos BRICS. A maioria grandes exportadores de matérias primas e gêneros agrícolas para a China e economias dominantes do centro imperialista. Essa expressão serviu como álibi para justificar a eclosão de crise parcial na maioria desses países periféricos. E enrolar a opinião pública.

O preço do petróleo cravou exatamente US$ 42,95 no dia 02/fevereiro/2016, como marcado em destaque na curva acima. Foi seu ponto mais baixo no atual período de expansão global, iniciado no terceiro trimestre de 2009.

E os BRICS não eram mais a grande sensação do mercado mundial. Voltaram a ser os párias do mercado imperialista mundial. Como sempre foram.

O segundo ciclo de variação dos preços do petróleo (agora de nova recuperação) inicia-se exatamente no mês de fevereiro de 2016, elevando-se até o patamar de US$ 56,90 em 01/Dezembro do ano passado (2016).

Mas durou pouco o que ainda parece ser o “fim da crise das commodities”. Ninguém ainda fala em “nova crise das commodities”. Mas neste ano de 2017 o preço do TWI Crude voltou a cair ininterruptamente. Já caiu, nesta semana, como vimos acima, o preço do barril caiu para US 42,48.

Ora, o preço do TWI cai pela primeira vez abaixo dos US$ 42,95 do dia 02/fevereiro/2016, marcado em destaque na curva acima como o ponto mais baixo no atual período de expansão global, iniciado no terceiro trimestre de 2009.

A Crítica da Economia foi a única a destacar esse mega market bear, aqui medido pela queda abaixo do mais profundo buraco do último período de expansão global. Portanto, um market bear muito mais grave e profundo do que imagina a vã economia política de Wall Street. Essa comparação passou despercebida mesmo pela grande mídia econômica internacional – Bloomberg, The Wall Street Journal, etc. Pelo menos que seja do nosso conhecimento.

No próximo boletim da Crítica Semanal da Economia estaremos apresentando algumas observações e conclusões sobre outras surpreendentes mudanças estruturais que também estão a ocorrer no comércio internacional de commodities agrícolas propriamente dito.

Nota marginal: O importante não é apenas a exclusividade de se observar com rigor os fatos quotidianos da economia. O mais importante é antecipar e oferecer ao conhecimento da classe produtiva e revolucionária as possíveis e impactantes mudanças econômicas, geopolíticas e sociais que se escondem atrás desses simples fatos quotidianos.

Existe um método certeiro para realizar essa façanha de antecipar os novos rumo dos acontecimentos que se descortinam sob nossos olhos. Como estamos a fazer nos últimos trinta anos de Crítica da Economia. Basta, em primeiro lugar, uma sólida base teórica para guiar a investigação. Neste caso da economia política, com o rígido ponto de vista da única classe social produtiva e historicamente revolucionária no atual regime. Em segundo lugar, pouca preguiça e muito trabalho para observar o mais amplamente possível para um simples individuo os dados fenomenais do movimento, tal qual eles se nos apresentam, quer dizer, da maneira mais traiçoeira possível.

Por último, mas nem um milímetro menos importante, armar-se de uma disposição e coragem individual muito grande de pensar por si mesmo e não ter medo de errar na observação e na antecipação do que se esconde detrás desses simples fatos do processo histórico de reprodução material das classes sociais em luta permanente.

http://criticadaeconomia.com.br/alerta-periferia-nova-depressao-do-preco-internacional-do-petroleo-pode-provocar-nova-crise-das-commodities/

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