Laura Carvalho – A divulgação dos números do PIB na quinta-feira passada (1º) apontou um crescimento de 1% da economia brasileira no primeiro trimestre de 2017 em relação ao último trimestre do ano passado.
Após oito trimestres consecutivos de queda, o resultado positivo foi suficiente para lançar o presidente Michel Temer em mais uma incursão ao país das maravilhas.
“Acabou a recessão! Isso é resultado das medidas que estamos tomando. O Brasil voltou a crescer. E com as reformas vai crescer mais ainda”, celebrou Temer nas redes sociais.
A pílula de sobriedade foi ministrada pelo “Financial Times” ao comentar sobre os mesmos dados: “Brasil rasteja da recessão após supersafra de soja”, acalmou o jornal. E o crescimento de 13,4% no setor agropecuário, que explica o resultado agregado positivo do trimestre, dificilmente poderia ser atribuído a medidas tomadas pelo governo. A não ser que o tal grande acordo nacional também tenha envolvido são Pedro e os grandes mercados mundiais.
Os números que expressam a situação da demanda interna do país frustraram todas as projeções.
Após oito trimestres de queda, os economistas esperavam uma retomada do consumo das famílias de 0,4%, mas o IBGE indicou nova retração, de 0,1%. Os investimentos decepcionaram ainda mais: caíram 1,6%, enquanto as projeções giravam em torno de uma redução muito menor —de 0,3%.
Embora o governo tenha seguido à risca o programa econômico desejado pelos analistas do mercado financeiro, a economia real tratou de mostrar que funciona de forma diferente.
Os erros de projeção chegam a ser chocantes: após o afastamento de Dilma Rousseff da Presidência, a média das expectativas de crescimento do PIB de 2017 reunidas no Boletim Focus subiu de 0,24% em abril de 2016 para 1,34% em setembro.
Hoje, gira em torno de 0,5%, e muitos analistas já descartam qualquer crescimento para este ano. Isso com a ajuda de são Pedro e da alta no mercado internacional dos preços das commodities que exportamos durante os primeiros meses do ano.
Os números de abril da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE sinalizam que a situação não melhorou após o fim do primeiro trimestre: houve retração de 4,5% em relação a abril de 2016.
A queda maior se deu nos setores de bens de consumo semi e não duráveis, cuja produção caiu 9,8% -a contração mais acentuada desde maio de 2015-, e de bens de capital, que recuou 5,5% e interrompeu cinco meses de taxas positivas.
Não sabemos ainda o impacto sobre a economia real da incerteza gerada pelas delações da JBS e a perda de governabilidade de Michel Temer. Mas o fato de o presidente tentar segurar-se nos péssimos números da economia para angariar apoio só desnuda o que já sabíamos: que a tragédia é ainda maior em outros âmbitos.
Infelizmente, os setores que apoiaram a derrubada de Dilma Rousseff ainda oscilam entre empurrar o governo com a barriga até 2018 ou substituir Michel Temer por outro Michel Temer.
Dão para a estratégia a mesma justificativa que cansamos de ouvir em 2016: seriam esses os melhores caminhos para a estabilidade econômica e política. Vai ficando cada dia mais difícil convencer alguém disso.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/laura-carvalho/2017/06/1891033-numeros-da-economia-desmentem-temer.shtml?cmpid=compfb
Deixe uma resposta