Clóvis Rossi – O presidente eleito das Filipinas, Rodrigo Duterte, está sendo comparado pela mídia norte-americana a Donald Trump, por ser desbocado, autoritário e politicamente incorreto como o virtual candidato republicano.
É uma injustiça. Por mais que o republicano seja de fato assustador, Duterte é bem pior, é um “Trump com esteroides”, como ironiza o Huffington Post.Para um brasileiro, a comparação mais válida —e ainda mais terrível— é com Jair Bolsonaro, que está com assustadores 8% de intenções de voto na mais recente pesquisa do Datafolha (e, mais assustador ainda, lidera entre os mais ricos).
Bolsonaro, como se viu na votação do impeachment na Câmara dos Deputados, exalta a tortura, ao realçar a tenebrosa figura do coronel Brilhante Ulstra, um dos mais simbólicos torturadores da ditadura.
O filipino Duterte vai além, porque não se limita à retórica: durante seu período como prefeito da cidade de Davao, no sul do país, esquadrões da morte executaram sumariamente algo em torno de mil pessoas —mecanismo com o qual o agora presidente eleito admitiu envolvimento, em entrevista ao vivo na televisão.
Não é por acaso, portanto, que Phelim Kine, subdiretor para a Ásia da respeitada Human Rights Watch, chama Duterte de “prefeito do esquadrão da morte”.
Como presidente, Duterte aumentará o número de executados: durante a campanha, prometeu acabar com a delinquência em seis meses com um plano que custaria a vida a cerca de 100 mil pessoas.
Disse: “Quando for presidente, darei ordens à polícia e ao Exército de buscar essa gente e matar todos”.
É inevitável que tanto a Human Rights Watch como a Anistia Internacional avisem que a tática a ser usada, a julgar pelo que ocorreu em Davao, será a de execuções extrajudiciais ou com grupos paramilitares caçando supostos ou reais criminosos.
É claro que Bolsonaro não pode ser acusado de crimes semelhantes, mas, se exalta a ditadura, concorda com execuções extrajudiciais como aconteceu no período 1964-85, conforme farta documentação disponível.
Há outro paralelo entre os dois: o deputado brasileiro ironizou sua colega Maria do Rosário (PT-RS), dizendo que ela não merecia ser estuprada (foi condenado a uma multa de R$ 10 mil por “danos morais”).
Já Ruterte fez pior. Ao comentar o caso de uma missionária australiana violentada e assassinada depois de um motim em uma prisão em Davao, disse: “Era tão bonita. O prefeito [ele próprio] deveria ter sido o primeiro” [a abusar dela].
Há um terceiro ponto a aproximar o brasileiro e o filipino. Enquanto Bolsonaro exalta a ditadura militar, ativistas de direitos humanos filipinos advertem que o estilo de Duterte é comparável ao do ditador Ferdinand Marcos, que governou entre 1965 e 1986.
Mas “Duterte tem apelo precisamente porque muitos jovens filipinos não se lembram como que era crescer durante o regime autoritário de Ferdinand Marcos”, como escreve a jornalista Karishma Vaswani para a BBC.
O sucesso de Bolsonaro na avenida Paulista sugere que esse raciocínio vale para o Brasil.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2016/05/1770964-a-hora-dos-bolsonaros.shtml
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