Sociedade

O patriarcado e as estruturas históricas de poder que perpetuam a desigualdade

Tempo de leitura: 9 min

ICL – O patriarcado é um sistema de dominação baseado na ideia de que os homens detêm a autoridade moral, privilégio social, controle das propriedades e funções de liderança. No ambiente familiar ou doméstico, o pai ou figura paterna são a autoridade e assumem a responsabilidade total sobre as mulheres e as crianças.

Essa estrutura de poder profundamente enraizada em nossas instituições, costumes, valores e comportamentos se perpetua há séculos. Ele se manifesta de forma invisível, moldando as relações de gênero e reproduzindo desigualdades entre homens e mulheres, limitando o acesso das mulheres ao poder, à autonomia e à liberdade.

O que é patriarcado?

Patriarcado, significado segundo o dicionário:

  1. Dignidade ou jurisdição de patriarca.
  2. Exercício das funções de patriarca.
  3. Diocese dirigida por um patriarca.
  4. Tipo de organização social que se caracteriza pela sucessão patrilinear, pela autoridade paterna e pela subordinação das mulheres e dos filhos.

Ou seja, o patriarcado é um sistema social em que os homens detêm o poder e a autoridade sobre as mulheres e se baseia na ideia da superioridade masculina e da inferioridade feminina. Esse desequilíbrio permite que os homens tenham direito a uma posição dominante na sociedade.

O termo “patriarcado” deriva da palavra grega “pater”, que significa “pai”, e reflete a ideia de que o pai é a figura de autoridade e poder na família e na sociedade.

A diferença entre machismo e patriarcado

Machismo e patriarcado são conceitos relacionados, mas não são sinônimos. Enquanto o machismo é uma manifestação do patriarcado em nível individual, o patriarcado é um sistema social de opressão que sempre necessita do vínculo para existir — seja o pai ou o marido.

O machismo é o conjunto de atitudes e comportamentos que expressam a crença na superioridade masculina e na inferioridade feminina, uma espécie de manifestação do patriarcado no nível individual.

Já o patriarcado é um sistema social que estrutura as relações de poder entre homens e mulheres de forma hierárquica, favorecendo os homens, sejam nas relações familiares ou conjugais. É uma estrutura de dominação que se manifesta em leis, costumes, valores e comportamentos, sempre eliminando direitos e liberdades das mulheres em favor do desejo masculino.

A sociedade patriarcal

Uma sociedade patriarcal é uma sociedade organizada em torno de um sistema de poder masculino. Nessa sociedade, as mulheres estão subordinadas aos homens em todos os aspectos da vida, desde a família até o trabalho, a política e a cultura. Mas é importante lembrar que os homens a quem elas devem responder são pessoas com quem têm vínculos, como familiares ou cônjuges.

Na sociedade patriarcal,  o controle do corpo feminino se dá por meio de diversos mecanismos, incluindo leis, costumes e valores, todos pensados para limitar a autonomia da mulher sobre seu próprio corpo. O patriarcado define como as mulheres devem se vestir, os ideais que devem seguir e quais comportamentos são esperados delas – o que inclui o exercício da sexualidade.

Como um sistema de poder masculino, o patriarcado limita o acesso e a atuação das mulheres em todos os aspectos da vida comum, da política aos ambientes sociais. Isso significa que mulheres vão enfrentar dificuldades para ocupar cargos de liderança, ter acesso a recursos financeiros (como conta em bancos, cartão de créditos e até empréstimos) e participar ativamente das decisões que afetam a sociedade.

É importante lembrar que, no Brasil, por muito tempo o único lugar possível para uma mulher era o ambiente doméstico. Por isso, o acesso a diversos ambientes tidos como naturais para os homens foi conquistado tardia e com muita batalha pelas mulheres.

A disparidade de direitos continua desigual entre os gêneros, se pensarmos que existe um intervalo enorme de tempo entre as conquistas femininas e masculinas. Crédito: Sesc RJ
A disparidade de direitos continua desigual entre os gêneros, se pensarmos que existe um intervalo enorme de tempo entre as conquistas femininas e masculinas. (Imagem: Sesc RJ)

As barreiras invisíveis do patriarcado

Parte da herança dessa superioridade masculina — hipotética, já que não há nenhuma evidência científica de que os gêneros representam diferenças fisiológicas de habilidade ou capacidade —, o patriarcado perpetua estereótipos de gênero.

Segundo esse ideal patriarcal, as mulheres estão sempre associadas à fragilidade, à submissão e aos cuidados domésticos, enquanto os homens são sinônimo de força, autoridade e competitividade. Esses estereótipos limitam as oportunidades e influenciam as relações entre homens e mulheres.

O patriarcado perpetua a violência contra as mulheres em todas as suas formas, implementando uma espécie de cultura da violência contra a mulher. Entre essas violências estão a violência doméstica, a importunação e o assédio sexual, o estupro e o feminicídio. A cultura da violência é uma consequência direta da estrutura de poder masculina tão característica do patriarcado.

Quais as diferenças entre matriarcado e patriarcado?

O matriarcado é um sistema social em que as mulheres detêm o poder e a autoridade sobre os homens (mesmo que seja matriarcado seja um conceito teórico e não exista nenhuma sociedade que seja completamente matriarcal).

A comparação é útil para compreender as dinâmicas de poder que se estabelecem em uma sociedade. A principal diferença entre matriarcado e patriarcado é a estrutura de poder. No patriarcado, os homens detêm o poder, enquanto no matriarcado as mulheres detêm o poder.

O conceito de matriarcado é usado principalmente como um contraponto ao patriarcado, para representar um sistema social hipotético em que as mulheres tenham o poder.

A relação intrínseca e histórica entre patriarcado e religião

O patriarcado tem influenciado profundamente as religiões ao longo da história, e vice-versa, considerando que muitas delas têm uma estrutura hierárquica e patriarcal, com homens ocupando posições de liderança e de autoridade sobre as mulheres.

A interpretação de textos religiosos muitas vezes reforçou (e ainda o faz) os estereótipos de gênero e a subordinação feminina, justificando a discriminação contra as mulheres, a violência doméstica e a limitação dos direitos reprodutivos.

O combate ao patriarcado requer, obrigatoriamente, o debate e a luta por uma religião mais igualitária e justa entre homens e mulheres. É preciso repensar, de forma crítica, a leitura dos textos ecumênicos e os dogmas religiosos para eliminar preconceitos, interpretações tendenciosas e outros vieses que prejudiquem majoritariamente o sexo feminino.

A crise da masculinidade na sociedade moderna

A violência do patriarcado não se restringe às mulheres, mas também se estende negativamente a diversos aspectos da vida dos homens.

Algumas dessas expressões estão relacionadas à forma como os homens demonstram sentimento – ou não o fazem de forma alguma, com receio de que isso os torne “menos masculinos”. Essa barreira limita também as possibilidades de construir relações de igualdade e respeito com as mulheres, e tem levado à uma crise da masculinidade que se manifesta em diversos aspectos:

A pressão por ser “homem de verdade”

A sociedade patriarcal impõe um modelo de masculinidade que já é considerado tóxico, por associar a identidade masculina total e exclusivamente à força, à competitividade, à dominação e à repressão das emoções. Essa pressão para ser “homem com H” impede que homens, crianças ou adultos, possam lidar com seus sentimentos, o que gera sofrimento e ansiedade, levando a comportamentos violentos e autodestrutivos.

A dificuldade de expressar emoções

O modelo patriarcal de masculinidade bloqueia tudo associado ao feminino, incluindo sentimentos como a tristeza, o medo e a vulnerabilidade. Essa repressão emocional afeta a saúde mental dos homens, dificultando o processo de reconhecimento e cura de traumas — começando pela busca por ajuda profissional em situações de sofrimento.

A impossibilidade de construir relações de igualdade

O patriarcado impossibilita a construção de relações de igualdade e respeito entre homens e mulheres, já que os homens são educados e socializados para serem dominantes e subjugarem as mulheres em todas as relações. O resultado, para a sociedade, é um ciclo de desigualdade que se perpetua ao longo das gerações.

A luta contra o patriarcado e por uma sociedade mais igualitária

O combate ao patriarcado é uma luta fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, e começa pela desconstrução desse sistema de opressão masculina.

Construir uma sociedade em que homens e mulheres tenham oportunidades iguais de realização pessoal e social requer, obrigatoriamente, uma educação feminista para desconstruir os estereótipos de gênero e permitir a quebra dos paradigmas machistas e patriarcais tão arraigados nos comportamentos atuais. Crianças e jovens devem ser educados para respeitar a igualdade de gênero e para construir relações de igualdade e respeito mútuo.

A violência contra as mulheres é uma das maiores expressões do patriarcado e seu combate exige a mobilização de toda a sociedade. De um lado, o trabalho inclui garantir que as mulheres tenham acesso à justiça, à proteção e à assistência necessárias. Do outro, é preciso atenção e educação constante para desconstruir preconceitos que atrapalham essa justiça e proteção.

Por isso, é essencial que os homens se engajem na luta contra o patriarcado. Da mesma forma que pessoas brancas fazem parte do combate ao racismo, os homens devem reconhecer seus privilégios e se comprometer a combater a violência de gênero.

Manifestação do Bloco das Mulheres na Luta Contra a Violência do Estado no Dia Internacional da Mulher de 2013, Belo Horizonte. 
Manifestação do Bloco das Mulheres na Luta Contra a Violência do Estado no Dia Internacional da Mulher de 2013, Belo Horizonte

Combater a desigualdade de poder requer tempo, paciência e determinação

O patriarcado é um sistema de opressão que tem moldado a sociedade há séculos e é responsável por inúmeras desigualdades e injustiças que afetam as mulheres e os homens. É fundamental que a sociedade se mobilize para combater o patriarcado, desconstruindo estereótipos, promovendo a igualdade de oportunidades e combatendo a violência de gênero.

A luta contra o patriarcado é uma luta por um futuro em que todos os indivíduos tenham oportunidades iguais de realização pessoal e social, independentemente do gênero, e requer um pacto coletivo para, pouco a pouco, eliminar as pequenas atitudes e manifestações do preconceito.

Fonte da matéria: Patriarcado e as estruturas históricas e desiguais de poder – https://iclnoticias.com.br/atg/patriarcado/

Deixe uma resposta