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Situação de refugiados coloca Grécia em estado de urgência humanitária

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Adéa Guillot – Os primeiros refugiados sírios são deportados para a Turquia, enquanto aumenta o clima de violência nos acampamentos

Eram 12 no total: duas mulheres, quatro crianças e seis homens. Doze refugiados sírios foram enviados, no dia 27 de abril, da ilha grega de Lesbos para a vizinha Turquia. Escoltados por agentes da agência europeia de gestão de fronteiras externas (Frontex), eles tomaram um avião até a cidade de Adana, onde as autoridades turcas montaram um campo de acolhimento para sírios.

Esses 12 sírios, que chegaram à Grécia depois do dia 20 de março, data em que passou a ser aplicado o acordo da União Europeia com a Turquia visando conter o fluxo migratório para a Europa, “se voluntariaram para voltar à Turquia e não pediram asilo na Grécia”, afirma a porta-voz da Frontex, Ewa Moncure.

Esse voo foi algo inédito, e simboliza o objetivo desse famoso acordo entre UE e Turquia de 18 de março, bastante contestado pelas associações de defesa dos direitos humanos, que visa entre outras coisas dissuadir os sírios de tentarem atravessar o mar para chegar à Grécia. Até então os migrantes expulsos eram principalmente afegãos, paquistaneses, bengaleses, iranianos e africanos, que eram levados de barco.

Capacidades saturadas de acolhimento

Assim, 326 pessoas foram mandadas de volta para a Turquia, no início de abril. No dia 26 de abril, 49 migrantes também foram expulsos a partir das ilhas de Kos, Lesbos e Chios para os portos turcos de Gulluk, Dikili e Cesme.

Após essas expulsões, houve tumultos no campo de retenção de Moria, em Lesbos, na terça-feira. Durante várias horas os jovens, retidos há mais de um mês, afastaram a polícia a pedradas, subindo nos tetos dos contêineres. “Foi uma reação a essas expulsões, mas não só”, explica uma fonte policial local. “As condições de acolhimento no acampamento estão piorando. Há gente demais retida há tempo demais, e sem uma perspectiva muito clara do que os aguarda”, afirma esse agente.

De fato, as capacidades de acolhimento das ilhas de Lesbos, Samos e Chios estão saturadas. Em Lesbos, onde há um máximo de 350 vagas, quase 4.300 migrantes estão retidos na ilha. Em Chios, os diferentes abrigos da ilha conseguem acolher até 1.110 pessoas, mas há 2.080 delas distribuídas entre o centro de retenção de Vial e outros mais informais, perto do porto.

“Não podemos organizar transferências para o continente, pois esses migrantes em sua grande maioria estão fadados a serem enviados de volta para a Turquia como parte do acordo de 18 de março, e esse processo é feito saindo das ilhas”, ressalta uma fonte governamental.

Sharkar Habib é paquistanês. Ele chegou no dia 20 de março a Chios e faz parte das centenas de refugiados que fugiram do campo de retenção de Vial, no dia 1º de abril, após episódios de violência entre afegãos e sírios. “Na quarta-feira, após os tumultos em Lesbos, chegaram ônibus para transferir cerca de 200 pessoas para Leros, onde haveria mais vagas, segundo disseram”, explica o jovem. Em Leros, o “hot spot” pode abrigar até 1.000 pessoas, mas está com somente 327. No final, somente cerca de 40 refugiados aceitaram subir no barco para Leros.

Pedidos de asilo

As cerca de 160 pessoas restantes, no entanto, tiveram dificuldades para voltar ao acampamento de Vial e tiveram de permanecer no centro da cidade temporariamente, pois a estrada havia sido bloqueada por habitantes descontentes da ilha. Por muito tempo Chios foi um exemplo. A partir do dia 20 de março, data na qual o acampamento de Vial de repente se tornou um campo de retenção, a situação se tornou tensa e as camadas mais radicais da população se mobilizaram contra a presença de refugiados.

A situação era idêntica em Samos e Lesbos. “Uma coisa é ajudar, por um tempo, refugiados que estão a caminho da Europa; outra é se ver administrando sem recursos extras milhares de pessoas retidas em nossa ilha. Manter a coesão social torna-se extremamente difícil”, lamenta o prefeito de Chios, Manolis Vournous.

Para evitar ou adiar a deportação para a Turquia, os refugiados retidos nos acampamentos têm entrado com pedidos de asilo em massa. “Ainda nos faltam reforços em funcionários especializados para processar esses pedidos, o que faz com que as pessoas permaneçam retidas por tempo demais, levando a tensões entre etnias, entre homens e mulheres, entre jovens e velhos, entre doentes e saudáveis”, reconhece um assistente social em Vial.

A situação humanitária está difícil nas ilhas e dramática no continente, sobretudo no campo de Idomeni, na frontera greco-macedônia, onde continuam se amontoando mais de 10 mil refugiados na lama e embaixo de tendas rasgadas pelo vento. “Estamos à beira de uma catástrofe humanitária. Haverá mortos até o final do verão”, declarou ao “Le Monde” Christian Assaf, depois de passar três dias nos acampamentos gregos entre 18 e 20 de abril.

Presidente e relator da missão parlamentar sobre os fluxos migratórios na Europa, o deputado do departamento de Hérault (Partido Socialista) foi até Idomeni, Nea Kavala e Diavata, no norte do país, antes de visitar os acampamentos de Atenas.

Ele pede para que seja criado um dispositivo legal de entrada na Europa, “porque é absurdo que ela não tenha criado seus próprios comboios humanitários para salvar esas pessoas. E que parem de apresentar contra nós ‘a opinião pública’, pois não acredito realmente que a opinião pública aceitará que um destino de férias que fica a três horas de Paris se torne este verão um cemitério a céu aberto para refugiados”.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2016/05/03/situacao-de-refugiados-coloca-grecia-em-estado-de-urgencia-humanitaria.htm

 

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