Marcelo Hailer – A professora Lola Aronovich atenta para o fato de que o aumento de ataques em instituições de ensino tem relação com a escalada da extrema direita no Brasil.
Na manhã de quarta-feira (5), L.H.L, de 25 anos de idade, entrou em uma creche, em Blumenau (SC), com uma machadinha e atacou nove crianças, quatro morreram. De acordo com informações das autoridades, as crianças assassinadas tinham entre 4 e 7 anos.
O homem se entregou ao Batalhão da Polícia Militar e está detido. Segundo a Polícia Civil, o homem tem passagem por porte de drogas, lesão e dano. Os pais das crianças foram ao local e entraram em desespero ao saber da notícia.
Outras quatro crianças foram hospitalizadas no Hospital Santo Antônio disse que recebeu quatro crianças feridas, sendo dois meninos e duas meninas.
Há menos de dez dias, uma escola sofreu um ataque similar em São Paulo. Uma professora foi assassinada por um adolescente de 15 anos de idade.
Em entrevista à Revista Fórum, a pesquisadora e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lola Aronovich, observa que o aumento do número de ataques às escolas no Brasil tem relação com o avanço da extrema direita e violência no país.
“Segundo os registros, este ataque de hoje foi o décimo em nove meses, então certamente houve um aumento. Tem a ver com a escalada da extrema-direita e da violência no Brasil, mas é importante lembrar que, por mais que praticamente todos os autores sejam de direita, não foi com ela que os massacres começaram”, analisa a professora.
Além disso, Lola Aronovich afirma que tais ataques são incentivados em fóruns online e que “há uma espécie de competição entre eles, para ver quem mata mais, quem chama mais a atenção”. Aronovich também atenta para a questão de gênero nestes ataques às instituições de ensino.
“Em grande parte das vezes o recrutamento se dá através da misoginia. O discurso de ódio às mulheres e demais grupos historicamente oprimidos é um chamariz para jovens de masculinidade frágil e tóxica”, analisa Lola Aronovich.
Fórum – Em sua opinião, por que esses ataques em escolas aumentaram no Brasil nos últimos anos?
Lola Aronovich – Segundo os registros, este ataque de hoje foi o décimo em nove meses, então certamente houve um aumento. Tem a ver com a escalada da extrema-direita e da violência no Brasil, mas é importante lembrar que, por mais que praticamente todos os autores sejam de direita, não foi com ela que os massacres começaram. O discurso de ódio certamente ajuda que eles se intensifiquem. Eu percebi pelas ameaças que recebo que há mais jovens, crianças de 13, 14 anos, que estão sendo recrutadas para esse tipo de violência. Em dezembro de 2020 recebi várias ameaças por telefone de meninos. Isso quer dizer que o ódio está se espalhando e chegando aos mais jovens. Em grupos como Discord massacres em escolas são incentivados. Há uma espécie de competição entre eles para ver quem mata mais, quem chama mais a atenção.
Fórum – Por que o mês de abril é perigoso para tais ataques? Casos como Columbine e Realengo servem de inspiração?
Lola Aronovich – Sim, abril é perigoso. O massacre de Columbine foi cometido no aniversário de Hitler, e isso não foi uma coincidência. Columbine inspirou vários outros massacres, como o de Realengo em 2011, também em abril. Cada novo massacre serve como propaganda de recrutamento, inspira algum jovem que participa de grupos de ódio a se sacrificar pela “causa”. Não há causa alguma, há apenas ódio, principalmente contra mulheres, negros, homossexuais.
Fórum – Quais os caminhos, em sua opinião, para prevenir tais ataques?
Lola Aronovich – É muito difícil. As polícias têm que trabalhar em conjunto e fazer um serviço de inteligência e monitoramento de grupos de ódio. De vez em quando elas conseguem coibir ataques, e isso é louvável e necessário. As plataformas precisam ser responsabilizadas também. Há muito apoio, muita comemoração de massacres. Existem canais no YouTube que festejam abertamente e que rendem homenagens a autores de massacres. Isso ajuda a incentivar novos massacres. E certamente é preciso conversar com os jovens. Os pais não podem se omitir, têm que saber o que os filhos fazem na internet. E as escolas devem abrir espaços para que os jovens possam dialogar. É preciso uma educação que realmente valorize os direitos humanos, uma educação contra o fascismo. Campanhas midiáticas também são bem-vindas.
Fórum – Podemos relacionar tais ataques a um tipo de masculinidade ensejada nos últimos tempos?
Lola Aronovich – Sem dúvida. Como eu sempre digo, a misoginia é a porta de entrada para drogas mais pesadas na internet. Em grande parte das vezes o recrutamento se dá através da misoginia. O discurso de ódio às mulheres e demais grupos historicamente oprimidos é um chamariz para jovens de masculinidade frágil e tóxica.
Fonte da matéria: Jovens com masculinidade frágil são recrutados em grupos online para atacar escolas, diz pesquisadora | Revista Fórum – https://revistaforum.com.br/brasil/sul/2023/4/5/jovens-com-masculinidade-fragil-so-recrutados-em-grupos-online-para-atacar-escolas-diz-pesquisadora-133870.html
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