Anderson Amaral – Estudo revela que interiorização das montadoras diminuiu a relevância do ABC para o setor
O ABC ainda é relevante reduto de montadoras e autopeças de São Paulo, mas o processo de interiorização do setor automotivo fez reduzir a participação da região no valor de transformação industrial (VTI) do segmento no Estado. É o que revela estudo divulgado nesta quinta-feira (13) pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).
Segundo o estudo, a fatia da região no VTI automotivo do Estado caiu de 33,3% em 2003 para 22,9% em 2017. VTI é um indicador semelhante ao valor adicionado, espécie de Produto Interno Bruto (PIB) fabril. Na prática, significa que, de cada R$ 100 em bens produzidos por montadoras e autopeças em 2003, R$ 33,30 tinham como origem os sete municípios. Contudo, 14 anos depois, a contribuição caiu para R$ 22,90.
O estudo, que usa dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela ainda que São Bernardo manteve a hegemonia no setor automotivo paulista, mas viu sua participação cair de 25,9% para 17,1% entre 2003 e 2017. No mesmo intervalo, São Caetano teve sua fatia reduzida de 5,8% para 4,5%.
No sentido contrário, o grupo de cidades formado por Piracicaba (sede da Hyundai desde 2012), Sumaré (Honda, desde 1997) e Indaiatuba (Toyota, desde 1998) ampliou sua participação de 5,5% para 21,1% na mesma comparação.
Paralelamente à perda de VTI, o setor automotivo do ABC também perdeu empregos. Somente nas montadoras, o estudo mostra que, entre 2006 e 2017, foram fechados 12,3 mil postos de trabalho na região. No segmento de autopeças, o total de perdas chegou a 6,5 mil vagas no mesmo período.
HISTÓRIA
Autoras do estudo, as analistas da Fundação Seade Mônica Landi e Margret Althuon destacam que setor automotivo – que começou a se estabelecer no Brasil no início do século 20 – centralizou no ABC a instalação de suas fábricas até meados da década de 1970, em uma estratégia explicada pela proximidade com o Porto de Santos e o mercado consumidor, pela existência de mão de obra qualificada e pelo desenvolvimento de parque produtivo de autopeças na região.
Poucas vezes o predomínio do ABC foi rompido até então, como no movimento de expansão em direção ao Vale do Paraíba feito por General Motors (1959), Ford (1967) e Volkswagen (1973), e na instalação da Fiat em Betim (1976). Não por acaso, o Estado de São Paulo respondia por três a cada quatro carros feitos no Brasil em 1990.
Em um cenário de abertura comercial, incentivos oferecidos por alguns Estados – a chamada “guerra fiscal” – e de busca das montadoras por novos mercados, o setor recebeu novo ciclo de investimentos a partir de meados dos anos 1990, desta vez descentralizado. Entre 1997 e 2007 foram instaladas 11 novas unidades fabris no país, das quais sete no Paraná. Regiões como Nordeste e Centro-Oeste ganharam relevância no setor, enquanto a participação de São Paulo caiu para 42,5% em 2011.
O estudo lembra ainda que, ao longo das décadas de 2000 e de 2010, ocorreu um novo ciclo de investimentos, com destaque para a vinda de marcas asiáticas para o Interior paulista. Tanto no segundo como no terceiro ciclos, outro fator contribuiu para a desconcentração do setor: a escolha, pelas empresas, de locais com mão de obra mais barata e baixa organização sindical, com o objetivo de reduzir custos.
“No primeiro momento, o ABC era uma opção vantajosa, devido à proximidade com o Porto de Santos e com o mercado consumidor. Porém, com o passar do tempo, a região ficou cara, não só em termos de mão de obra, mas também de custos de imóveis e terrenos. Até mesmo sob o ponto de vista logístico, se estabelecer no Interior do Estado tornou-se uma estratégia vantajosa para as empresas”, disse Mônica.
A analista lembra que os dados ainda não consideram o impacto do fechamento da fábrica da Ford em São Bernardo, em 2019, e do encerramento da produção da montadora no país, no início deste ano. Assim, a fatia do ABC no VTI automotivo paulista deve ser ainda menor agora.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Mônica destacou que, neste momento, mais importante do que a continuidade ou não do processo de descentralização é a sobrevivência do setor fabril. “Temos visto empresas deixando o país em vários setores, não só no automotivo. Como falta uma política industrial clara, fica difícil qualquer decisão de investimento. Assim, não se trata mais de descentralização, mas de desindustrialização.”
Fonte da matéria: Em 14 anos, ABC perde um terço de participação no setor automotivo paulista – Diário Regional – https://www.diarioregional.com.br/em-14-anos-regiao-reduz-em-1-3-participacao-no-setor-automotivo-paulista/
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