Bhaskar Sunkara – O texto abaixo é um capítulo do livro O Manifesto Socialista: Em defesa da política radical numa era de extrema desigualdade, de Bhaskar Sunkara, recém-lançado pela Boitempo Editorial, parceira de Outras Palavras.
Em 1976, o primeiro-ministro sueco Olof Palme comentou que havia dois caminhos para os socialistas: “Ou voltar a Stálin e Lênin, ou trilhar o caminho que se junta à tradição da social-democracia”. Sua escolha, enquanto líder do Estado que encarnava o segundo, era evidente. O modelo sueco tinha tanto prestígio que mesmo um gaullista como o presidente francês Georges Pompidou disse que sua sociedade ideal era “A Suécia, com um pouco mais de sol”[1].
Mas, por mais que os caminhos divergentes do socialismo não pudessem parecer mais contrastantes nos dias de Palme, nem sempre foi assim. No rescaldo imediato da Revolução Russa, minorias social-democratas importantes se somaram a dissidências comunistas, mas boa parte dos sociais-democratas rejeitou a insurreição e se acomodou à república democrática como a forma política para suas ambições. Ao mesmo tempo, quase todos esses sociais-democratas ainda eram marxistas em termos de doutrina e compartilhavam um horizonte socialista. Para boa parte deles, isso significava uma economia nacionalizada, na qual um planejamento racional substituía a tirania do mercado. Eles queriam ensejar um sistema que sucedesse ao capitalismo e duvidavam de que as coisas poderiam ser mudadas significativamente ainda no interior do capitalismo.
A social-democracia nunca chegou a atingir os objetivos ambicionados, mas as reformas que ela ensejou se provaram muito mais exitosas do que se esperava. A Suécia na década de 1970 não era simplesmente a sociedade com melhor qualidade de vida da história; também era o país europeu no qual, depois da Segunda Guerra Mundial, os socialistas mais conseguiram sobrepujar o poder do capital. Enquanto os capitalistas se preocupavam com as promessas de enterrar o Ocidente vociferadas a golpes de sapato por Nikita Khruschev, a maior ameaça ao capitalismo de livre mercado não estava na Rússia, mas na Escandinávia, onde a combinação de um Estado de bem-estar social universal, pleno emprego e sindicatos centralizados dava enorme poder aos trabalhadores. Os sindicatos suecos ainda apresentaram em 1976 uma proposta de fundos de participação acionária para os trabalhadores que teriam lentamente socializado empresas privadas. Como os sociais-democratas suecos chegaram a tanto, e por que o experimento deles finalmente caiu por terra, é uma história improvável e instrutiva.
Todavia, para compreender o sucesso da Suécia do pós-guerra, precisamos primeiro entender os fracassos da social-democracia do entreguerras e a lição importante que esses fracassos oferecem a respeito das armadilhas diante das quais os socialistas se deparam quando governam sem um plano para atingir transformações econômicas e políticas.
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Os socialistas europeus foram presenteados com a chance de passar da oposição ao poder mais rapidamente do que muitos imaginaram. Saíram da Primeira Guerra Mundial com bastante legitimidade – em alguns casos, como no da Alemanha, porque as elites estavam desmoralizadas, em outros, devido em parte ao seu apoio pela causa nacional no período da guerra. Como afirmou Karl Kautsky em 1924: “Tínhamos aprendido como ser oposição” antes da guerra. Agora “tratava-se de assumir o governo, e isso no sentido mais amplo; na indústria, nas localidades, no Estado”. Mas seu partido, tal como outros partidos socialistas no período do entreguerras, só chegou a exercer poder em governos minoritários ou de coalizão[2].
Os partidos de esquerda tiveram êxito variado na realização de reformas democráticas. Buscaram remover quaisquer barreiras existentes ao sufrágio universal e democratizar as câmaras altas do Parlamento, mas não chegaram a realizar reformas mais profundas. As monarquias que sobreviveram ao longo da Europa foram privadas de seu poder político. A exemplo de seu antecessor Jean Jaurès, o socialista francês Léon Blum concebia o Estado republicano como uma ferramenta para “definir, proteger e garantir a condição da classe trabalhadora”[3].
O sonho radical – substituir o capitalismo por uma economia socialista operando em prol do bem comum – ainda estava vivo. Logo nos primeiros anos do período do pós-guerra, uma série de ondas grevistas criou um terreno fértil para novas demandas, e, com o advento da Grande Depressão, o colapso capitalista tornava-se uma realidade. Nacionalizar grandes firmas e adotar novas medidas de planejamento seriam um primeiro passo. Mas os sociais-democratas tinham apenas uma vaga ideia do que queriam fazer.
Na prática, com exceção da França, a social-democracia do entreguerras não chegou a nacionalizar nenhuma empresa (isso apesar de os socialistas participarem de oito outros governos da Europa ocidental). Em vez disso, os socialistas formaram comissões para estudar o assunto, havendo-se pela primeira vez com as dificuldades técnicas de se construir uma nova economia política. Essas comissões não deram em muita coisa e, poucos anos depois, o próprio Kautsky se via obrigado a admitir que “a criação de uma organização de cunho socialista não é portanto um processo tão simples quanto pensávamos”[4].
O governo exercido pelo Partido Trabalhista no Reino Unido entre 1929 e 1931 sob a gestão de Ramsay MacDonald foi o exemplo mais extremo dessa nulidade no entreguerras. O Partido Trabalhista já tinha um histórico de ser bem mais moderado que muitos dos partidos da classe trabalhadora na Europa: ele rejeitava o marxismo e desde o início operou no interior de um arcabouço liberal-constitucional. Foi uma organização movida por interesses sindicais e que nunca gozou das mesmas influências radicais que o SPD alemão. Por anos, a Segunda Internacional vinha recusando a admissão do Partido Trabalhista britânico por conta de sua ênfase na colaboração de classe. Depois da Grande Guerra, contudo, o partido deu uma guinada à esquerda: a cláusula IV de sua constituição de 1918 reivindicava “a propriedade comum dos meios de produção, distribuição e troca”.
O segundo ensaio do partido no poder foi em 1929. Na eleição geral de 1923, o Partido Trabalhista havia conquistado um milhão de votos a menos que o Partido Conservador, mas conseguiu formar um governo minoritário com apoio do Partido Liberal. O experimento durou apenas dez meses, e, com menos de um terço do Parlamento, MacDonald não foi capaz de aprovar nada além de reformas menores de educação, moradia e emprego. Um governo minoritário opera sempre com os dias contados, mas o Partido Trabalhista tinha ainda que enfrentar uma campanha anticomunista rasteira patrocinada pelo Partido Conservador, que contestava seus tímidos acenos de abertura diplomática com a jovem União Soviética.
Em 1929, o Partido Trabalhista disputou as eleições defendendo um programa de obras públicas de construção civil e redução da jornada de trabalho para combater o desemprego. O resultado foi a conquista de 136 cadeiras parlamentares, o que, apesar de dar ao partido a maior bancada do Parlamento, não lhe garantia maioria. Mais uma vez, o Partido Trabalhista se viu dependente do apoio do Partido Liberal.
O segundo governo de MacDonald foi formado em junho de 1929, poucos meses antes do início da Grande Depressão. O momento não poderia ter sido pior para a agenda de reformas do partido. Com o aumento dos índices de desemprego, a liderança do partido se agarrou a uma ortodoxia econômica rígida em vez de expandir o programa de obras públicas. Os líderes queriam apaziguar os mercados, e enfrentavam uma perspectiva de inflação e déficit crescentes. Em defesa da austeridade, MacDonald sustentava que a inflação representava uma ameaça mais grave do que o desemprego, e que manter o livre comércio e “o mais estrito zelo” para com a sabedoria econômica vigente permitiria que os desempregados fossem reabsorvidos à indústria com o tempo. Sua tarefa urgente era evitar o naufrágio da democracia “no duro rochedo das finanças”.
MacDonald tinha origem mais humilde do que qualquer primeiro-ministro britânico até hoje, mas bateu de frente com os sindicatos e se via como o representante responsável de uma sociedade inteira, e não apenas de uma classe. Alguns parlamentares do Partido Trabalhista que tinham maior proximidade com os sindicatos chegaram a se opor aos cortes nos benefícios e garantias sociais e de desemprego, defendendo, em vez disso, mais planejamento e investimento por parte do Estado. Apesar de terem projetos políticos muito diferentes dos de MacDonald, boa parte da esquerda extraparlamentar compartilhava da avaliação da liderança do partido de que não era possível fazer muita coisa por meio do governo. “Não importa quão capazes, sinceros e simpáticos possam ser os homens e mulheres do Partido Trabalhista que se colocarem diante da tarefa de administrar o capitalismo, o capitalismo irá fazer que sua administração configure um desastre”, diria um artigo do Socialist Standard, jornal do Partido Socialista da Grã-Bretanha[5].
A gestão MacDonald governou sem tentar apresentar uma alternativa socialista e sem acreditar ter condições de reformar o sistema existente. Na melhor das hipóteses, reassegurou aos trabalhadores que eles não seriam os únicos a ter de fazer sacrifícios em uma era de escassez, mas esse fatalismo se traduziu em um desastre eleitoral nas eleições gerais de 1931.
Quem na época forneceu a melhor receita para se domar o capitalismo foi o economista John Maynard Keynes, um liberal que acreditava que os socialistas eram idiotas bem-intencionados. Os métodos apresentados em sua obra de 1936, Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, uma vez implementados, ajudariam a estimular emprego, garantir investimento produtivo e mitigar crises. Antes da revolução keynesiana, a teoria clássica dominante alegava que as oscilações cíclicas de produção e emprego se ajustariam por conta própria; à medida que a demanda agregada caísse, cairia também a produção e o emprego, junto com os preços e os salários. Com a inflação e os salários mais baixos, os capitalistas seriam estimulados a investir capital de modo a gerar empregos e restaurar o crescimento. Qualquer interferência nesse ciclo só prolongaria a agonia dos trabalhadores. A Grande Depressão, contudo, não estava passando. Os salários estavam baixos, mas o desemprego seguia elevado. Keynes defendeu uma resposta fiscal contracíclica: gastos deficitários, cortes nos tributos e outras medidas para estimular a demanda agregada durante uma recessão, e incrementos tributários e cortes de gastos quando os tempos estiverem melhores.
Durante o governo de MacDonald, no entanto, embora Keynes estivesse na praça, não havia ainda uma alternativa keynesiana desenvolvida. Assim como os trabalhadores de inspiração lassalliana no século XIX se agarraram a uma crença em uma “lei de bronze do salário” que restringia as conquistas sindicais, seria uma batalha fazer que o movimento dos trabalhadores do século XX se desvencilhasse da economia ortodoxa. Dois anos depois de suas considerações empáticas sobre o esforço “sincero” do Partido Trabalhista de MacDonald, o Socialist Standard já avaliava retrospectivamente aquela experiência de governo como prova definitiva de que “não é possível que o Partido Trabalhista ou qualquer partido administre o capitalismo de tal forma que os problemas dos trabalhadores possam ser resolvidos no interior do arcabouço do sistema vigente”[6].
O governo da Frente Popular do líder socialista francês Léon Blum (1936-1937) estava mais determinado a produzir mudanças do que o de MacDonald. Os socialistas franceses haviam perdido boa parte de sua base industrial ao novo movimento comunista, mas ainda eram bastante marxistas. Ao reconstruir a infraestrutura do partido ao longo da década de 1920, Blum se colocou a questão de como e sob quais condições um socialista deveria entrar no governo. Ele estabeleceu uma distinção entre o “exercício do poder” (assumir um cargo político a fim de pavimentar o caminho para o socialismo) e a “conquista do poder” (o efetivo desmantelamento do capitalismo). No final das contas, Blum acabou se contentando com “a ocupação do poder”, para deixá-lo fora do alcance dos fascistas.
Quando o radical Blum, de origem judaica, chegou ao poder em 1936, o político antissemita Xavier Vallat reclamou: “Pela primeira vez esta antiga terra galo-romana será governada por um judeu”. Pouco antes de se tornar primeiro-ministro, Blum foi arrancado de um carro e espancado, quase até a morte, por uma turba de extrema direita. Uma foto dele todo enfaixado e com as feições inchadas estampou a capa da revista Time no dia 9 de março de 1936.
Os reacionários odiavam Blum tanto por ser judeu quanto por ser socialista. Ele poderia ter reclamado dizendo que suas ambições imediatas não eram nada escandalosas. O Partido Comunista Francês apoiou o governo Blum, mas, contra sua vontade e a de sua própria liderança, foi pressionado por Moscou a evitar desempenhar um papel direto no governo.
Sob a influência da estratégia do Terceiro Período do Comintern, do verão de 1928 até um ou dois anos depois da ascensão do nazismo em 1933, os partidos comunistas tinham enxergado os reformistas social-democratas como seus principais inimigos, chegando a ponto de denominá-los “social-fascistas”. Em 1934, contudo, a relação entre socialistas e comunistas na França já havia se tornado mais fraterna.
Em uma drástica inversão de rumo, o Comintern passou a buscar alianças – “frentes populares” – com outros movimentos de esquerda onde fosse possível. A justificativa para a decisão de se afastar do governo de Blum em 1936 não era um purismo esquerdista. Na verdade, Stálin tinha receio de que o envolvimento comunista pudesse afugentar o apoio centrista do Partido Radical à Frente Popular.
A eleição do governo socialista de Blum, no entanto, desencadeou uma enorme onda de ações sindicais. Mais de 2 milhões de trabalhadores participaram de greves, ocupando fábricas e paralisando a produção. Marceau Pivert, líder da esquerda radical do Partido Socialista, proclamou que, nessa nova situação, “tudo é possível”. O setor empresarial apelou a Blum para que restaurasse a ordem. O resultado foi a realização de uma série de reformas, os Acordos de Matignon, que garantiram aos trabalhadores o direito legal à greve, facilitaram a formação de sindicatos e lhes concederam grandes aumentos salariais. Os trabalhadores franceses puderam gozar de um seguro-desemprego e de duas semanas de férias remuneradas. Naquele verão, exaustos mas cheios de alegria, milhões de trabalhadores viajaram para o campo e para o litoral pela primeira vez. A dignidade que essas reformas conferiram ao povo trabalhador era inegável. Embora fossem o produto de uma rebelião das bases, e não do programa de Blum, elas não poderiam ter sido introduzidas se a Frente Popular não estivesse no poder.
As reformas também continham os germes de sua própria dissolução. Os levantes de maio e junho de 1936 deflagraram uma fuga de capitais e uma contraofensiva empresarial em reação às reformas. Com o crescimento da instabilidade política, os setores de classe média da coalizão de Blum abandonaram a luta. O líder já não dispunha do apoio nem da determinação para forçar medidas mais radicais, tampouco para oferecer uma ajuda adequada a seus camaradas socialistas-republicanos que travavam uma guerra civil sangrenta contra os fascistas na Espanha. Blum foi afastado do poder pela última vez em 1938, insistindo que não havia tentado ser mais do que um “leal gestor do capitalismo”[7].
Blum talvez não estivesse dando o devido valor às suas reformas e à sua visão radical. Mas, no final das contas, incapaz de fazer a defesa das suas políticas, a Frente Popular na França acabou não tendo muito mais êxito do que os dois primeiros governos do Partido Trabalhista britânico. Foi só na Suécia que os socialistas do entreguerras foram capazes de realmente fazer frente à ortodoxia fiscal. Os economistas suecos já vinham desenvolvendo ideias econômicas heterodoxas havia bastante tempo, e, a partir da década de 1930, o Partido Social-Democrata Sueco (Sveriges Socialdemokratiska Arbetareparti – SAP) as colocou em prática.
As narrativas sobre a ascensão da social-democracia na Suécia geralmente se concentram nas características excepcionais do país nórdico. É comum evocar sua cultura cívica, um Estado menos repressivo e inclusive sua homogeneidade racial. Contudo, de modo geral, a esquerda sueca enfrentou desafios semelhantes aos de seus pares em outros países, mas conseguiu encontrar formas de superá-los. Uma diferença relevante era que a nação passou pelo processo de industrialização num período relativamente tardio, já no final da década de 1870. Os primeiros sindicatos só foram formados uma década depois, de modo que os defensores do sindicalismo industrial que viriam a compor a Confederação Sueca de Sindicatos em 1898 não tiveram que enfrentar poderosas corporações de ofício mais conservadoras.
Por conta do começo tardio, o sindicalismo sueco acabou se desenvolvendo sob a influência ideológica do socialismo – a formação do SAP se deu junto com a criação da Segunda Internacional em 1889. O exemplo dos movimentos dinamarquês e alemão despertou o interesse dos fundadores do partido pelo socialismo, e a ideologia rapidamente passou a ganhar adesão na Suécia. Os socialistas enfrentavam uma oposição intransigente das elites: um artigo de 1902 do New York Times chegou a descrever as batalhas entre trabalhadores e capitalistas e os pavores de que a “tão temida bandeira vermelha” fosse hasteada numa Suécia que só perdia para a Rússia como “o país mais feudal e oligárquico da Europa”. Na mesma linha, a literatura do SAP chegou a descrever essa Suécia como um enorme “alojamento de trabalho sob administração armada”[8].
A Suécia não garantiu sufrágio universal masculino até o início do século XX, o que significava que, assim como no caso dos bolcheviques, os socialistas suecos foram obrigados a concentrar boa parte de seus esforços iniciais no chão de fábrica e não nos corredores do Parlamento. Na luta política por reformas civis, os socialistas se provaram mais aptos que os liberais do país. Assim como na Alemanha, o poder limitado dos cargos eletivos também acabou reduzindo na prática as potenciais diferenças entre uma direita parlamentar aspirante e forças mais radicais. No entanto, na Suécia, sob a liderança de Hjalmar Branting, os sociais-democratas foram capazes de manter uma posição relativamente estável e realizar um trabalho produtivo de formação de coalizão com forças liberais e agrárias.
Apesar de ter certas inclinações reformistas, o movimento sueco foi construído desde cedo com base em fundamentos ideológicos socialistas: ele defendia políticas que aproximassem trabalhadores artesãos e industriais, e sustentava a importância de lutar pelos mais mal pagos. Os sociais-democratas priorizaram sempre programas universais – com benefícios também para os pobres e os agricultores – e não apenas os interesses mais estreitos dos operários. Em vez de recorrerem a atalhos em seus primeiros anos de oposição, os socialistas suecos começaram a construir uma hegemonia mais durável do que a de outros partidos da Segunda Internacional.
Na década de 1920, as coisas já estavam ocorrendo conforme o previsto: a luta por democracia política tinha sido bastante exitosa e, por conta disso, o partido conseguia resultados eleitorais cada vez melhores. Os primeiros governos minoritários do SAP, contudo, provaram-se incapazes de dar início à segunda fase: a conquista da democracia social. Isso começou a mudar em 1932, quando o partido entrou num período de quase meio século de governo ininterrupto. O SAP tinha feito uma campanha organizada em torno de uma expansão das obras públicas e do aumento das intervenções estatais na economia, e, depois de assumir o poder, começou a implementar algumas das políticas contracíclicas que os socialistas em outros lugares haviam negligenciado.
A grande reviravolta, no entanto, ocorreu mais para o final da década, quando o SAP compôs uma coalizão parlamentar com o Partido Agrário, e a Confederação Sindical Sueca (Landsorganisationen i Sverige – LO) negociou um “Acordo Básico” com a poderosa federação patronal do país, a Svenska Arbetsgivareföreningen (SAF). Reconciliar os interesses da classe trabalhadora com os dos pequenos agricultores significava que, por ora, a nacionalização ficava fora de cogitação. Na mesma linha, o acordo da LO com a SAF reconheceu pela primeira vez o “direito de gerir” dos gestores – de dirigir o processo de trabalho e tomar decisões sobre o quadro de funcionários sem interferência. O planejamento era, assim, redefinido de modo que, aos poucos, a perspectiva de nacionalização estatal dava lugar a um modelo baseado em investimento público e planejamento econômico.
O partido havia passado por uma mudança considerável: da oposição, na qual representava os interesses mais exclusivos dos trabalhadores, para embarcar em um projeto de construir uma “casa do povo” cooperativa para a população como um todo. Reconhecia-se que a prosperidade dependia do crescimento, e que não havia alternativa imediata à iniciativa privada. Nos idos de 1897, em meio a batalhas sindicais acaloradas, os socialistas suecos declararam que seu objetivo oficial seria “a promoção e desenvolvimento da cultura intelectual e material”. A nacionalização, na época, era o meio pressuposto para tanto, mas o objetivo era mais aberto. Diferentemente do Partido Trabalhista de MacDonald, no entanto, eles não capitularam ao mercado tal como este se encontrava, mas fizeram uma tentativa radical de alterar a forma pela qual ele operava[9].
O modelo sueco amadureceu depois da guerra. Durante o período de gestação do programa “pós-guerra” de 1944 do SAP, o ministro das Finanças Ernst Wigforss defendeu que o problema era a concentração de poder econômico, e não necessariamente a propriedade privada em si. Tratava-se de mais um reconhecimento de que a principal questão da Suécia era o subdesenvolvimento, e que era melhor para o movimento operário dividir uma fatia de uma torta crescente com os capitalistas do que tentar capturar a totalidade de uma torta pequena.
No entanto, o SAP não excluía completamente a possibilidade de uma socialização imediata caso esse mercado privado mais domesticado não se mostrasse compatível com os valores e objetivos do partido. Os debates da época revelam um partido que ainda levava a sério seu compromisso com o socialismo. Aliás, alguns socialistas compartilhavam da expectativa do ministro de Assuntos Sociais Gustav Möller de que, com o fim da guerra, poderia haver uma onda de revoluções e um amadurecimento das condições para um programa socialista mais tradicional.
Com a triplicação do voto comunista, a ponto de representar 10% do eleitorado, a esquerda como um todo já compunha maioria absoluta nas eleições de 1944. E mesmo em um período marcado por controles emergenciais de salário, preço e consumo, ainda havia certa mística em torno da ideia da planificação. Apesar das garantias emitidas por Wigforss de que o capital privado seguiria tendo um papel, o programa de 1944 defendia a tomada de indústrias básicas e das finanças pelo governo e previa uma responsabilidade abrangente, do Estado, de dar forma ao investimento e sustentar o pleno emprego. O economista e ministro do Comércio Gunnar Myrdal chegou a falar de uma “época de colheita” para o movimento operário, na qual os trabalhadores colheriam os frutos do desenvolvimento econômico recente. Todavia, a pauta da nacionalização esbarrou em resistência por parte de uma classe capitalista que tinha cacife para ameaçar reter investimento. Esse clima, combinado com o avanço da Guerra Fria, fez que o SAP se conformasse a ponto de abrir mão da aliança com os comunistas em favor de uma nova coalizão com os agraristas[10].
Com a marcha rumo ao socialismo interditada, o partido acabou adotando em 1951 um plano elaborado por uma dupla de economistas da LO, Gösta Rehn e Rudolf Meidner. Ambos compartilhavam da vontade do SAP de promover e influenciar a expansão econômica, mas defendiam que isso fosse feito por meio de negociações trabalhistas centralizadas em vez de por intervenção estatal direta. O ponto de partida para a estratégia Rehn-Meidner era o compromisso de utilizar aquela negociação setorial entre a LO e a SAF para ajudar a equalizar os níveis salariais de todos os trabalhadores. Isso não significava que todo mundo passaria a receber o mesmo, mas que haveria uma redução do abismo salarial entre os trabalhadores mais bem pagos e os da base da pirâmide. O princípio da “remuneração igual para trabalhos iguais” também significava que os salários diferenciados deveriam ser determinados pelo tipo de trabalho realizado, e não pela capacidade de determinado empregador de pagar ou pelo poder do trabalhador em seu chão de fábrica[11].
Havia três motivos por trás dessa política. Primeiro, ela respondia a um compromisso ideológico de igualdade: ainda que os salários não pudessem ser iguais, no mínimo devemos elevar a renda dos mais mal pagos e limitar as vantagens dos mais bem pagos. Segundo, a compressão salarial era politicamente útil: ela reduzia as divisões no interior da classe trabalhadora e promovia solidariedade entre trabalhadores de diferentes setores industriais. Terceiro, essa política desempenhava um papel macroeconômico importante no plano Rehn-Meidner.
As demandas salariais seriam estipuladas de modo que as empresas situadas em determinado patamar de eficiência sobreviveriam, mas as empresas menos eficientes seriam obrigadas a se reestruturar radicalmente, ou então declarar falência. As empresas mais produtivas, contudo, se beneficiariam da restrição salarial de seus trabalhadores e ficariam com um incremento de seus lucros. Esses lucros permitiriam que essas empresas expandissem sua capacidade produtiva, gerando assim mais riqueza. O sistema ajudava a estimular as indústrias capital-intensivas e de salários altos.
Essas negociações se davam diretamente entre trabalho e capital, mas o papel do Estado era crucial: “políticas ativas de mercado de trabalho” ajudavam os trabalhadores anteriormente empregados em empresas menos produtivas a ser reabsorvidos pelos setores da economia que estavam em expansão. A existência de garantias sociais – saúde, educação, creches e assim por diante – significava que havia um setor estatal crescente para ajudar a garantir o pleno emprego. Era um programa de “socialismo funcional”, na medida em que explicitava certas prioridades socialistas, mas não buscava atingi-las via nacionalização, e sim por meio do manejo dos resultados do empreendimento capitalista. Tratava-se de um modelo, no entanto, com o qual os capitalistas só concordariam sob coação. Nas palavras de Meidner, “a gerência prefere negociações descentralizadas” e “a existência de diferenciais salariais como instrumentos de controle gerencial”[12].
Por mais que os capitalistas tenham se beneficiado em muitos aspectos do plano Rehn-Meidner, ele só se realizou porque um poderoso movimento de trabalhadores e um partido social-democrata forçou sua implementação. Ainda assim, era um “socialismo” administrado conjuntamente por uma poderosa federação patronal, que estipulou limites claros a respeito de até onde os direitos de propriedade privada poderiam ser erodidos.
Essa contradição só viria à tona mais tarde. A Suécia gozou de um período de prosperidade no pós-guerra. O país não havia sido devastado pela guerra, e a Europa em fase de reconstrução precisava das matérias-primas que ele exportava. O que era bom para a Volvo aparentemente também o era para a Suécia. Durante o mandato de 23 anos do primeiro ministro Tage Erlander, as empresas tiveram lucros elevados e o espólio desse crescimento foi amplamente compartilhado.
Observadores internacionais como Anthony Crosland extraíram lições profundas do exemplo sueco. O parlamentar do Partido Trabalhista britânico acreditava que o socialismo era compatível com a propriedade privada da indústria. Seu livro de 1956, The Future of Socialism, criticava o foco socialista tradicional nos meios – a preferência pelas nacionalizações, por exemplo – em detrimento do objetivo final da igualdade social. “O pior tipo de confusão”, escreveu, “é a tendência de usar [o socialismo] para descrever não um certo tipo de sociedade, mas determinadas políticas que são, ou que se pensa serem, meios de atingir esse tipo de sociedade.” Foi a obra revisionista mais influente desde o Socialismo evolucionário, de Eduard Bernstein, perfeita para uma era na qual o capitalismo parecia dinâmico e quase não haver limites para reforma no interior dele. As intenções de Crosland eram explícitas. A um amigo, chegou a dizer: “estou trabalhando numa grande revisão do marxismo e por certo devo surgir como o Bernstein moderno”.
Bernstein suspeitava do grau de maleabilidade do capitalismo, mas Crosland tinha provas. Apesar da Depressão e da guerra das décadas de 1930 e 1940, o sistema não tinha colapsado, em vez disso estava se transformando. A qualidade de vida vinha melhorando, e o capital privado estava cada vez mais subordinado tanto ao Estado quanto ao trabalho. Foi o que se viu na Inglaterra de Clement Attlee, e ainda mais na Suécia de Erlander. Taxar o crescimento capitalista e garantir a existência de gastos sociais, em vez de partir para a expropriação total, parecia ser o bastante. Indo mais longe que o próprio Bernstein, Crosland escreveu: “Marx tem pouco ou quase nada a oferecer ao socialista contemporâneo, seja no que tange à política prática, ou no que diz respeito à análise correta de nossa sociedade, ou ainda no tocante às ferramentas conceituais ou arcabouço teórico”. Três anos depois da publicação de The Future of Socialism, até mesmo o venerável Partido Social-Democrata Alemão abandonaria, em seu Programa de Godesberg, o conceito marxista da luta de classes. A reconciliação com o capitalismo que a social-democracia havia muito vinha trilhando na prática agora finalmente recebia sua formulação teórica[13].
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No entanto, quando Olof Palme assumiu como primeiro-ministro da Suécia em 1969, o compromisso de classe que sustentava o sistema já estava começando a se desfazer. O fato de Palme ter ganho proeminência não foi nenhuma surpresa: o que chamou atenção foi ele ter feito isso a partir de uma política da classe trabalhadora. Ele nasceu em uma família luterana aristocrática e passou boa parte de sua infância nas propriedades familiares acompanhado de tutores privados. Seus tios eram direitistas tão hidrófobos que chegaram a lutar na Guerra Civil Finlandesa como voluntários estrangeiros em apoio ao brutal Exército Branco. Um deles, a quem deve o nome, foi morto pelos Vermelhos na Batalha de Tampere em 1918.
Há quem diga que Palme sempre teve certos instintos igualitários. Depois de seu assassinato em 1986, um antigo empregado da família recordou que ele era diferente de seus outros parentes, mesmo aos oito anos de idade, “sempre nos ajudando a tirar a louça e se dirigindo aos empregados em pé de igualdade”. Mas, do que sabemos de seu tempo na escola primária e no Exército, Palme passava longe da política e inclusive demonstrava certas tendências conservadoras. Por mais improvável que possa parecer, foi no período que passou nos Estados Unidos que o socialismo o ganhou[14].
Em 1947, Palme recebeu uma bolsa para estudar por um ano na Kenyon College, uma faculdade de artes liberais em Ohio, nos Estados Unidos. Logo se apaixonou pelo país, que naquele momento esbanjava a confiança do pós-guerra e um vibrante movimento sindical. Na sua época de aluno, Palme estudou com professores progressistas e participou de uma associação socialista. Escreveu sua tese sobre a Trabalhadores Automotivos Unidos (United Auto Workers – UAW), chegando a conduzir uma pesquisa de campo na fábrica de rolamentos perto de Kenyon. Naquele verão, Palme também teve a oportunidade de conversar com o dirigente da UAW Walter Reuther, em Detroit, e se encantou com o que pôde ver do movimento social-democrata americano[15].
Livre pela primeira vez da rigidez dos internatos e da disciplina do serviço militar, Palme rodou os Estados Unidos intercalando caronas e viagens em ônibus interestaduais. Nesse período, foi descobrindo quanto o racismo permeava o tecido social nos Estados Unidos sob o sistema Jim Crow. Ele contou que, certa vez, viajava no fundo de um ônibus sentado ao lado de passageiros negros no Sul do país quando alguns homens brancos lhe pediram para passar para a frente. Ele se recusou e provavelmente só escapou de apanhar porque, como escreveu mais tarde em uma carta para sua família, “devem ter pensado que eu era um estrangeiro maluco”. Quando Palme retornou à Suécia, o jovem que pouco tempo antes pensava que a taxa tributária precisava ser cortada pela metade agora escrevia artigos sobre o Manifesto comunista[16].
O recém-politizado Palme passou a se envolver no SAP e tornou-se diretor da união dos estudantes suecos em 1952. Muitos repararam no seu carisma e na sua inteligência, e ele logo se tornou assistente do primeiro-ministro Erlander. Seu papel na gestão foi tão vital que a mídia por vezes chegava a retratar Erlander como fantoche de Palme. Contudo, o prestígio e a atenção que ele foi ganhando não agradou a certos integrantes de sua família. Sua avó, orgulhosa dos sacrifícios de seus filhos contra os “bárbaros finlandeses”, lamentava que seu querido neto estivesse “a serviço de um partido empenhado em destruir nosso país”[17].
Quando se tornou primeiro-ministro aos 42 anos de idade, Palme esperava conseguir pegar o modelo construído sob Erlander e ampliar seu alcance. Suas ambições ancoravam-se em suas próprias posições políticas, mas também refletiam uma pressão crescente da militância de base da LO e do SAP. O que se verificava era que, em vez de apaziguar as demandas democráticas, o saldo de décadas de Estado de bem-estar social forte foi estimular demandas democráticas ainda mais ambiciosas. No rescaldo de um revés do SAP nas eleições locais, uma convenção de 1967 empenhou o partido numa “ofensiva de política industrial” que remontava ao debate de planejamento econômico da década de 1940. Até então, a social-democracia sueca havia feito pouco planejamento industrial direto, apoiando-se nas demandas dos sindicatos e nas intervenções estatais que visavam moldar as forças do mercado. Mas, agora, o governo criava um banco público de investimentos e ampliava as empresas estatais, bem como os mecanismos para coordená-las. As mudanças não eram necessariamente anticapitalistas: as empresas precisavam de mão de obra e apoio estatal para se ajustar a um mercado mundial em transformação. Mas, embora os capitalistas aceitassem uma política industrial ativa, houve forte resistência ao movimento de ampliar a democracia no local de trabalho[18].
As lideranças da LO precisaram lidar com uma onda de greves “selvagens” feitas à margem da organização sindical e, em consequência, acabaram sendo levadas para mais à esquerda no início da década de 1970. A federação começou a defender a extensão das negociações coletivas de modo a abarcar também questões não econômicas. Os empregadores organizados na SAF rejeitaram qualquer reforma nesse sentido, então o movimento dos trabalhadores (tanto a LO quanto as federações de colarinho branco) recorreu ao trabalho parlamentar dos sociais-democratas para fazer avançar suas demandas. Com o respaldo do Partido Social-Democrata de Palme, os empregadores foram obrigados a negociar com os sindicatos em praticamente toda questão relativa ao local de trabalho. Os termos do Acordo Básico de 1938 foram violados, e quem disparou os primeiros tiros foi o movimento dos trabalhadores.
A mudança mais radical foi o endosso da LO em 1976 a um novo Plano Meidner, que propunha a criação de fundos de participação acionária para empregados (löntagarfonder) que pertenceriam coletivamente aos trabalhadores. As décadas de restrições salariais nas empresas produtivas tinham reduzido as pressões inflacionárias de modo a possibilitar um processo de expansão. Mas essas políticas também produziram “lucros excessivos” – produto de negociações centralizadas, não de fraqueza no chão de fábrica – que nem sempre acabavam sendo investidos de maneira produtiva. Muitos trabalhadores, especialmente aqueles que possuíam qualificações valiosas, sentiam que mereciam mais do que os aumentos salariais que vinham recebendo. Esses sentimentos só se intensificaram quando se percebeu que algumas das maiores empresas suecas estavam embolsando lucros extremamente altos, em larga medida por conta da disposição, por parte do movimento dos trabalhadores, de restringir suas demandas. Um parlamentar comunista, C. H. Hermansson, afirmou que, mesmo depois de quinze anos de governo social-democrata ininterrupto, a maior parte da indústria sueca estava nas mãos de apenas “quinze famílias”. A proposta da LO, que não passou de antemão pelo SAP, abordaria tanto os problemas ideológicos quanto os problemas práticos do controle unilateral dos capitalistas sobre a riqueza socialmente produzida[19].
A ideia de um fundo para empregados já havia sido aventada na Alemanha, na Holanda e na Dinamarca no pós-guerra, mas o plano sueco era mais ambicioso. Um pequeno grupo de trabalho criado em 1973 passou dois anos formulando uma estratégia para manter a política salarial solidária da nação. Acabaram apresentando um relatório que defendia uma forma de participação nos lucros: empresas com mais de cinquenta empregados teriam que reservar 20% de seus lucros anuais para emitir cotas acionárias a um fundo para empregados controlado pelos trabalhadores. A proposta foi recebida em um primeiro momento com indiferença por parte das lideranças da LO, mas logo veio a ser considerada uma possível solução para os problemas que o modelo sueco enfrentava. A resposta da militância sindical de base foi bem mais entusiasmada, particularmente por conta das implicações anticapitalistas do plano. No arco de algumas décadas, havia a perspectiva de os fundos (controlados por trabalhadores por meio de conselhos sindicais) disputarem a propriedade dos meios de produção com o capital privado. Como disse Meidner, em uma entrevista de 1975: “Não podemos transformar a sociedade fundamentalmente sem mudar sua estrutura de propriedade”. Tratava-se de uma rejeição da esquerda ao “socialismo funcional”[20].
Por sua vez, muitos trabalhadores que vinham exercendo poder político indiretamente através do Partido Social-Democrata sentiam que dispunham das habilidades e da experiência necessária para gerir seus próprios locais de trabalho sem fazer concessões ao capital. A resolução foi aprovada na convenção de 1976 e comemorada espontaneamente ao som da “Internacional”.
O Comitê Meidner antecipava uma forte resistência empresarial e reforçou que os patrões não estavam sendo expropriados. Não estariam perdendo nenhuma riqueza existente; só teriam de abrir mão de uma parte de seus futuros lucros. E já que essa parcela de lucro não seria taxada, era o próprio Estado que estaria subsidiando os fundos. O plano podia ainda promover mais restrições salariais e atenuar os atritos entre os trabalhadores e a gerência. No entanto, depois de alguma consideração, os líderes empresariais enxergaram o plano pelo que ele realmente era: uma ameaça à sua existência.
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Enquanto isso, Palme continuava tocando seu projeto mais amplo no curso de seus primeiros sete anos de gestão. Gostava de usar poesia para descrever o que a social-democracia visava realizar, um mundo que reconheça que “o homem, não a Lua, é a medida de tudo. O que estamos construindo juntos é uma cidade aberta, sem muros, com sua luz projetando-se contra a solidão do espaço”.
Para as mulheres suecas em particular, a social-democracia representou um enorme progresso naquele que havia sido considerado o país mais patriarcal da Escandinávia. Historicamente, os socialistas tinham se saído muito melhor na questão da igualdade social do que seus rivais, visto que a maioria concordava com August Bebel de que não poderia haver sociedade justa sem “igualdade entre os sexos”.
Mas, radicais como Alexandra Kollontai e Vladímir Lênin, que reconheciam a “dupla opressão” que as mulheres enfrentavam, tanto do capital quanto do sexismo, avaliavam que havia pouca margem de manobra para reforma no interior dos marcos do capitalismo (no início dos anos 1900, Kollontai chegou a rejeitar o movimento feminista em si como “veneno”). Os socialistas, em geral, eram a favor do sufrágio universal, do pleno emprego e de outros direitos civis, mas eram menos proativos quando se tratava de outras lutas e suspeitavam das causas feministas interclassistas.
O exemplo da Suécia mostrava quanto a opressão sexual podia ser reduzida no interior do capitalismo. Salário-família, licença familiar, creches e mesmo o fornecimento de refeições escolares, tudo isso aliviava o fardo depositado sobre as mulheres. Além dessas medidas, a política de “remuneração igual para trabalhos iguais” e as negociações trabalhistas que favoreciam mais os setores com os menores salários também ajudaram as mulheres. Ainda assim, em 1966, dois terços das mulheres suecas ainda ficavam em casa. Um panfleto popular de 1961 apontava que, naquela época, as mulheres tinham o direito de competir com os homens no mercado de trabalho, mas ainda eram encarregadas dos deveres domésticos, o que na prática inviabilizava fazer qualquer um dos dois plenamente[21].
Em meio ao debate acerca dessa questão, o Estado tomou providências para facilitar a participação feminina na força de trabalho. Foi criado um conselho consultivo sobre igualdade sexual que passou a trabalhar diretamente com o gabinete do primeiro-ministro com o objetivo de elaborar políticas que incentivassem o “livre desenvolvimento” para as mulheres e questionassem os papéis tradicionais de gênero. Palme se comprometeu seriamente com esse esforço, chegando a afirmar, num artigo cuidadosamente escrito intitulado “A emancipação do homem”, que a luta das mulheres por igualdade significava enfrentar a “pressão de tradições milenares”.
As mulheres suecas finalmente conquistaram o direito ao aborto em 1974. Naquele ano, 80% das mulheres no país já se encontravam em empregos remunerados, a taxa mais alta do mundo. Junto com a transformação social e econômica mais ampla em curso, a sociedade sueca havia passado por uma verdadeira reviravolta: o tradicionalismo diminuía, o secularismo crescia e novas formas de liberação sexual floresciam. O que certa vez havia sido uma nação hierárquica, uma cultura ainda saudosa pelas glórias imperiais do passado, podia agora se orgulhar de ser uma democracia comprometida com a igualdade dentro de suas fronteiras e com as lutas anticoloniais no exterior[22].
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Na altura das eleições gerais de 1976, os sociais-democratas já estavam no poder por 44 anos, um período maior do que a idade de boa parte dos suecos. Eles haviam enfrentado um baque em 1973, e na sequência, em 1976, o bloco socialista perdeu maioria. A causa imediata da derrota eleitoral pode ter sido um debate a respeito da energia nuclear. Os sociais-democratas eram a favor, mas o Partido de Centro, que incluíra em seu programa a política verde, era contra.
O desafio mais amplo vinha do dilema estrutural da social-democracia. Por mais criativa que fosse, a social-democracia ainda dependia dos lucros do setor privado e do cálculo, feito pelos empresários, de que manter a paz com um poderoso movimento trabalhista valia a pena. É certo que os patrões puderam aproveitar um período de estabilidade: de 1938 até o início da onda de greves “selvagens” em 1969, a Suécia registrava os índices grevistas mais baixos da Europa. Mas o descontentamento político e o fim do boom econômico do pós-guerra indicavam que a trégua não podia durar para sempre. A esquerda, como vimos, começou a romper com alguns pontos do Acordo Básico de 1938. Em algumas instâncias tratava-se de atos ideológicos, como no caso do questionamento de prerrogativas das gerências e a pressão por democracia industrial. Em outras, como no caso do fundo de participação acionária para empregados, misturavam-se imperativos práticos e ideológicos.
A federação patronal, por sua vez, também se radicalizou. Pela primeira vez em décadas, a SAF lançou uma campanha midiática contra os pilares de sustentação da social-democracia. Atacava o Plano Meidner, retratando-o como uma tentativa da burocracia sindical para concentrar o poder em suas mãos. A militância de base da LO ainda defendia o plano, mas o SAP nunca havia se comprometido para valer com ele. O mesmo pode ser dito dos eleitores de colarinho branco da esquerda. As acusações colaram e, em outubro de 1981, 50 mil pessoas foram às ruas contra o Plano Meidner.
Ao mesmo tempo, os empregadores começaram a resistir a demandas até mesmo moderadas por aumentos salariais. A ameaça de desemprego e inflação crescia em meio a um cenário marcado por desdobramentos como a crise mundial de petróleo de 1973 e mudanças econômicas mais amplas que resultaram na internacionalização da economia sueca. Ainda responsável por absorver as perdas nos postos de emprego do setor privado e manter um amplo conjunto de garantias de bem-estar social, o Estado passou a crescer rapidamente, a ponto de as despesas públicas chegarem a representar quase 70% do PIB.
A social-democracia sempre dependeu da expansão econômica, que acudia tanto a classe trabalhadora quanto o capital. Quando o crescimento começou a minguar e as demandas dos trabalhadores passaram a avançar mais sobre os lucros das empresas, os empresários se rebelaram contra o compromisso de classe.
O neoliberalismo – um conjunto de políticas que visavam usar o poder estatal para restaurar os lucros dos empreendedores através da redução das regulações e do enfrentamento com os sindicatos – foi uma forma de resolver a crise dos anos 1970. Lutar para arrancar do capital o controle dos investimentos era outra. Mas os sociais-democratas não estavam preparados para essa escolha. Pensando terem abolido o ciclo empresarial por meio da intervenção estatal, esqueceram-se de um princípio fundamental do marxismo: as contradições do capitalismo, e sua tendência a produzir crises, não podem ser resolvidas no interior do sistema.
Talvez as coisas tivessem ocorrido de maneira diferente se Palme e seu partido tivessem apoiado o Plano Meidner para valer na década de 1970. No entanto, eles se depararam com outro grande dilema da social-democracia: as lideranças social-democratas precisam ganhar eleições e construir instituições estáveis. Não queriam necessariamente uma mobilização de classe trabalhadora para além das urnas eleitorais. Para poder manter uma estabilidade eleitoral e preservar sua capacidade de mediar capital e trabalho e implementar reformas, os sociais-democratas se esquivaram de soluções de esquerda para a crise. Ao assim proceder, acabaram ironicamente minando sua própria base eleitoral, a verdadeira fonte de seu poder[23].
Apesar do revés do SAP em 1976, o fundamental da social-democracia permaneceu inconteste por mais tempo na Suécia do que em qualquer outro país europeu. Na década de 1980, no entanto, as políticas e práticas de negociação centralizada começaram a ruir, e o Plano Meidner foi sendo diluído e enfraquecido a ponto de tornar-se insignificante. As políticas de pleno emprego foram abandonadas por um governo social-democrata durante a crise financeira de 1990. Embora a Suécia ainda possua indicadores sociais melhores do que os de qualquer outra nação, seu Estado de bem-estar social foi transformado por meio de reformas que privatizaram aspectos-chave da provisão de serviços. O ingresso na União Europeia em 1995 erodiu ainda mais o que restava do modelo sueco.
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Embora outras experiências social-democratas fracassassem, a esquerda não estava em plena retirada em toda parte. Na França, 43 anos depois de Léon Blum ter deixado o poder, o governo socialista de François Mitterrand, nos anos 1980, foi uma tentativa de se contrapor ao declínio da chama. Seu programa foi o mais radical já promovido por um partido no poder em décadas. “Você pode ser um gestor de uma sociedade capitalista ou um fundador de uma sociedade socialista”, diria Mitterrand. “No que depender de nós, queremos ser o segundo.”[24]
Quando Mitterrand assumiu o poder em 1981, com apoio dos comunistas, a França já enfrentava índices crescentes de desemprego e estagnação econômica, e um clima internacional desfavorável para os negócios. Apesar de sua retórica, o programa imediato de Mitterrand era radicalmente keynesiano. Suas “110 proposições para a França” propunham um programa de obras públicas e a construção de habitações populares, creches, pré-escolas e instalações de saúde. As vitórias legislativas iniciais do governo ampliaram os direitos sindicais no chão de fábrica e avançaram medidas de codeterminação. Houve aumento do salário mínimo e das pensões, e a jornada de trabalho foi reduzida a 34 horas semanais. Em 1982, uma lei de nacionalização colocou sob controle estatal 5 grupos industriais, quase 40 bancos, 2 metalúrgicas e boa parte das indústrias armamentistas e aeroespaciais. Essas estatizações, tachadas de bolchevismo na imprensa empresarial, não foram feitas por princípios ideológicos, mas sim para ajudar a manter o emprego e conduzir a reestruturação econômica.
Ainda assim, a resistência no setor empresarial foi sem precedentes e houve uma fuga de capitais, com 5 bilhões de dólares sendo retirados do país. Poucos anos depois de ter anunciado suas credenciais revolucionárias, Mitterrand suplicava às lideranças empresariais francesas: “Essa será uma das formas de acabar com a luta de classes. Queremos desenvolver uma economia mista, não somos revolucionários marxista-leninistas”. Talvez ainda se lembrasse do que havia dito a um de seus assessores poucos meses antes desse episódio: “Na economia, há duas soluções: ou se é leninista, ou não se mudará nada”[25].
O programa de Mitterrand de fato deflagrou uma onda de apoio popular, mas ele foi incapaz de mobilizar essa energia ou de lidar na prática com a resistência patronal. Também contribuíram para sua escolha de recuar, as restrições impostas pelo Sistema Monetário Europeu que vinculavam o franco ao deutschmark, evitando a desvalorização (hoje, a flexibilidade monetária permitida pela eurozona é ainda menor). As bravas “110 proposições” não resistiram à reação das elites domésticas e do mercado internacional. Os socialistas franceses foram forçados a dar um cavalo de pau brusco que implicou não apenas interromper sua marcha para a frente como efetivamente abraçar a política da austeridade.
Olof Palme não chegou a viver para ver um recuo desses em seu país. Mas, alguns anos depois de seu assassinato em 1986, tanto o socialismo de Estado quanto a social-democracia eram amplamente dados por mortos no mundo todo. Os sociais-democratas ainda ocupavam governos em muitos lugares. Desde meados do século, eles haviam aberto mão da ambição de construir uma ordem para além do capitalismo, optando por administrar doses de socialismo no seu interior. Agora terminavam, assim como no período do entreguerras, trilhando o caminho dos governos de Ramsay MacDonald e, no máximo, combinando medidas redistributivas com ortodoxia econômica.
Tony Blair na Inglaterra, Gerhard Schröder na Alemanha e seus correlatos estadunidenses, incluindo Bill Clinton e outros no Conselho de Liderança Democrata (Democratic Leadership Council – DLC), ajudaram a formular o recuo social-democrata em uma nova ideologia. A recém-batizada Terceira Via prometia “oportunidade, não governo”, e “uma política de inclusão”, não um Estado de bem-estar social. Os sociais-democratas, que certa vez haviam defendido uma via intermediária entre o comunismo e o capitalismo, lamentou o líder socialista francês Lionel Jospin, agora propunham um meio-termo entre a social-democracia e o neoliberalismo. Os parâmetros do espectro tinham sido deslocados à direita. Como parte dessa mudança, os partidos trabalhistas históricos foram transformados em partidos social-liberais e passaram a se dirigir mais a profissionais de classe média do que às suas próprias bases, há muito negligenciadas, na classe trabalhadora[26].
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As passagens mais marcantes de The Future of Socialism, de Anthony Crosland, talvez sejam suas demandas por “não apenas maiores índices de exportações e pensões, mas mais cafés a céu aberto, ruas mais vivas e alegres à noite… restaurantes mais limpos e animados, mais cafés na margem de rios, mais parques públicos como o Battersea”. O modelo de Estado de bem-estar social não deveria ser o ponto de chegada das ambições humanas. Mas aqueles que abraçaram o legado moderado de Crosland na tentativa de modernizar seus velhos partidos se provaram mais capazes de realizar seus sonhos de renovação urbana verde do que os de igualdade social.
Isso significa que as décadas de esforço para construir a social-democracia foram em vão? Podemos lembrar a comparação feita por Rosa Luxemburgo entre o reformismo e o “trabalho de Sísifo”, o gigante da mitologia grega fadado a eternamente arrastar uma rocha até o cume de uma montanha apenas para vê-la rolar novamente ladeira abaixo antes de se firmar no topo. Nas sociedades socialistas avançadas, moldadas por sociais-democratas, conquistas-chave da classe trabalhadora se mostraram duradouras e as pessoas ainda gozam de proteção contra as formas mais extremas de pobreza e insegurança. A democracia evita que o capitalismo retorne a seu ponto mais baixo de “guerra contra todos”. Mas, para aqueles que ainda aspiram a uma era de abundância e solidariedade, não basta defender conquistas existentes ou negociar os termos da derrota.
Como veremos, o surgimento do movimento em torno do líder do Partido Trabalhista britânico Jeremy Corbyn e, em menor grau, em torno da figura de Bernie Sanders nos Estados Unidos representa uma surpreendente contestação à Terceira Via. O que torna Corbyn, em particular, tão notável, é que ele não oferece simplesmente um retorno à política do trabalhismo britânico do século XX, mas defende, em vez disso, uma “nova social-democracia da luta de classes”, na qual a convenção do partido, a reunião sindical e o comício eleitoral estão longe de ser os únicos lugares aceitáveis para se fazer política. No entanto, ainda que a abordagem mais combativa de Corbyn e Sanders tenha êxito eleitoral, a nova social-democracia vai se deparar com os mesmos empecilhos estruturais que a anterior, a saber: sua dependência da lucratividade do capital e as tendências inflacionárias que decorrem da existência de locais de trabalho empoderados e políticas de pleno emprego. A resolução dessas questões nos colocará diante de dois possíveis caminhos, embora diferentes daqueles sugeridos por Palme: retornar à ortodoxia econômica ou seguir rumo a uma tradição socialista mais radical, democrática.
Os sujeitos deste e dos três capítulos anteriores foram necessariamente a Europa ocidental e a Rússia, na medida em que o acidente histórico que é o capitalismo, junto com sua contraparte socialista, surgiu primeiro na Europa e só depois se disseminou para o resto do mundo. No entanto, o ímpeto do capital é global, e a resistência que ele enseja também o é. Por isso, agora nos voltamos ao Terceiro Mundo, onde os socialistas estiveram na linha de frente das lutas contra a opressão colonial e em prol do desenvolvimento nacional.
1 Adam Przeworski, Capitalism and Social Democracy (Cambridge, Cambridge University Press, 1985), p. 46; Kjell Östberg, “The Great Reformer”, Jacobin, 10 set. 2015.
2 Karl Kautsky, “Revolution and Counter-Revolution in Germany”, Socialist Review, v. 23, n. 127, abr. 1924.
3 Mitchell Abidor, “Assessing Léon Blum”, Jacobin, 26 set. 2016; disponível em: <https://www.jacobinmag.com/2016/09/leon-blum-popular-front-france-socialists-ps-fascism>.
4 Karl Kautsky, The Labour Revolution (Londres, Ruskin House, 1924), p. 163.
5 Chris Wrigley, “The Fall of the Second MacDonald Government, 1931”, em Timothy Heppell e Kevin Theakston (orgs.), How Labour Governments Fall: From Ramsay MacDonald to Gordon Brown(Londres, Palgrave Macmillan, 2013), p. 54.
6 “The Great Fiasco: Contemptible ‘Labour’ Government”, Socialist Standard, n. 325, set. 1931.
7 Donald Sassoon, One Hundred Years of Socialism: The West European Left in the Twentieth Century(Nova York, New Press, 1996), p. 55.
8 Pelle Neroth, The Life and Death of Olof Palme: A Biography (publicação independente, 2017), p. 19.
9 Tim Tilton, The Political Theory of Swedish Social Democracy: Through the Welfare State to Socialism (Oxford, Oxford University Press, 1992), p. 31.
10 Ibidem, p. 194; David Zachariah e Petter Nilsson, “Waiting in the Wings”, em Catarina Principe e Bhaskar Sunkara (orgs.), Europe in Revolt (Londres, Haymarket, 2016).
11 Ver Jonas Pontusson, The Limits of Social Democracy: Investment Politics in Sweden (Ithaca, NY, Cornell University Press, 1992).
12 Rudolf Meidner, “Why Did the Swedish Model Fail?”, Socialist Register, 1993, p. 222.
13 Anthony Crosland, The Future of Socialism (Nova York, Macmillan, 1957), p. 20.
14 Pelle Neroth, The Life and Death of Olof Palme, cit., p. 17.
15 Ibidem, p. 35.
16 Ibidem, p. 40.
17 Ibidem, p. 42.
18 Jonas Pontusson, “Radicalization and Retreat in Swedish Social Democracy”, New Left Review, v. 165, set./out. 1987, p. 11.
19 Peter Gowan e Mio Tastas Viktorsson, “Revisiting the Meidner Plan”, Jacobin, 22 ago. 2017; dispo-nível em: <jacobinmag.com/2017/08/sweden-social-democracy-meidner-plan-capital>.
20 Rudolf Meidner, “Why Did the Swedish Model Fail?”, Socialist Register, 1993, p. 224; Jonas Pontus-son, “Radicalization and Retreat in Swedish Social Democracy”, New Left Review, v. 165, set./out. 1987, p. 14.
21 Eva Mobert, Kvinnor och människor [Mulheres e pessoas] (Estocolmo, Bonnier, 1962).
22 Joyce Gelb, “Sweden: Feminism without Feminists?”, em Feminism and Politics: A Comparative Per-spective, cap. 5 (Berkeley, University of California Press, 1989).
23 Adam Przeworski, “Social Democracy as a Historical Phenomenon”, New Left Review, v.1, n. 122, jul./ago. 1980.
24 Jonah Birch, “The Many Lives of François Mitterrand”, Jacobin, 19 ago. 2015; disponível em: <https://www.jacobinmag.com/2015/08/francois-mitterrand-socialist-party-common-program-communist-pcf-1981-elections-austerity/>.
25 Idem.
26 Curtis Atkins, “The Third Way International”, Jacobin, inverno 2016.
Fonte da matéria: https://outraspalavras.net/estadoemdisputa/pos-capitalismo-o-intrigante-aporte-sueco/
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