Mário Magalhães – A pesquisa Datafolha da primeira quinzena de abril, mostrando o deputado Jair Bolsonaro com até 8% de intenção de votos para o Planalto, surpreendeu muita gente. Sobretudo pelo desempenho entre os eleitores com renda superior a dez salários mínimos, segmento em que o ex-capitão do Exército receberia um em cada quatro sufrágios.
O apelo de Bolsonaro aumenta em cenário de radicalização. Na campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff, os aspirantes a presidente Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra não ganharam popularidade. Quem cresceu foi a extrema-direita, com um partidário da tortura e de golpes de Estado. Os tucanos chocaram o ovo.
Não é inédito, muito pelo contrário, o fenômeno de parcelas da classe média aderirem ou flertarem com o fascismo. É novidade no Brasil do século 21, quando a direita saiu do armário onde havia se trancado desde a agonia da ditadura que vigorou de 1964 a 1985.
Até que novo retrato eventualmente venha a provar o oposto, é falsa a ideia de que a direita mais radical domina o ambiente político. Seus simpatizantes fazem barulho, mas são minoritários.
Os 8% de Bolsonaro não são originais na trajetória do fascismo tupiniquim. Em outubro de 1955, Plínio Salgado colheu 8,3% dos votos válidos para a Presidência da República (ou 7,9% do total).
Concorrendo pelo seu Partido de Representação Popular, Plínio era ex-integralista. Vestia uma roupa mais civilizada, porém sem renegar a camisa verde de outrora.
Na década de 1930, sob o comando de Plínio, a Ação Integralista Brasileira arrastara centenas de milhares de pessoas às ruas em torno de sua agenda aparentada com a do nazismo alemão e do fascismo italiano.
Entre muitas semelhanças, a do antissemitismo era uma das mais eloquentes. Assim Plínio Salgado comentou em jornal integralista um confronto armado com organizações de esquerda em 1934: “Declarei solenemente a guerra contra o judaísmo organizado. É o judeu o autor de tudo. (…) Fomos agora atacados, dentro de São Paulo, por uma horda de assassinos, manobrados por intelectuais covardes e judeus. Lituanos, polacos, russos, todos semitas, estão contra nós”.
Nunca renegou pensamentos como esse.
Seus 8,3%, obtidos numa campanha que reuniu numerosos veteranos do integralismo, foram decisivos para a eleição, em que inexistia segundo turno. Juscelino Kubitschek, de centro, venceu com 35,7%. Juarez Távora, de direita, alcançou 30,3%. Se a direita extremada que se mobilizou em torno de Plínio tivesse apoiado Juarez, é provável que a história tivesse sido outra.
Os 8% pró-Bolsonaro, mais abertamente fascista que o Plínio Salgado de 1955, representam uma força considerável. Não devem ser ignorados.
Mas tal ameaça à democracia já ocorreu no Brasil, sem prosperar, pelo menos nas urnas _Plínio Salgado (1895-1975) foi grande incentivador da ditadura imposta pelos tanques em 1964.
http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2016/04/26/votacao-de-bolsonaro-hoje-seria-igual-a-do-fascista-plinio-salgado-em-1955/
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