Michelle Meneses – “Ainda Estou Aqui” o filme brasileiro que está encantando e comovendo plateias em todo o mundo acaba de ser indicado ao Oscar 2025 nas categorias: Melhor Atriz, Melhor Filme e Melhor Filme Estrangeiro.
“Isso é uma prova que a arte pode durar pela vida, até durante momentos difíceis.” (Fernanda Torres ao vencer o Globo de Ouro 2025)
“Estou feliz de ter acontecido comigo já perto dos 60 anos, porque tem que ter maturidade.” (Fernanda Torres ao receber a indicação do Oscar de Melhor Atriz 2025)
Esse é um feito histórico para o Cinema Nacional!
Essas indicações representam a vitória do cinema brasileiro que mesmo sendo duramente atacado e desvalorizado durante o Governo Bolsonaro conseguiu renascer com toda força e reconhecimento internacional!
O sensacional e necessário filme “Ainda Estou Aqui” nos leva a revisitar o passado, analisar o presente e refletir sobre o futuro do Brasil e do mundo.
O longa-metragem além de reacender a luta contra a ditadura e reforçar a importância de se viver em uma democracia; furou a bolha da polarização política e atingiu em cheio um público ávido por conhecer a história da ditadura militar brasileira.
Como uma família feliz, unida e amorosa poderia ser atingida pelos horrores da tortura e morte nos porões da ditadura militar?
É o que se perguntaram os mais de três milhões de espectadores que já assistiram a essa obra-prima do audiovisual brasileiro.
Sou uma cinéfila apaixonada por filmes baseados em fatos reais ; já fui três vezes ao cinema assistir ” Ainda Estou Aqui ” e nunca deixo de me emocionar diante dessa história tão impactante e comovente!
O filme dirigido pelo premiado diretor Walter Salles, consegue apresentar todas as nuances e camadas felizes, iluminadas, sombrias e doloridas vividas pela família do ex deputado federal Rubens Paiva, e especialmente da força motriz e resiliente da sua esposa Eunice Paiva.
“Ainda Estou Aqui” estrelado por Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro é uma obra potente e emocionante, baseada no aclamado livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva filho de Rubens Paiva; seu pai foi acusado pelos militares de colaborar com os ‘comunistas’ e ‘subversivos’ em 1971, quando foi levado de sua casa para um quartel do exército, onde foi torturado e morto!
Eunice Paiva esposa de Rubens, mãe de 5 filhos e dona de casa, teve sua vida tranquila e feliz virada do avesso ao ter que enfrentar o brutal desaparecimento do marido.
O filme foca na superação dessa mulher que soube seguir em frente sem transformar sua história em um drama sem fim; lutando bravamente pelo paradeiro do marido, o resgate de sua memória e a reparação para uma vítima do terror do regime militar.
Eunice se formou em Direito aos 48 anos de idade e dedicou sua vida profissional na defesa dos direitos dos povos indígenas e dos direitos humanos.
Segundo seu filho Marcelo Rubens Paiva para sua mãe Eunice, “a luta pelos direitos dos povos indígenas era a mesma do que a encarnada na questão dos desaparecidos políticos, torturados e mortos pela ditadura”. “Se não conseguiu salvar o marido e tantos outros, tentaria salvar os índios, numa ditadura enfraquecida, com uma sociedade civil mais organizada e a imprensa livre”.
Prêmios, Críticas e o Impacto Político
A atriz Fernanda Torres com sua impecável atuação, acaba de ganhar um importante prêmio do cinema mundial, o Globo de Ouro como Melhor Atriz de Drama. Sua interpretação de uma mulher contida, resiliente, determinada e mãe dedicada é tocante, visceral e emocionante!
Para a crítica de cinema do prestigiado jornal New York Times “Ainda estou aqui” é uma obra “habilmente trabalhada e ricamente filmada”. A publicação destaca o trabalho de Fernanda Torres no longa.
“Em sua performance — que ganhou um Globo de Ouro e está mirando uma indicação ao Oscar — Torres atordoa. Proteger seus filhos significa se inclinar para a alegria dentro do medo, para a esperança em meio à dor. Torres entrega em sua atuação todas essas camadas de emoções, e seus olhos à procura são magnéticos”.
O filme foi lançado nos cinemas brasileiros em 7 de novembro de 2024 ao mesmo tempo em que foi desvendada a ativa participação de militares de alta patente e do então Presidente Jair Bolsonaro na trama golpista que pretendia instaurar uma Ditadura no país.
Isso é o que podemos chamar de ‘ timing perfeito ‘ para atiçar a memória histórica do povo brasileiro em buscar respostas para uma época tão violenta e sombria da nossa história.
Ao nos depararmos com os horrores produzidos pela Ditadura Militar, vislumbramos o que poderia ter acontecido na história política brasileira se a tentativa de golpe perpetrada por Bolsonaro e seus cúmplices fardados tivesse logrado êxito naquele violento 8 de janeiro de 2023.
“Ainda Estou Aqui ” mais do que um comovente filme sobre uma história real, é também um alerta para a sociedade civil brasileira que a sombra do passado de conspiração de militares ainda ronda nosso país.
Revisitar a história da Ditadura Militar brasileira e seus horrores é um soco de realidade que nos mostra o quão violento é um regime autoritário que suprime os direitos humanos, tortura e mata seus oponentes, sejam eles cidadãos comuns ou representantes políticos.
A Ameaça do Autoritarismo no Mundo
Hoje assistimos estarrecidos ao avanço da extrema direita Fascista forjada numa ideologia autoritária, xenofóbica, racista, nacionalista, hostil e cruel. E com o projeto de poder de megalomaníacos bilionários detentores de informações valiosas que podem levar a humanidade ao caos social e político sem precedentes na história mundial.
O mundo está em um ponto de inflexão ao ter que lidar com governantes tiranos que desprezam o convívio democrático e bilionários gananciosos que visam a satisfação de seus próprios interesses e a dominação do mundo!
Como podemos lidar com essa nova realidade que se aproxima para toda humanidade?
Ainda não sabemos, mas a poderosa mensagem do filme ” Ainda Estou Aqui” é que mesmo diante das atrocidades promovidas por tiranos, apesar da dor e da perda, podemos encontrar forças para seguir em frente para lutar por nossos direitos e por um mundo mais justo e democrático.
É por causa de Rubens, Eunice, Herzog, Stuart…dentre tantos outros que sofreram os horrores da Ditadura Militar é que ‘Ainda Estamos Aqui’.
Apesar de tudo, ‘Nós vamos continuar a sorrir. Sorriam!
Viva o Cinema Brasileiro! Viva a Democracia!
MICHELLE MENESES – Advogada, Cientista Política, Escritora, Mãe de 4 filhos e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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