Tatiane Correia – Se antes o mercado aberto era considerado a cura para todos os problemas, agora ele é considerado a principal causa deles.
O neoliberalismo foi a principal doutrina econômica seguida pelo governo norte-americano ao longo dos últimos 40 anos, mas agora o termo é apontado como grande culpado pelos diversos problemas econômicos, de falências de bancos a desigualdade de renda e o populismo demagógico.
Em artigo publicado na edição online da revista The New Yorker, o escritor Louis Menand afirma que o que coloca o neoliberalismo como algo ‘novo’ é, na verdade, o que existe de mais ultrapasso dentro dele.
Como lembra Menand, os liberais nos anos 1930 não se opunham ao capitalismo e à iniciativa privada, acreditavam no uso do governo para regular os negócios e fornecer bens públicos e que a negociação coletiva garantiria que os trabalhadores pudessem comprar os bens que a economia estava produzindo.
Segundo o autor, os liberais do início do século passado pensavam que programas governamentais e sindicatos atuantes poderiam fazer das economias capitalistas mais produtivas e equitativas – em linhas gerais, é o que se considera atualmente um pensamento progressista (ou comunista para quem é de direita).
Neoliberalismo e os EUA
Dentro do contexto norte-americano, Menand diz que o neoliberalismo pode ser interpretado como uma reação ao liberalismo visto no começo do século, com o Estado exercendo um papel menor na gestão econômica e a clara oposição a obstáculos na troca de bens e mão-de-obra.
“Seu liberalismo é, às vezes conscientemente, um retrocesso ao ‘liberalismo clássico’ que eles associam a Adam Smith e John Stuart Mill: capitalismo laissez-faire e liberdades individuais. Daí o retroliberalismo”, aponta o autor.
O estratagema neoliberal foi atribuído a diversos tipos de políticos, de libertários até os novos democratas – contudo, a maior parte dos tipos de neoliberalismo se resume ao termo “mercados” como aqueles que buscam soluções em detrimento dos planejadores e formuladores de políticas.
Embora a literatura acadêmica a respeito do neoliberalismo fique concentrada na genealogia intelectual do pensamento neoliberal e em sua respectiva história política, um terceiro livro – “The Big Myth: How American Business Taught Us to Loathe Government and Love the Free Market”, de Naomi Oreskes e Erik M. Conway’s, coloca uma nova camada sobre o neoliberalismo, como o triunfo décadas de lobby pró-negócios.
Lobby, economia e política
A mensagem do lobby pró-negócios tem como foco a indivisibilidade das liberdades econômicas e políticas, e qualquer tipo de restrição acaba por comprometer o outro, um plano que tem um propósito político muito claro.
“Eles (os autores) acham que um dos papéis do governo tem sido corrigir as falhas do mercado e, se o governo estiver desacreditado, como ele vai corrigir o que pode ser a maior falha de mercado de todas: a mudança climática?”, questiona o articulista.
Uma ideia citada pelos autores foi o enfrentamento da pandemia de covid-19n nos Estados Unidos, onde milhões não acreditavam nas informações vindas do poder público e consideravam medidas como distanciamento social, máscaras e vacina como invasões de sua liberdade.
Em comparação com a resposta de outros países, 40% das mortes de covid-19 nos Estados Unidos poderia ter sido evitada se os cidadãos confiassem na ciência, no governo e uns nos outros, mas que isso não aconteceu por conta dos sucessivos ataques à ciência e mensagens antigovernamentais – algo bem parecido quando o debate chega nas mudanças climáticas.
Fonte da matéria: The New Yorker e a análise do neoliberalismo nos EUA – https://jornalggn.com.br/economia/the-new-yorker-e-a-analise-do-neoliberalismo-nos-eua/
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