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Guerra da Ucrânia: um ano de tragédia

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Virgílio Arraes – A Rússia com­pleta um ano de con­fron­tação com a Ucrânia. À pro­porção que o tempo passa, a pressão sobre Moscou se am­plia porque o apoio re­gi­onal a Kiev tende a alargar, em face dos in­for­tú­nios de­sen­ca­de­ados nos dois países por conta do nú­mero es­ti­mado de mortes e de fe­ridos, mal­grado im­pre­ciso, e da de­vas­tação da in­fra­es­tru­tura; se in­ter­rom­pida está em breve, a nação ainda assim le­vará anos para re­cu­perá-la.

A tra­gédia em an­da­mento con­tinua a ir­ra­diar-se, ao pro­vocar so­fri­mentos como mi­gração e ca­restia. Apesar da aflição das duas po­pu­la­ções, em es­pe­cial a da ucra­niana, as ne­go­ci­a­ções de paz em­perram-se quer bi­la­teral, quer mul­ti­la­te­ral­mente. O en­cer­ra­mento do in­verno traz con­sigo pers­pec­tiva de in­ten­si­fi­cação das in­ves­tidas russas, não de seu ar­re­fe­ci­mento como o es­ta­be­le­ci­mento de aguar­dado cessar-fogo.

No en­tanto, com o de­sen­rolar do con­flito, a am­bição mos­co­vita re­duziu-se bas­tante, ao já não co­gitar a subs­ti­tuição ime­diata de go­ver­nante do vi­zinho, ao passo que a ki­e­vita au­mentou, ao de­sejar re­tomar não só os ter­ri­tó­rios atuais in­va­didos como Do­netsk e Lu­gansk, mas a Cri­meia também, per­dida em 2014.

De todas as na­ções oriundas da de­te­ri­o­ração da União So­vié­tica (URSS) no final da dé­cada de oi­tenta e início da de no­venta, a Ucrânia é o sím­bolo de maior re­pre­sen­ta­ti­vi­dade da der­rota da Rússia em si, ao ir além da ide­o­logia de­fe­nes­trada – o co­mu­nismo ou o so­ci­a­lismo real – por sig­ni­ficar a in­de­se­jada par­tição do mais vasto im­pério do mundo, for­mado du­rante ge­ra­ções e con­ser­vado in­di­fe­rente do re­gime ado­tado – mo­nar­quia ou re­pú­blica.

A in­ter­rupção da frag­men­tação ter­ri­to­rial pelo go­verno de Vla­dimir Putin há um quarto de sé­culo não trouxe se­re­ni­dade à elite mos­co­vita, ciosa da ne­ces­si­dade a seus olhos de re­versão do pro­cesso des­do­brado na ad­mi­nis­tração de Boris Yeltsin.

Por­tanto, a joia pre­ciosa se lo­ca­liza na fron­teira pró­xima, tanto pela ri­queza ma­te­rial da atu­a­li­dade – terras fér­teis e parque in­dus­trial – como pela ex­pressão me­ta­fó­rica – con­fi­gu­ração da nação russa com a con­quista de Kiev e cer­ca­nias por es­can­di­navos no final do sé­culo nono e es­tru­tu­rados como a di­nastia ru­rí­quida, cuja ex­tensão se es­ten­deria até o al­vo­recer do 1.600 com Ba­sílio IV.

A ane­xação de im­por­tante par­cela do país e a subs­ti­tuição do man­da­tário cor­rente, Vo­lodymir Ze­lensky, por um iden­ti­fi­cado com as di­re­trizes do Kremlin, como na Be­larus, seria o re­vi­go­ra­mento da gestão de­pois de quase 25 anos de du­ração com inequí­voca de­mons­tração de efi­ci­ência ao pla­neta do po­derio das forças ar­madas, dis­tintas das norte-ame­ri­canas após o ma­logro em solo afegão e ira­quiano por cerca de dois de­cê­nios, e de co­or­de­nação po­lí­tica in­terna.

Pelas tra­lhas e pelas ma­lhas, a con­jun­tura é bem dis­tinta hoje em dia, ao advir nas úl­timas se­manas o pes­si­mismo, a des­peito da al­te­ração re­cente de co­mando, ob­ser­vada como o grande lance go­ver­na­mental, visto que o ge­neral Va­lery Ge­ra­simov é con­si­de­rado o ofi­cial de maior pres­tígio entre os pares.

Sua ta­refa cas­trense é de larga en­ver­ga­dura, dado que teria de me­lhorar de ma­neira si­mul­tânea a ca­pa­ci­tação dos re­crutas, con­quanto o pouco tempo de ades­tra­mento, para pe­sados com­bates co­ti­di­anos e para trato apro­priado com a po­pu­lação local; de ade­quar a rede de co­mu­ni­cação no campo, ao torná-la mais se­gura di­ante do em­prego de tec­no­logia da Or­ga­ni­zação do Tra­tado do Atlân­tico Norte (OTAN) à dis­po­sição da Ucrânia e, por der­ra­deiro, de en­trosar as ações diá­rias entre exér­cito e ae­ro­náu­tica em seus des­lo­ca­mentos contra o rival li­mí­trofe.

Fonte da matéria: Guerra da Ucrânia: um ano de tragédia – https://correiocidadania.com.br/2-uncategorised/15376-guerra-da-ucrania-um-ano-de-tragedia

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