JOHNNY ROCHA – Assunto foi abordado durante visita de Lula à Argentina; especialistas opinam sobre vantagens e desvantagens.
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Argentina e o encontro com o mandatário do país vizinho, Alberto Fernández, reacenderam a discussão sobre a possibilidade de uma moeda comum entre os países do Mercosul. Na visita, Lula chegou até mesmo a defender uma moeda comum entre os Brics (Rússia, Índia, Brasil, China e África do Sul) para que o comércio exterior entre essas nações seja menos dependente do dólar americano.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, garantiu que a moeda não vai substituir o real nem o peso. Esse tipo de moeda não entraria em circulação, nem seria usada pela população. Serviria apenas para transações comerciais entre os dois países, assim se evitaria que as transações entre Brasil e Argentina fossem feitas em dólar comercial.
O JOTA ouviu a opinião de especialistas sobre a possibilidade de uma moeda comum, como seria sua adoção, suas vantagens e desvantagens.
Professor da Mackenzie -RJ, o advogado Kaiser Motta Lucio de Morais Júnior, disse que o uso da moeda comum não inviabiliza a existência das demais moedas. “Seria uma moeda nova e focada nas transações comerciais entre os dois países com o propósito de promover a integração e aumento do intercâmbio comercial”, explicou.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já disse que não é a favor de uma moeda única para o Mercosul, como é o euro na Europa, mas sim de uma moeda comum. De acordo com o ministro, o assunto ainda será discutido por um grupo de trabalho, ao longo de vários anos. Haddad declarou que o que está em estudo é a viabilidade de uma moeda digital comum que seria usada apenas em trocas comerciais, para reduzir a dependência em relação ao dólar.
“Recebemos dos nossos presidentes uma incumbência de não adotar uma ideia que era do governo anterior, que não foi levada a cabo, da moeda única. O meu antecessor, Paulo Guedes, defendia muito uma moeda única entre Brasil e Argentina. Não é disso que estamos falando. Isso gerou uma enorme confusão, inclusive na imprensa brasileira e internacional”, declarou Haddad na última segunda-feira (23/1) em evento com empresários dos dois países em Buenos Aires.
O advogado Rodrigo Jansen, sócio do escritório Leal Cotrim Advogados, opinou que a moeda comum facilitaria muito as transações entre Brasil e Argentina. Mas, Janssen destaca ser preciso ter um estudo muito aprofundado. De acordo com ele, “o problema é que a Argentina tem pouca liquidez em dólares e não consegue incrementar significativamente o volume de operações com o Brasil”. “Então, caso haja essa moeda internacional, as negociações entre os dois países ficarão menos sensíveis às variações do dólar. Mas isso não significa que os preços das mercadorias ficarão imunes a variações do dólar”, afirmou.
Já o professor Mauro Rochlin, professor e coordenador do curso de MBA de Gestão Estratégica e Econômica de Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse ser cético em relação a essa moeda comum entre os países. Isso porque existe uma forte variação inflacionária do peso argentino.
“Sou um tanto cético com relação ao sucesso dessa iniciativa, muito por conta da forte instabilidade da economia da argentina. Eles enfrentam um processo inflacionário agudo, e por conta disso, não é raro eles assistirem episódios de forte volatilidade da moeda deles, ou seja, variações muito profundas em um espaço muito curto. Então, essa volatilidade mais extremada da moeda argentina torna muito difícil se estabelecer uma moeda comum”, analisou o professor.
Ainda de acordo com o Rochlin, caso essa ideia seja implementada, os países terão que dar garantias aos credores e ainda achar uma forma de controlar essa volatilidade da economia argentina. O professor afirmou ser necessário, em primeiro lugar, dar garantias aos credores de ambos os países, credores de transações bilaterais. “Em segundo lugar, poderia e isso seria uma vantagem, buscar uma forma de amenizar essas fortes flutuações”, declarou.
Moedas únicas em outros países
Em relação a moedas únicas que circulam no mundo, o euro é o mais lembrado, porém há outros casos de moedas unificadas.
O continente africano é um bom exemplo de unificação de moedas entre países, tendo duas moedas unificadas. Uma delas é o franco CFA da África Ocidental, composto por um bloco oito países: Benin, Burkina Faso, Guiné-Bissau, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo.
A outra moeda é a chamada de franco CFA da África Central, composta por um bloco de seis países: Gabão, Chade, República do Congo, República Centro-Africana, Guiné Equatorial e Camarões.
Outro exemplo é o dólar do Caribe Oriental. Essa moeda é indexada ao dólar americano, com uma taxa de câmbio fixa e faz parte da economia de um bloco de oito países, sendo eles: Anguilla, Antígua e Barbuda, Dominica, Granada, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Montserrat.
Fonte da matéria: Entenda como funcionaria a moeda comum entre Brasil e Argentina – JOTA – https://www.jota.info/tributos-e-empresas/mercado/entenda-como-funcionaria-a-moeda-comum-entre-brasil-e-argentina-26012023
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