Texto publicado em parceria coma Revista Lacre
Chico Otavio e Vera Araújo -Dupla de jornalistas premiados revela os bastidores das investigações do crime que ainda mobiliza a opinião pública no Brasil e mantém grande repercussão internacional
Quinta vereadora mais votada do municipio do Rio de Janeiro nas eleições de 2016, com mais de 40 mil votos, Marielle Franco foi executada à queima-roupa na noite de 14 de março de 2018, quando voltava de um debate na Casa das Pretas, espaço coletivo de mulheres negras situado no centro da cidade. Ela e o motorista Anderson Gomes morreram depois de sofrerem uma emboscada no bairro do Estácio, no momento em que a vereadora e ativista, engajada na luta antirracista, nas pautas feministas e nas causas da comunidade LGBTQIA+, estava a caminho de casa. Os tiros foram disparados de dentro de um Cobalt prata, cujos ocupantes ficaram de tocaia por pelo menos duas horas à espera de Marielle― dado que forneceu os primeiros indícios que levariam os investigadores a supor que se tratava de uma ação planejada. O duplo homicídio virou notícia no mundo inteiro, mobilizou a opinião pública, que passou a cobrar fortemente das autoridades a resposta para duas perguntas essenciais: quem matou e quem mandou matar Marielle e Anderson?
Jornalistas investigativos dedicados ao caso desde o início, Chico Otavio e Vera Araújo mostram no livro-reportagem Mataram Marielle, que a Intrínseca lança em novembro, como o duplo homicídio foi determinante para revelar os intrincados meandros do submundo da criminalidade carioca. Repórteres experientes e testemunhas de longa data de várias investigações policiais na capital fluminense, Chico e Vera esmiuçaram uma rede complexa que envolve a atuação de traficantes, milicianos, torturadores egressos dos porões da ditadura, bicheiros e policiais altamente treinados, contratados como assassinos de aluguel. Além de apontar inúmeras falhas nas investigações e mergulhar nas principais linhas de apuração adotadas pela polícia, a dupla analisa os conflitos que Marielle enfrentava dentro do próprio partido, o PSOL.
Em sua imersão no que pode ser considerado um dos crimes políticos mais rumorosos do Brasil, os premiados jornalistas construíram uma linha do tempo que ajuda a conectar todos os acontecimentos, descobertas e progressos ocorridos desde 2018, abrindo uma verdadeira caixa-preta sobre o modus operandi da criminalidade carioca. Além disso, os autores compartilham suas experiências na cobertura do caso, oferecendo uma versão inédita dos bastidores das apurações, pesquisas e entrevistas feitas nos últimos dois anos e meio. Mesmo que ainda não esteja totalmente esclarecido, o duplo homicídio de Marielle e Anderson se revela a ponta de um iceberg de dimensões ainda não calculadas.
CHICO OTAVIO é repórter e professor de Jornalismo na PUC-Rio. Iniciou a carreira em 1985, na Última Hora, passou pela sucursal do Rio de Janeiro do Grupo Estado, produzindo reportagens para O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Agência Estado. Em 1997, transferiu-se para o jornal O Globo, onde cobre Política. Ganhou sete vezes o Prêmio Esso.
VERA ARAÚJO é repórter investigativa em O Globo, além de advogada, tendo passado por Jornal do Brasil e O Dia. Em 2005, revelou a existência de grupos paramilitares na região de Jacarepaguá (RJ) que extorquiam dinheiro de moradores. Foi dela a ideia de batizá-los como milícias. Pela reportagem, ganhou o Prêmio Especial Tim Lopes de Jornalismo Investigativo (2009). Entre outros prêmios, recebeu o Imprensa Embratel (2003), o Esso Sudeste (2009), o Tim Lopes (2010) e o Troféu Mulher Imprensa (2012). Divulgação
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