Economia

Brasil: pibinho faz fumaça e acelera ingovernabilidade

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José Martins – Por que o tão te­mido golpe de Jair Bo­çal­naro anun­ciado para a Se­mana da Pá­tria acabou não acon­te­cendo? Por vá­rios mo­tivos. Um deles, talvez o menos im­por­tante, porque Bo­çal­naro não tem ca­pa­ci­dade po­lí­tica nem para ser di­tador.

É claro que qual­quer boçal pode ser um di­tador. Até ge­ne­rais como Mourão, Pa­zu­ello etc. reúnem todas as cre­den­ciais para o dis­tinto cargo. Como era o caso dos Mé­dici, Fi­guei­redo e ou­tros in­te­lec­tu­al­mente des­clas­si­fi­cados da pá­tria amada Brasil.

O pro­blema é que Bo­çal­naro não é um boçal qual­quer. Ele é um boçal es­pe­cial. Vejam, por exemplo, o se­guinte fato: ele passou quase 30 anos como de­pu­tado na Câ­mara Fe­deral e nunca co­mandou ne­nhuma Co­missão de qual­quer as­sunto re­le­vante da Casa. Inércia total.

Fi­cava amoi­tado em seu in­fecto ga­bi­nete, onde quase nin­guém es­pe­cial en­trava nem dava qual­quer im­por­tância para aquela obs­cura cri­a­tura.

Pas­sava o tempo todo fa­zendo re­que­ri­mentos para be­ne­fi­ciar po­li­ciais, fa­mí­lias de mi­li­tares, pa­ra­mi­li­tares, mi­li­ci­anos, an­tigos tor­tu­ra­dores na di­ta­dura e ou­tras si­nis­tras fi­guras do sub­mundo po­li­cial. Esta sempre foi sua base so­cial e elei­toral. Ga­rantia de re­e­lei­ções e man­datos su­ces­sivos.

Nas grandes ques­tões da Câ­mara se­guia bo­vi­na­mente as de­ci­sões das li­de­ranças do “baixo clero”, re­ba­ti­zado atu­al­mente como “cen­trão”, ao qual sempre per­tenceu. Sempre pas­sivo, me­díocre, si­len­cioso, trai­ço­eiro. Corpo e alma de tor­tu­rador. Útil apenas para cum­prir as ta­refas mais in­gló­rias e sujas dos seus pa­trões bur­gueses.

Agora, quando é em­pur­rado não pela bur­guesia, mas pela sua base de de­lin­quentes so­ciais para tomar uma ati­tude e co­mandar um golpe mi­litar tra­di­ci­onal, ele fra­cassa. E a in­go­ver­na­bi­li­dade bur­guesa se apro­funda um pouco mais no ter­ri­tório do inu­si­tado e do im­pre­vi­sível.

Mas po­deria al­guém me­lhor pre­pa­rado po­li­ti­ca­mente que Bo­çal­naro ser um di­tador como todos estão acos­tu­mados a ima­ginar? Uma di­ta­dura mi­litar old fashi­oned seria ade­quada para as ne­ces­si­dades atuais da ad­mi­nis­tração bur­guesa da luta de classes no Brasil? Tudo in­dica que não.

Por­tanto, a seu favor pode-se ar­gu­mentar que o golpe da se­mana da pá­tria não vingou sim­ples­mente porque uma di­ta­dura meia boca, fora de moda, ina­de­quada, deste des­clas­si­fi­cado ou de qual­quer outro aven­tu­reiro, seria ab­so­lu­ta­mente in­su­fi­ci­ente para en­frentar os inau­ditos de­sa­fios que a classe dos em­pre­sá­rios e de­mais pa­ra­sitas en­frentam neste mo­mento.

A re­a­li­dade ma­te­rial

Faz sen­tido. Afinal, as con­di­ções de fun­ci­o­na­mento do sis­tema ca­pi­ta­lista mu­daram no­ta­vel­mente nos úl­timos sete ou oito anos. Como cris­ta­li­zação de um pro­cesso mais largo co­nhe­cido como “glo­ba­li­zação”, “ne­o­li­be­ra­lismo”, e ou­tros im­pre­cisos ad­je­tivos do pen­sa­mento vulgar.

Como re­sul­tado destas mu­danças reais o des­con­trole po­lí­tico bur­guês evo­luiu para ní­veis a que não se as­sistia há muito tempo na maior eco­nomia do mundo ao sul do equador.

Esse cor­ro­sivo des­con­trole das ins­ti­tui­ções do Es­tado bra­si­leiro é im­pul­si­o­nado em pri­meiro lugar por de­ter­mi­nantes ma­te­riais. Sem no­vi­dade. Não é assim que as coisas fun­ci­onam? Ob­ser­vemos, ini­ci­al­mente, esses de­ter­mi­nantes em suas ma­ni­fes­ta­ções mais ime­di­atas.

No início do mês, por exemplo, o IBGE in­formou que o Pro­duto In­terno Bruto (PIB) caiu no 2º tri­mestre abaixo de zero (- 0,1%) frente ao tri­mestre an­te­rior.

Forte abalo na nar­ra­tiva triun­fa­lista dos ca­pi­ta­listas e seus eco­no­mistas de mer­cado de que a eco­nomia havia re­to­mado o cres­ci­mento. Nada mais ilu­sório.

A pri­meira ví­tima foi Paulo “Ipi­ranga” Guedes. Em um mo­vi­mento in­cri­vel­mente sin­cro­ni­zado e or­ques­trado, “in­ves­ti­dores” e Globo News ini­ciam no mesmo dia a fri­tura do seu até a vés­pera amado mi­nistro da Eco­nomia.

O “pi­binho” dos em­pre­sá­rios bra­si­leiros voltou com pompa e cir­cuns­tância. Aliás, nunca deixou de ser “pi­binho” nos úl­timos anos. O que apa­recia como “re­to­mada” era mis­ti­fi­cação ba­rata.

Pas­sadas as tur­bu­lên­cias es­ta­tís­ticas ocor­ridas com a pan­demia, nos úl­timos quatro ou cinco tri­mes­tres, a si­tu­ação fica menos em­ba­çada: ao invés de uma ima­gi­nária “re­cu­pe­ração em V”, a pro­dução e o pro­duto na­ci­onal se apre­sentam com a mesma cara la­vada e abaixo da­quele já trá­gico nível de antes da pan­demia.

Se­gundo re­la­tório pu­bli­cado pela OCDE, a eco­nomia bra­si­leira é a única das grandes “emer­gentes” que apre­sentou queda no 2º tri­mestre deste ano. A eco­nomia que antes da epi­demia (2019) já es­tava no fundo do poço de­pois da pan­demia con­tinua afun­dando. E deve con­ti­nuar.

Marque esta con­clusão. Para a aná­lise das pers­pec­tivas po­lí­ticas bra­si­leiras devem-se tirar as todas as con­sequên­cias do se­guinte di­ag­nós­tico: o re­ni­tente “pi­binho” que as­sombra há quase dez anos o país com mais de 210 mi­lhões de ha­bi­tantes para serem re­pro­du­zidos fi­si­ca­mente não dá sinal de re­cu­pe­ração e de volta do cres­ci­mento econô­mico. Ao con­trário, con­ti­nuará afun­dando.

Bur­guesia in­capaz

Esta anemia pro­du­tiva é his­tó­rica. Tem ra­zões mais pro­fundas que uma mera va­ri­ação do PIB. Porém, o mais im­por­tante é saber como ela se apre­senta agora. Há que se isolar e ana­lisar o es­tado atual desta anemia.

Por isso é im­por­tante ob­servar no mesmo re­la­tório do IBGE de 1º de se­tembro que ou­tras cru­ciais va­riá­veis econô­micas caíram muito mais ca­tas­tro­fi­ca­mente que o PIB – que foi sus­ten­tado por um monte de pen­du­ri­ca­lhos im­pro­du­tivos con­ta­bi­li­zados em ati­vi­dades no setor de ser­viços etc.

Nos se­tores pro­du­tivos da eco­nomia, a Agro­pe­cuária (o fa­mi­ge­rado “agro­ne­gócio”) caiu 2,8%, en­quanto a es­tra­té­gica In­dús­tria de Trans­for­mação – nú­cleo re­gu­lador da to­ta­li­dade da eco­nomia – também amargou queda de 2,2%.

E, mais im­por­tante que tudo, a cha­mada For­mação Bruta do Ca­pital Fixo, que, em­bora gros­sei­ra­mente, mede os in­ves­ti­mentos pro­du­tivos na eco­nomia, caiu 3,8%!

Os em­pre­sá­rios bra­si­leiros formam uma classe de pro­pri­e­tá­rios dos meios de pro­dução so­cial mar­cada ge­ne­ti­ca­mente pela pre­guiça e pas­si­vi­dade. Têm a mesma cara cul­tural e cog­ni­tiva dos di­versos ca­pi­tães do mato que ins­talam al­ter­na­ti­va­mente na pre­si­dência da Re­pú­blica.

Os em­pre­sá­rios bra­si­leiros cons­ti­tuem uma classe de “bo­çal­naros” da in­dús­tria. De “ca­pi­tães da in­dús­tria” por­ta­dores de uma má for­mação mental ge­ne­ti­ca­mente cons­ti­tuída que os torna ir­re­ver­si­vel­mente des­pre­pa­rados para agir, mo­der­nizar e au­mentar as forças pro­du­tivas no país.

Assim, sem novos in­ves­ti­mentos para a re­pro­dução am­pliada do ca­pital, a pro­du­ti­vi­dade da in­dús­tria bra­si­leira de trans­for­mação caiu por três tri­mes­tres con­se­cu­tivos.

No se­gundo tri­mestre de 2021, de acordo com o bo­letim Pro­du­ti­vi­dade na In­dús­tria, da Con­fe­de­ração Na­ci­onal da In­dús­tria (CNI), a pro­du­ti­vi­dade do tra­balho caiu 1,6% em re­lação aos três meses an­te­ri­ores. Voltou ao nível pró­ximo ao do se­gundo tri­mestre de 2020, quando co­me­çaram as tur­bu­lên­cias da pan­demia.

Eco­nomia real afun­dando e gra­vís­simos pro­blemas so­ciais au­men­tando. Mais de 32 mi­lhões de tra­ba­lha­dores de­sem­pre­gados, clas­si­fi­cados como “po­pu­lação su­bu­ti­li­zada”.

Todo mundo sabe que no re­gime ca­pi­ta­lista de pro­dução se o ci­dadão des­pro­vido de qual­quer meio de pro­dução ou re­serva não con­se­guir vender por longo pe­ríodo sua força de tra­balho no mer­cado para ser con­su­mida nas li­nhas de pro­dução de ca­pital, ele e sua fa­mília mor­rerão de fome.

Atu­al­mente, a mi­séria e a fome ex­plodem a olho nu nas ruas, ave­nidas e se­má­foros das grandes ci­dades do país. E vão con­ti­nuar au­men­tando. Isso en­quadra ri­gi­da­mente as pers­pec­tivas po­lí­ticas atuais da bur­guesia bra­si­leira.

Porém, a po­pu­lação em geral só toma co­nhe­ci­mento dos atuais im­passes e res­pon­sa­bi­li­dades dos em­pre­sá­rios e de­mais pa­ra­sitas do sis­tema pela atual si­tu­ação so­cial quando a ex­plosão dos preços ameaça di­re­ta­mente o poder de seu ren­di­mento (sa­lário) para pagar pela co­mida, alu­guel, luz, gás, trans­porte, re­mé­dios e ou­tros meios bá­sicos de re­pro­dução e so­bre­vi­vência fí­sica.

A ca­restia está de volta. Mis­tu­rada com o de­sem­prego nas nu­vens tudo muda na paz de ce­mi­tério dos em­pre­sá­rios bra­si­leiros. Resta saber se ela veio para ficar. Ou de que modo esta brusca ele­vação dos preços é apenas uma das ma­ni­fes­ta­ções de uma cor­res­pon­dente e não menos ca­tas­tró­fica de­sa­ce­le­ração da pro­dução de ca­pital no país.

O fato é que a in­flação ofi­cial do país, me­dida pelo IPCA (Ín­dice Na­ci­onal de Preços ao Con­su­midor Amplo), al­cançou a maior taxa para um mês de agosto (0,87%) em 21 anos e, com o re­sul­tado, en­costou em 10% no acu­mu­lado de 12 meses (9,68%).

É o que apontam os dados di­vul­gados na quinta-feira, 9, por outro re­la­tório do IBGE. Vejam o ta­manho do es­trago no grá­fico abaixo.

Segue a in­flação

Em agosto de 2020 a in­flação nos úl­timos doze meses era de ci­vi­li­zados 2,44%. Agora, um ano de­pois, ela subiu para in­de­centes 9,68%. Esta ful­mi­nante ele­vação de preços é pra­ti­ca­mente iné­dita. E letal para uma eco­nomia do­mi­nada da pe­ri­feria que não tem moeda na­ci­onal re­co­nhe­cida no mer­cado cam­bial in­ter­na­ci­onal.

Quem não tem “moeda forte” só pode fazer po­lí­tica econô­mica fraca, inócua. Este é o des­tino dos go­vernos de eco­no­mias do­mi­nadas e seus im­po­tentes eco­no­mistas.

Ao chegar a pra­ti­ca­mente 10% no acu­mu­lado de 12 meses, o IPCA am­pliou a dis­tância frente ao teto da meta de in­flação (5,25%) es­ta­be­le­cida pelo Banco Cen­tral (BC). No acu­mu­lado até julho, a va­ri­ação es­tava em 8,99%.
Es­ti­mamos que o IPCA se ele­vará para a faixa de 10,5 a 11,5% no mês de de­zembro. Isto for­çará ne­ces­sa­ri­a­mente (e inu­til­mente) a ele­vação da taxa bá­sica de juros (Selic) para pelo menos 10%.

Este já é um ce­nário con­ser­vador, pois supõe uma con­tenção e es­ta­bi­li­zação da ten­dência atual dos preços, con­si­de­rando ce­nário al­ta­mente im­pro­vável de re­cu­pe­ração da eco­nomia global etc.

Na data de ontem o Bo­letim Focus, do BC, com pre­vi­sões do mer­cado, in­di­cava IPCA de 8,5% e taxa Selic de 8% em de­zembro de 2021. Não é tão di­fe­rente do nosso ce­nário. De todo modo, ambos sig­ni­fi­carão forte de­sor­ga­ni­zação de todas as va­riá­veis fis­cais e do or­ça­mento do go­verno. E forte pressão também para maior des­va­lo­ri­zação do real frente ao dólar. O Brasil é um ser cada vez mais in­vá­lido na ordem ca­pi­ta­lista mun­dial.

O re­sul­tado de agosto do IPCA também mos­trou um au­mento mais ge­ne­ra­li­zado nos preços. Quer dizer, a in­flação se es­palha como agres­siva me­tás­tase para a mai­oria dos se­tores econô­micos. Esta alta de preços mais dis­se­mi­nada pode ser me­dida pelo “ín­dice de di­fusão” do IPCA.

Con­forme o IBGE, o in­di­cador, que ana­lisa o per­cen­tual de itens con­ta­mi­nados com au­mentos nos seus preços de mer­cado, passou de 64% em julho para 72% em agosto.

Quanto maior essa con­ta­mi­nação, mais di­fícil a re­versão do pro­cesso. In­dica fa­tores bá­sicos muito fortes se ma­ni­fes­tando na su­per­fície e im­pul­si­o­nando o pro­cesso.

Por isso, da mesma forma que para ex­plicar a volta do “pi­binho”, os eco­no­mistas estão per­didos na ex­pli­cação da volta da ca­restia e da sua irmã gêmea, a des­va­lo­ri­zação cam­bial da moeda na­ci­onal.

Não sabem dizer qual o re­médio mo­ne­tário e fiscal capaz de re­verter o pro­cesso de in­flação e de des­va­lo­ri­zação cam­bial. Isso acon­tece porque eles não levam em conta em seu ra­ci­o­cínio li­mi­tado de co­mer­ci­antes prá­ticos o que de­ter­mina o valor de uma moeda na­ci­onal, e, con­se­quen­te­mente, da taxa de câmbio.

Di­fe­ren­te­mente do que se passa nas eco­no­mias do­mi­nantes do centro do sis­tema, tanto o tra­va­mento do PIB quanto a ele­vação de preços in­ternos no Brasil de­rivam fun­da­men­tal­mente de uma bai­xís­sima pro­du­ti­vi­dade do tra­balho e de uma es­tru­tural fra­gi­li­dade tri­bu­tária e fiscal do go­verno. As duas coisas estão li­gadas. E se re­tro­a­li­mentam.

Mas não se trata aqui das li­ções econô­micas que cercam este pro­blema da de­ter­mi­nação do valor de uma moeda na­ci­onal, que já tra­tamos em inú­meros bo­le­tins pas­sados.

Aqui se trata apenas de afirmar que os dados atuais da pro­dução e da pro­du­ti­vi­dade in­dus­trial no Brasil, que vimos de pas­sagem acima, per­mitem an­tever um agra­va­mento das con­di­ções econô­micas e so­ciais no país.

E, se não podem re­ceitar o re­médio para os pro­blemas atuais da eco­nomia, a única coisa que os ca­pi­ta­listas e seus eco­no­mistas podem dizer com certa exa­tidão é que tudo que já está ruim pode ficar pior ainda.

Foi exa­ta­mente isso que eles an­daram di­zendo. Se há al­gumas se­manas es­ti­mavam uma alta acima de 2% do PIB (Pro­duto In­terno Bruto) para 2022, agora eles já ava­liam que o cres­ci­mento pode ficar abaixo de 1%.

O Banco JP Morgan, por exemplo, que antes pro­je­tava 1,5% de cres­ci­mento para o ano que vem, re­visou a ex­pec­ta­tiva para 0,9%.

A MB As­so­ci­ados, outro res­pei­tado nú­cleo de con­sul­tores de mer­cado, trouxe ce­ná­rios mais pre­cisos para o ano que vem. Antes, tra­ba­lhava com cres­ci­mento de 1,4% para o PIB de 2022, na úl­tima se­mana re­visou as es­ti­ma­tivas para 0,4%.

Para o ano que vem, a con­sul­toria prevê coisas mais im­por­tantes que uma mera re­tração do PIB. Prevê – cor­re­ta­mente, diga-se de pas­sagem – uma queda de 1,4% da pro­dução in­dus­trial, com des­taque para a in­dús­tria de trans­for­mação (-1,9%) e para a cons­trução civil (-2,1%).

O Itaú Uni­banco é outro que pro­je­tava um cres­ci­mento de 1,5% e re­visou o avanço para 0,5% em 2022. E outra coisa mui­tís­simo im­por­tante: do mesmo modo que a mai­oria dos de­mais eco­no­mistas da Faria Lima e Ave­nida Pau­lista os ana­listas do Itaú Uni­banco também alertam para uma de­sa­ce­le­ração da eco­nomia global no ano que vem.

Este ce­nário de crise global im­pac­taria ainda mais for­te­mente a eco­nomia bra­si­leira. Os eco­no­mistas já de­tectam que os preços de com­mo­di­ties agrí­colas e mi­ne­rais pa­raram de subir, e al­guns deles estão caindo, como o mi­nério de ferro, milho etc.

As ca­rac­te­rís­ticas e grau de pro­fun­di­dade da crise global, que devem co­meçar a se ma­te­ri­a­lizar nos pró­ximos tri­mes­tres no mer­cado mun­dial – eco­no­mias dos EUA e China como de­to­na­doras do pro­cesso – é o que dará régua e com­passo da crise po­lí­tica e so­cial bra­si­leira.

O que será de nós?

Resta ob­servar que um agra­va­mento destas con­di­ções na­ci­o­nais de re­pro­dução do ca­pital, com a pro­fun­di­dade que se anuncia nas breves ob­ser­va­ções acima, não acon­tece im­pu­ne­mente. E que estes ventos con­trá­rios de mag­ni­tude iné­dita dos de­ter­mi­nantes ma­te­riais, muda também a qua­li­dade do pro­cesso po­lí­tico.

São cru­ciais as con­sequên­cias desta mu­dança de qua­li­dade de uma crise po­lí­tica de go­verno, mais co­mu­mente ob­ser­vada, para uma rara crise de Es­tado. De uma crise ins­ti­tu­ci­onal para uma crise re­vo­lu­ci­o­nária.

Assim, é no meio do ca­minho para esta in­crível e tão es­pe­rada me­ta­mor­fose de in­go­ver­na­bi­li­dade bur­guesa no Brasil que se pode en­tender me­lhor os mo­tivos da­quela im­po­tência de Bo­çal­naro de aplicar um golpe mi­litar con­ven­ci­onal na Se­mana da Pá­tria.

O golpe seria bem su­ce­dido, apesar da no­tória e par­ti­cular bo­ça­li­dade do seu exe­cutor, se fosse uma ga­rantia de que os lu­cros con­ti­nu­assem a jorrar e a ca­tás­trofe so­cial pu­desse ser con­tro­lada pelas armas. Não con­venceu as classes do­mi­nantes.

Mas não é só o fra­cas­sado golpe de Bo­çal­naro que não pode dar esta ga­rantia. Ta­manha fa­çanha de salvar o ca­pital e as­sas­sinar im­pu­ne­mente de­zenas de mi­lhões de tra­ba­lha­dores da “po­pu­lação su­bu­ti­li­zada” também não po­derá mais ser obra de novo pre­si­dente le­gi­ti­ma­mente es­co­lhido pelas con­fiá­veis e au­di­tá­veis urnas ele­trô­nicas do Su­premo Tri­bunal Elei­toral.

Ne­nhum di­tador mais ar­ti­cu­lado com o com­bate às de­si­gual­dades ou qual­quer amigo do povo e suas ine­fá­veis po­lí­ticas pú­blicas de com­bate à po­breza serão mais efi­ci­entes que Bo­çal­naro no en­fren­ta­mento da crise de in­go­ver­na­bi­li­dade do Es­tado ca­pi­ta­lista bra­si­leiro, que se apro­fundou um pou­quinho mais nas úl­timas se­manas.

Fonte da matéria: Brasil: pibinho faz fumaça e acelera ingovernabilidade. Link: https://www.correiocidadania.com.br/2-uncategorised/14771-brasil-pibinho-faz-fumaca-e-acelera-ingovernabilidade

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