Celso Japiassu – A pandemia que o mundo está a viver tem afetado também a saúde mental. O isolamento social acaba por provocar transtornos emocionais. O medo do vírus invisível, o distanciamento entre as pessoas, o estresse agudo, a compulsória mudança de rotina, tudo isto provoca tédio, raiva, desamparo e ansiedade. É uma experiência próxima da morte que pode levar à depressão, à síndrome de pânico e ao risco de suicídio.
O mês de agosto, temporada das férias de verão na Europa, é a época de viagem das famílias a sustentar a vigorosa indústria do turismo do continente. Mas este ano agosto está paralisado na perplexidade e no medo de uma doença desconhecida, à espera de uma vacina ou remédios que possam trazer de novo a possibilidade da vida sem sobressaltos. A juventude se rebela e sai para festejar em grandes grupos o encontro nos pontos de acasalamento da movida da noite. E passa a ser acusada de espalhar a doença, transportar o vírus para as próprias casas e colocar os mais velhos em perigo de morte.
A manifestação neonazista
Como sempre acontece, as pessoas se dividem contra ou em apoio ao confinamento que se aponta como única forma de enfrentar a pandemia no momento em que ela se encontra. Há os que defendem a preservação da vida com os cuidados que os médicos recomendam e os que lutam pela retomada da atividade econômica, o que significa ignorar as ameaças e voltar a trabalhar, reunir-se e produzir a riqueza que já começou a faltar. São essas contraditórias visões do mundo que também começam a gerar conflitos.
Há poucos dias, milhares de pessoas protestaram em Berlim contra as restrições. Foram 500 mil, disseram os organizadores. A polícia calculou em 17 mil. “O fim da pandemia, dia da liberdade”, foi o nome dado à manifestação. E os manifestantes nomeados “pensadores livres”, ativistas antivacinas e ativistas da extrema direita, entre eles diversas organizações neonazistas. Denunciaram o coronavírus como uma teoria de conspiração. Não respeitaram a distância recomendada nem máscaras foram usadas. Espera-se, portanto, em Berlim, o aumento na curva do número de pessoas infectadas.
O nome escolhido para a manifestação, “Dia da Liberdade”, é o mesmo do título de um filme da diretora Leni Riefenstahl, a preferida de Adolf Hitler para documentar as atividades nazistas, sobre a convenção do seu partido em 1935.
As perdas
Desde a Segunda Guerra Mundial não havia tantas restrições à liberdade de locomoção. Enquanto afunda a atividade econômica. Companhias aéreas, fábricas, hotéis e restaurantes alertam que podem quebrar e muitos estão a fechar para não mais abrir. A ajuda de 750 bilhões de euros da União Europeia aos países mais afetados não será suficiente, dizem.
A zona do euro assinala uma perda de 15 por cento no PIB em comparação com o ano passado. O Produto Interno Bruto caiu 12,4% na Itália, 18,5% na Espanha, 13,8% na França, pouco mais de 10% na Alemanha e 16,5% em Portugal. No mundo financeiro capitalista, a perda de 1% é tradicionalmente visto como calamidade.
A Organização Internacional do Trabalho disse que a pandemia será responsável pelo desaparecimento de até 24,7 milhões de empregos em todo o mundo.
Danos psicológicos
A pandemia que o mundo está a viver tem afetado também a saúde mental. O isolamento social, segundo os médicos e os psicólogos, acaba por provocar transtornos emocionais. O medo do vírus invisível, o distanciamento entre as pessoas, o estresse agudo, a compulsória mudança de rotina, tudo isto provoca tédio, raiva, desamparo e ansiedade. Dizem os médicos que é uma experiência próxima da morte que pode levar à depressão, à síndrome de pânico e ao risco de suicídio.
O médico Jair de Jesus Mara, numa entrevista, lembrou que na depressão o indivíduo deixa de ter interesse pelas atividades de que gostava, é invadido por intensa tristeza, sente uma irritabilidade incontrolável, sensação de fadiga, desgaste emocional, insônia, pensamentos negativos e até ideias de que não vale a pena viver.
O vírus ainda está longe de desaparecer. O professor de epidemiologia da Universidade de Harvard, Marc Lipsitch, citado pela revista “The Atlantic”, afirma que nos próximos meses entre 40% a 70% da população mundial vai contrair o vírus que causa o Covid-19. Muitos vão morrer.
Ao comentar as limitações que os governos estão a impor, a jornalista Paula Ferreira advertiu no Jornal de Notícias, do Porto: “Ao contrário do apregoado por muitos, não sairemos melhores desta crise de saúde pública. Pelo contrário. Se nada fizermos, acordaremos num Mundo perigoso e totalitário. Já aconteceu outras vezes”.
O desafio
Para não encerrar este texto sob as nuvens negras e absolutas do pessimismo, reporto-me a outro texto, este da Amnistia Internacional Portugal (https://www.amnistia.pt/): É importante não cedermos ao medo ou perdermos a esperança. Estamos todos juntos neste desafio maior da nossa humanidade. Já existem exemplos surpreendentes de solidariedade no contexto desta crise – entre vizinhos, entre nações, entre amigos e entre estranhos. No meio de todo o medo temos visto a superação diária de tantas pessoas, desde os profissionais de saúde a todas aquelas pessoas que com a sua profissão mantêm os países a funcionar durante esta crise. Há muito para ter esperança e para conseguirmos fazer melhor no futuro.
Fonte da matéria:
(https://www.cartamaior.com.br/?/Especial/O-Novo-Velho-Continente-e-suas-Contradicoes/O-novo-velho-continente-e-suas-contradicoes-A-devastacao/247/48410)
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