Periferia em Movimento – Favelas, trabalhadores informais, creches, violência familiar, presídios, indígenas. Qual o impacto da pandemia nas regiões mais carentes de serviços, com grandes aglomerações historicamente ignoradas pelo Estado?
Precisamos falar sobre o novo coronavírus, mas sem pânico.
Nesta quinta-feira (12/03), o Brasil acordou com 52 pessoas infectadas pelo coronavírus e foi dormir com 69 casos confirmados. Em todo o mundo, são 122 mil casos confirmados e mais de 4.500 mortes registradas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia, isto é, o vírus deixou de ser restrito determinadas regiões e passa a ser uma questão de saúde pública global.
A taxa de mortalidade do novo vírus, ainda sem vacina, é considerada baixa – em torno de 3% dos casos – e atinge principalmente pessoas com maior vulnerabilidade, como idosos ou com doenças pré-existentes (como diabetes, câncer, etc.).
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Com mais de 50 casos no País, o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro alerta que a transmissão deve se dar de forma geométrica – isto é, deixa de ser restrita a pessoas que se infectaram em outras regiões do mundo e passa a acontecer no próprio território.
Segundo o Instituto Pensi do Hospital Infantil Sabará, após atingir 50 casos confirmados o total de infectados no Brasil pode aumentar para 4.000 casos em 15 dias e cerca de 30.000 depois de 21 dias.
Com isso, o vírus deve se expandir rapidamente nas próximas semanas e o Sistema Único de Saúde (SUS) precisaria de 3.200 novos leitos em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para dar conta da demanda – 95% dos 16.000 leitos de hoje já estão ocupados.
Dito isso, nós moradoras e moradores de periferias urbanas, povos da floresta e marginalizados em geral, precisamos nos atentar com as medidas de prevenção (confira no gráfico abaixo) mas também com efeitos colaterais dessa pandemia no nosso dia a dia.
Muito se fala no impacto da pandemia sobre a economia global. Mas em um País marcado por desigualdade social, machismo, racismo e LGBTfobia, com cortes em políticas públicas e desemprego recorde, o coronavírus tem potencial de impactar não apenas nossa saúde como também nossa frágil convivência em sociedade. Precisamos de solidariedade e vigilância nesse momento.
Perguntas ainda sem resposta:
- As periferias vão receber recursos da saúde de forma proporcional às nossas necessidades?
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O governo vai adotar medidas de confinamento ou restrição de circulação de pessoas?
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Como fazer quarentena em área de aglomeração, como periferias e favelas?
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Os governantes vão acionar a Polícia Militar pra controlar a população nas periferias?
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Se rolar quarentena, quem vai dirigir os ônibus, fazer o pão de cada dia e entregar a comida do ifood no apartamento da classe média?
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Com o desemprego recorde e o mercado informal em alta, pessoas que vivem de bico vão conseguir fazer dinheiro como?
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Se as aulas forem suspensas, com quem ficarão as crianças que frequentam creches em período integral?
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Sem aulas, sem merenda: estudantes em situação de insegurança alimentar vão passar fome se não forem pra escola?
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Ainda sobre a suspensão das aulas, qual é o risco da explosão de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes – que passarão mais tempo em casa?
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O maior tempo em casa também aumenta o risco de mulheres sofrerem violência de seus companheiros?
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E com mais pessoas com circulação restrita, o risco de conflitos em comunidades também aumenta?
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Como os governantes avaliam as possibilidades de aumento em todos os tipos de violência com essa pandemia?
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Como idosos em situação de vulnerabilidade serão assistidos pelo governo?
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De que forma, a pandemia deve impactar a população em situação de rua?
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Como ficam os presidiários, que já vivem em situações de aglomeração, tortura e com doenças que estão controladas no mundo externo?
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E como serão atendidos os indígenas, que necessitam de estratégias específicas de saúde devido à menor imunidade a doenças transmitidas desde a invasão europeia ao continente americano?
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