Roberto Manríquez – Pensador revela: assassinato de general iraniano deixou até o Pentágono pasmo. Irresponsabilidade de presidente pode gerar conflito global. Ao Irã, duas saídas: ceder às provocações de violência ou assumir liderança regional e enfraquecer EUA.
O intelectual norte-americano considera que o assassinato – ordenado pelo presidente dos Estado Unidos – ao chefe militar e uma das autoridades mais poderosas do Irã, uma potência nuclear do Oriente Médio, “foi uma decisão que Trump tomou por capricho, o que surpreendeu inclusive os altos oficiais e analistas de informação no Pentágono. Provavelmente, é de se supor que ele fez isso para mostrar seu poder, brincar de destruir cai bem entre seus adoradores, ou com aquilo que seus seguidores supõem que esteja certo”.
Quando tinha nove anos, Noam Chomsky se colocou diante do “valentão da sala” para defender um companheiro que era importunado por ter sobrepeso. O menino abusador avançou sobre o pequeno Noam para espancá-lo, mas Chomsky decidiu fugir, abandonando seu companheiro. “A vergonha por esse acontecimento na infância sempre me acompanhou, desde então sei de que lado devo estar”, disse há alguns anos, recordando essa anedota. Noam Chomsky, que acaba de cumprir 91 anos, é uma referência intelectual mundial e um ativo defensor dos Direitos Humanos.
O gênio da linguística compartilhou suas reflexões sobre o assassinato – ordenado por Donald Trump – do poderoso general iraniano Qasem Soleimani, na capital do Iraque, Bagdá, o que gerou ainda mais incertezas no Oriente e no Ocidente. Além disso, o pensador explica o fracasso da Conferência do Clima (COP25), realizada pela ONU em dezembro do ano passado em Madri, em um momento em que o aquecimento global gera grandes estragos na Austrália com os incêndios florestais.
Trump comemorou abertamente o assassinato do general iraniano Soleimani. Em sua opinião, o que explica esse ataque?
Segundo as últimas informações, foi uma decisão que Trump tomou por capricho, o que surpreendeu inclusive os altos oficiais e analistas de informação no Pentágono. Provavelmente, é de se supor que ele fez isso para mostrar seu poder, brincar de destruir cai bem entre seus adoradores, ou com aquilo que seus seguidores supõem que esteja certo
É inevitável relacionar esse ataque com o julgamento político enfrentado por Trump, lembrando o bombardeio que Bill Clinton ordenou no Iraque em 1998, uma espécie de cortina de fumaça…
Talvez, mas duvido que isso tenha sido decisivo. E tampouco me convenceu a histórica de Clinton em seu tempo.
As autoridades iranianas sustentaram, nos últimos dias, que não respeitarão o acordo sobre material nuclear que Irã assinou com as principais potencias mundiais em 2015.
Nunca houve uma chance de renegociação diante dos termos de Trump, que é uma arma na mão. Se os líderes iranianos são sábios, se absterão desse tipo de ação provocativa que Trump e Pompeo esperam, desesperadamente, para poder usar sua carta mais forte: a violência. Uma direção sábia por parte do Irã seria deixar que a liderança dos Estados Unidos continue se enfraquecendo.
A comunidade internacional está passiva?
Passividade não é a palavra correta. Poucos estão dispostos a enfrentar um touro furioso. Mas é também certo que não se deve permitir que a capital mundial do terror [Washington] atue impunemente.
Diante dessa situação, como acredita que se comportará o eleitorado estadunidense nas eleições de novembro – e que mais podemos esperar de Trump?
De Trump podemos esperar a mesma dedicação alegre diante de uma catástrofe indescritível e, sempre e quando possa, tentará conservar seu poder e perseguirá seu projeto de colocar mais dólares em bolsos já cheios, inclusive os seus. Da forma como é orientado, não lhe resta se não concluir que não existiu tal criminalidade na história humana. Nem mesmo com Hitler, literalmente. Do Partido Republicano, é exatamente o mesmo. Em relação ao eleitorado, isso é uma questão de ação, não de especulação.
Fracasso da Conferência Mundial do Clima
Diante desse cenário bélico, o retumbante fracasso da COP 25 foi pouco difundido, apenas se falou quando as nuvem do fogo australiano cobriu o planeta.
O tratamento dos meios de comunicação e da opinião intelectual em geral sobre a urgência da ameaça do aquecimento global é um crime de dimensões históricas. Ignorar o fracasso da COP 25 é só outro exemplo. Durante anos, estive advertendo, da forma mais forte que posso, sobre as duas grandes ameaças colocadas pela guerra nuclear e pela catástrofe ambiental, que devem ser destacadas nas manchetes dos jornais, principalmente nos Estados Unidos, onde a administração Trump e o Partido Republicano, geralmente, não apenas se recusam a enfrentar a crise, mas também a conduzem de forma triunfal, liderando o caminho para o desastre.
Por que o silêncio? Por que os principais bancos investem em combustíveis fósseis, sabendo que estão contribuindo para a destruição da vida humana organizada no planeta e não em um futuro a longo prazo? Podemos entender a lógica que há por trás dessas ações, mas não há palavras para descrever os inacreditáveis crimes que eles significam.
No geral, Europa mostra certo alarme pelo fracasso destas conferências sobre a emergência climática, mas dessa vez optou pelo silêncio. Por quê?
Talvez porque tem um sentimento de culpa.
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