TAILON RODRIGUES ALMEIDA e VICTOR PICCHI GANDIN (colaboração para o ACidadeON, 07/11/2019) — O time do Multipli_Cidade apresenta nessa semana os olhares dos cientistas políticos Tailon Rodrigues Almeida e Victor Picchi Gandin a respeito da importância dos partidos políticos e as crises recentes envolvendo o partido do presidente Jair Bolsonarom o PSL.
“A mais recente crise dentro do PSL retoma a questão da importância dos partidos políticos no Brasil. Afinal, os partidos realmente importam? Em quê? Além de serem instâncias que organizam preferências difusas na sociedade, representando-as a partir de sua atuação no Estado, outra dimensão relevante dos partidos constitui-se na sua especificidade de organização e autonomia. Os partidos são organizações, instâncias que colocam candidatos para competir eleitoralmente pelo poder político, e sua força eleitoral traduz-se em sua capacidade de conquistar cadeiras no parlamento e eleger governos. Quem controla essas organizações dispõe de mecanismos de poder e capacidade para influir no jogo institucional da política. Esta percepção nos permite entender o lócus da polêmica que vive hoje o PSL. O sucesso eleitoral do bolsonarismo transformou a legenda na segunda maior bancada na Câmara, com 53 representantes, levando-a à perspectiva de captar quase R$ 360 milhões em recursos dos fundos Partidário e Eleitoral. As disputas internas no partido se inserem nesse contexto, dado que a legislação prevê a perda de mandato e de fundos para o parlamentar que deixar seu partido, salvo em condições específicas como expulsão ou “janela partidária”. A Bolsonaro interessa controlar a legenda e demonstrar força nas eleições municipais de 2020, mantendo musculatura para 2022. Os partidos importam, e muito, seja na organização da política, participação, implementação de agendas, ou ainda para projetos de poder pessoal, como no caso em questão”. Tailon Rodrigues Almeida, mestrando em Ciência Política pela UFSCar (PPGPol-UFSCar).
“Disputas pelo controle do PSL e seus agora vultosos recursos do fundo partidário originaram uma série de especulações acerca da decisão de Jair Bolsonaro em continuar na legenda ou trocar de partido. Tal iniciativa não seria nova na carreira política do atual presidente, que desde sua primeira eleição passou por PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP, PSC e PSL, além de ter “namorado” partidos como o PEN (Patriota) e o PSDC. Diante do rápido desgaste do PSL, entrou no horizonte de possibilidades de Bolsonaro a filiação a outra legenda ou a criação de um novo partido. Até mesmo a estratégia de ficar sem partido passou a ser considerada. “Eu posso ser um presidente sem partido. Tanto faz eu estar com partido ou sem partido”, afirmou Bolsonaro no último dia 25. Sendo do Poder Executivo, nada o impede de sair da sigla em meio ao mandato, o que não caracterizaria “infidelidade partidária”. Por outro lado, ficaria evidente o uso destes instrumentos importantes na canalização de demandas e na organização dos trabalhos legislativos, os partidos políticos, apenas para a viabilização de uma candidatura no momento eleitoral. Bolsonaro não valeu-se deste contexto para aprimorar o atual sistema partidário, nem para propor reformas institucionais no que diz respeito a candidaturas. Tal comportamento pragmático diante dos partidos pode colocá-lo numa posição distante daquela que o apresentava como “o novo jeito de fazer política”. Diante de aparentes manifestações de independência ainda persistem práticas costumeiramente ligadas à chamada “velha política”. Victor Picchi Gandin, mestre em Ciência Política pela UFSCar (PPGPol-UFSCar).
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