Wladimir Pomar – O Brasil vive um pesadelo desencontrado de palpites, desinformações, fake news, xingamentos, preconceitos etc. etc. etc. A tal ponto que alguns estudiosos consideram que as barbaridades ditas e praticadas por algumas personalidades fazem parte de uma inteligente estratégia de desnorteamento e desbaratamento das opiniões dos que pensam diferente, embora haja quem diga não ter estratégia alguma.
De qualquer modo, levando em conta tudo isso, talvez seja possível considerar a possibilidade de que algumas figuras de alto coturno tenham se dedicado a um estudo mais intenso de Sun Tzu, o famoso general chinês do século 1 A.C., autor do célebre A Arte da Guerra.
Mas, se tal estudo ocorreu, é evidente que teve como motivação a aplicação dos ensinamentos desse mestre pelo avesso. Afinal, ele, como os chineses da atualidade, também devia ser comunista. E os comunistas, mais do que os socialistas, os marxistas culturais, os artistas, os lulopetistas, os defensores da obediência à Constituição, e uma lista relativamente extensa de ativistas políticos, de acordo com aquelas figuras de alto coturno, precisam ser destruídos.
Portanto, tudo indica que a alta criatividade na aplicação literal do inverso do que sugeria aquele general chinês destina-se, certamente, a confundir os inimigos. Por exemplo, Sun Tzu sugeria “aproveitar a dissensão entre os inimigos para atrair os descontentes”. Assim, quando alguém chama uma jornalista econômica liberal de ex-guerrilheira comunista, ou qualifica os governadores nordestinos de paraíbas, e cunha um general de melancia (verde por fora e vermelho por dentro), isso certamente tem em vista dividir a corrente inimiga, ainda forte no Nordeste, de modo a atrair todos os economistas, governadores e generais descontentes com a corrente lulopetista.
Quando, por outro lado, esse alguém demonstra não só forte contentamento com a ausência do paraíba governador da Bahia na inauguração de um aeroporto, se recusa a citar o nome do subversivo Glauber Rocha, dado ao novo aeroporto e, ao mesmo tempo, coloca um chapéu de couro e resolve chamar a si próprio e a seus generais de paraíbas e cabras da peste, ele certamente faz tudo isso para confundir ainda mais seus inimigos.
Além disso, para demonstrar ainda maior criatividade na subversão do que ensinava mestre Sun, ao invés de não se “encarniçar contra um inimigo derrotado”, deixando “uma saída para ele, pois em caso contrário ele se verá obrigado a lutar até a morte”, o que se vê é um esforço concentrado para encarniçar a luta política e não deixar saída não só para qualquer inimigo, mas também para antigos ex-amigos.
Sun Tzu teimava que a “vitória” deveria ser o “objetivo estratégico” de qualquer guerra ou contenda. E que, nas campanhas mais prolongadas, era “preferível subjugar o inimigo sem travar combate”, “atacando sua estratégia na raiz, através do rompimento de suas alianças”. Em oposição a isso há um esforço continuado não só para defenestrar os agentes comunistas infiltrados, a exemplo de Mirian Leitão, assim como membros do PSDB, da Comissão da Verdade e da Rede Globo, mas também para desmoralizar coisas tão esquisitas como o presidente da OAB e essa instituição cuja finalidade é considerada totalmente descabida.
Exemplo dessa linha operacional está sendo a caça aos hackers que gravaram as conversas e acertos entre um juiz e procuradores de um mesmo processo. Em vez de se “ater às circunstâncias”, “evitar misturar diretivas táticas com diretivas estratégicas” e “evitar que suspeitas sejam disseminadas sem esclarecê-las”, como frisava Sun Tzu, há quem acredite ter sido um feito heroico ter localizado e prendido tais hackers, na suposição de que seja possível destruir as gravações, associá-las a uma trama maquiavélica do PT e dar tudo por encerrado.
Quanto a isso, porém, a situação real está parecendo com a tentativa de atentado terrorista no Riocentro, nos anos 1980, cujo objetivo era responsabilizar uma organização antiditatorial pela explosão de uma bomba num festival musical e retomar as medidas de arrocho ditatorial. Mas a bomba explodiu no colo dos agentes militares encarregados de acioná-la e desbaratou as tentativas terroristas de dar fim à transição do regime ditatorial militar para o regime civil.
Aqui e agora está claro que a destruição das gravações dos hackers pode não só tornar inócua a prisão deles, como ser considerada um atentado à ordem jurídica. Porém, sem destruir tais gravações, seu exame pericial pode demonstrar que não houve qualquer adulteração nos diálogos ilegais entre juiz e procuradores. Ou seja, a bomba também pode explodir, mas dessa vez no colo dos principais envolvidos nas operações “Prende Lula” e “Destrói o PT”.
Aliás, outra consequência prática da aplicação inversa dos ensinamentos de Sun Tzu está sendo o destampo do período ditatorial militar de 1964 a 1984. Grande parte da geração nascida de meados dos anos 1990 para cá desconhece os acontecimentos desse período, o que contribuiu para levar uma parte dela a sugerir a intervenção das forças armadas nos destinos políticos do país. Com o que está vindo à tona, tanto sobre a superfície quanto sobre os porões da ditadura, é possível que grande parte dessa geração se dê conta de que estava embarcando no navio errado.
Assim, a essa altura dos acontecimentos seria recomendável considerar que as ações contrárias aos ensinamentos de mestre Sun Tzu tendem a criar mais problemas do que soluções. Apesar disso, porém, há os que acreditam, em oposição completa ao que pensava aquele general, que a guerra é a primeira e única solução.
Estão convencidos de que a guerra não provoca qualquer “gosto amargo para os vencedores”, “devendo ser travada mesmo quando houver outras saídas”. Isto os leva a trabalhar com afinco para impor ao povo brasileiro não só ações que transgridam as leis, a exemplo da destruição das provas obtidas pelos hackers, mas também que se transformem numa guerra interna de estilo hitlerista.
Ao mesmo tempo em que desdenham os ensinamentos de Sun como condição mínima para ter sucesso na arte da guerra (seja tal guerra militar ou política), há gente que não leva em conta que seus adversários podem seguir os principais preceitos daquele estrategista. Por exemplo, o general chinês recomendava “conhecer o inimigo”, “combater com forças integradas cada uma das divisões inimigas”, e “jamais repetir a mesma tática, mesmo vitoriosa, respondendo às circunstâncias segundo uma variedade infinita de métodos”.
Além disso, ele recomendava “evitar o entusiasmo excessivo no enfrentamento, assim como a cólera, a ira cega e a suscetibilidade exagerada, principalmente se os inimigos forem mais poderosos”. Neste caso, seria recomendável “dissimular o estado de suas forças, fingir-se de fraco, abrindo as portas para a presunção e o orgulho do inimigo” e “aproveitando suas dissenções internas para atrair os descontentes”.
Para ele, os “males cruciais da luta” consistiam em “não se ater às circunstâncias, deixar confusos os quadros dirigentes, misturar diretivas táticas com diretivas estratégicas, permitir que as suspeitas fossem disseminadas sem esclarecê-las e aguardar ordens para resolver problemas urgentes”. As “qualidades indispensáveis” consistiam em “reconhecer e superar os próprios erros, aproveitar os erros dos adversários e induzi-los a cometer erros”.
Em termos gerais, recomendava: “conhece a ti próprio e a teu inimigo; “quando o inimigo estiver unido, divide-o”; “ataca sua estratégia pela raiz e rompe suas alianças”; evita “os defeitos aparentemente inócuos que derrotam a prudência e a bravura, a exemplo do entusiasmo ou do cuidado excessivo no enfrentamento”; e, mais do que tudo, “um comando sagaz deve se manter informado da morte ou deserção do mais reles de seus combatentes”.
Não deixa de ser um exercício interessante acompanhar o desenvolvimento da situação brasileira, e de cada uma de suas correntes políticas, sejam de direita, centro e esquerda, tendo como parâmetros os ensinamentos de mestre Sun Tzu.
Por um lado, se o mestre da antiguidade chinesa tiver razão, tais ensinamentos podem corroborar tanto os sucessos quanto os insucessos.
Por outro, tais sucessos e insucessos também podem introduzir mudanças em tais ensinamentos, demonstrando onde ele não tinha razão.
O que será uma enorme novidade porque, desde o século 1 A.C., Sun Tzu passou incólume por todas as provas.
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