Primeiro, na democracia anterior, de 1945 a 1964, tinha menos ainda.
No Estado Novo, muito menos.
Na República que implementou a democracia, de 1989 a 1930, quase nada.
Não foi exatamente por conta da ditadura que a violência urbana saiu do controle?
Deu certo a divisão de polícias, entre Civil e Militar?
A fragilidade institucional do regime que cassava professores, adversários, advogados e juízes não alimentou a epidemia da violência?
CV (Comando Vermelho) não nasceu durante a ditadura, num presídio que misturou contraventores, estupradores, presos políticos e ladrões de banco (Penitenciária Cândido Mendes, Ilha Grande)?
Foi então que a guerra do tráfico, com novos comandos, como ADA (Amigo dos Amigos), hoje aliada ao PCC, Terceiro Comando, dominou a paisagem urbana.
O Esquadrão da Morte, grupo policial de extermínio, foi incentivado pelo regime, que o oficializou formando os 12 Homens de Ouro, com licença para matar.
A Escuderia Le Cocq nasceu na ditadura.
O Capitão Guimarães, um dos maiores bicheiros do Rio de Janeiro, era do DOI/Codi; foi carcereiro de Paulo Francis.
Assim como Anísio Abraão, de Nilópolis, que levou torturadores do DOI/Codi para serem seus seguranças.
Castor de Andrade auxiliou presidente e general Figueiredo na eleição para impedir a vitória de Brizola.
Consulte o livro Os Porões da Contravenção, para ver a promiscuidade entre agentes da repressão e o jogo do bicho.
Não foi levando agentes da Polícia Civil, como delegado Fleury, para dentro da repressão política, dando carta-branca, que a ditadura passou a combater as organizações de esquerda?
Polícia que percebeu que era mais jogo bandidos trabalharem para ela (plot do filme Lúcio Fávio – Passageiro da Agonia, de Babenco).
Polícia que passou a negociar armas com traficantes, formou milícias, faz lobby (Bancada da Bala) para que jogos de azar nunca sejam permitidos no Brasil, e que a posse de maconha e a proibição da venda continuem crime.
Repressão que saiu do controle, prendeu quem quis, inclusive bispos da Igreja Católica, e boicotou a redemocratização em 1981-1982, como no Atentado do Rio Centro.
Violência urbana, com a tortura, é legado da ditadura.
Foi nela que saiu do controle.
https://cultura.estadao.com.br/blogs/marcelo-rubens-paiva/violencia-urbana-nao-nasceu-na-democracia/
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