Deutsche Welle — Moscou se destaca com seu arsenal nuclear e número de tanques, mas fica atrás de outras potências quando se trata de tecnologia militar.
O legado da União Soviética ainda está muito presente no Exército russo moderno
Os Estados Unidos, a Rússia e a China são considerados os países mais fortes do mundo quando se trata de poderio militar, sendo que os EUA ocupam incontestavelmente o primeiro lugar. Mesmo assim, a Rússia ainda tem muitas cartas na manga, especialmente um arsenal nuclear de cerca de 1.550 ogivas nucleares prontas para a ação.
Armas nucleares à parte, no entanto, os EUA têm uma vantagem esmagadora quando se trata de forças mais convencionais, incluindo a naval e a aérea, afirmou o analista militar russo Aleksandr Golts à DW.
A China, segundo Golts, também teria uma vantagem numérica em qualquer confronto convencional com a Rússia. Em outras áreas, porém, nem tudo é assim tão evidente.
“Por enquanto, a força aérea da Rússia é muito mais forte do que a chinesa”, disse o analista à DW. “A dúvida é em relação à marinha, já que os chineses se encontram, atualmente, em meio a um ambicioso programa de construção naval – e eles são muito mais bem-sucedidos na construção de frota marítima do que a Rússia.”
Ainda assim, segundo Golts, apesar de os navios de guerra russos serem antigos, eles são equipados com mísseis de cruzeiro muito modernos. O analista militar adverte, contudo, que classificar países por seu poderio militar é “praticamente inútil”, pois a eficácia das forças armadas depende das metas estabelecidas pelos líderes da nação.
Tal ponto de vista é compartilhado pelo jornalista e analista militar russo Pavel Felgenhauer, que alerta para o fato de que conflitos dependem de muitas variáveis, incluindo a geografia e as pessoas envolvidas.
“É como prever o resultado de uma partida de futebol: sim, em tese, o Brasil deve vencer os EUA no futebol, mas eu vi americanos vencerem o Brasil na África do Sul, durante a Copa das Confederações. Você nunca sabe o resultado até que o jogo se concretize”, afirma.
Felgenhauer observa que a Rússia tem carência em muitas áreas de tecnologia militar moderna, incluindo desenvolvimento e produção de drones, componentes eletrônicos, assim como reconhecimento de radar e de satélite. Atualmente, o país produz drones de vigilância por meio de uma licença israelense, e está completamente carente de drones de combate, por exemplo.
A Rússia também tem trabalhado na modernização de seus centros de comando e de controle, que servem para processar informações do campo de batalha e retransmiti-las às tropas.
“É disso que as forças armadas russas estão falando: sim, temos armas, incluindo armas de longo alcance, mas nossas capacidades de reconhecimento são mais fracas do que nossas capacidades de ataque”, disse Felgenhauer. “Portanto, temos armas de longo alcance, às vezes até de precisão, mas nem sempre sabemos onde está o alvo.”
De acordo com o analista, tais problemas foram exacerbados pela crise da Crimeia em 2014. Nos anos que antecederam o duelo com o Ocidente, Moscou vinha gastando pelo menos 500 milhões de dólares por ano nos EUA em compras das chamadas mercadorias de dupla utilização, que podem ser usadas para fins militares e civis.
“Eram componentes eletrônicos para armas e satélites russos, diferentes tipos de vidro e aço especiais”, diz Felgenhauer.
Da mesma forma, “França e Alemanha estavam desenvolvendo satélites de uso duplo, que eram basicamente satélites militares, satélites de reconhecimento, para a Rússia. E isso tudo praticamente acabou.”
Confrontada com o embargo do Ocidente, a Rússia também tem trabalhado no sentido de desenvolver seus próprios drones e preencher a lacuna tecnológica em outras áreas. No entanto, segundo especialistas, o colapso da União Soviética deixou Moscou não apenas mais fraca em termos de território e número de soldados, mas também quando se trata de fornecedores militares.
“A União Soviética tinha uma economia absurda, mas que pelo menos era muito lógica”, avalia Golts. “Não tinha nada a ver com economia de mercado, mas o objetivo principal de qualquer empreendimento em território soviético, seja ele militar ou civil, era estar preparado para produzir bens e equipamentos militares em caso de guerra. Depois da queda do União Soviética, esses sistemas desapareceram.”
Por outro lado, o legado da União Soviética ainda está muito presente no Exército russo moderno, já que muitos de seus sistemas de ponta são resultado do “aprimoramento de bons sistemas soviéticos antigos e da modernização daquele tipo de tecnologia”, diz Golts.
Uma dessas armas é o caça-bombardeiro Su-25, projetado há décadas para apoiar as tropas terrestres. Recentemente, a Rússia anunciou a produção da mais recente versão da aeronave.
“Seus desenvolvedores insistem que ele apenas se parece com o antigo Su-25, que toda a eletrônica a bordo é absolutamente moderna […] e que ele mostrou o quão bom ele era durante a guerra na Síria”, afirma Golts.
Além do arsenal nuclear, há uma área em que a Rússia está claramente em primeiro lugar. Recentemente, o Kremlin anunciou que os russos tinham mais tanques do que qualquer outra nação no mundo, observa Felgenhauer.
“Extraoficialmente, soube de cifras de até 20 mil, o que significaria que a Rússia tem mais tanques do que todos os países da Otan juntos”, aponta.
Depois do fim da Guerra Fria, a maioria das potências europeias reduziu suas capacidades de tanques, focando, então, mais em conflitos com grupos terroristas e guerrilheiros. Isso, de acordo com Felgenhauer, coloca-os em grande desvantagem no caso de uma guerra terrestre na Europa.
“Hoje, restam à Alemanha apenas 300 tanques”, diz ele. “O Reino Unido tem, creio eu, 250, e a França também tem algo próximo disso.”
No caso de uma guerra na Europa, a Rússia também teria uma vantagem logística sobre o Ocidente, de acordo com Felgenhauer. Enquanto a Otan precisaria de meses para mobilizar sua força total, a Rússia seria capaz de trazer reforços em um prazo muito menor.
https://www.cartacapital.com.br/internacional/qual-e-o-real-poderio-militar-da-russia
Deixe uma resposta