Política

Sob “torcida”, candidatos ao Governo de São Paulo realizaram primeiro debate de 2018

Imagem: reprodução Band Jornalismo/Youtube
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VICTOR PICCHI GANDIN – Na noite de ontem (16/08/2018), foi realizado pela Band o primeiro debate com candidatos a governador das eleições 2018. Em São Paulo, participaram do encontro João Doria (PSDB), Lisete Arelaro (PSOL), Luiz Marinho (PT), Marcelo Cândido (PDT), Márcio França (PSB), Paulo Skaf (MDB) e Rodrigo Tavares (PRTB).

Outros cinco candidatos oficialmente registrados, porém, filiados a partidos políticos sem ou com baixa representação na Câmara dos Deputados (e que, portanto, as emissoras não têm obrigatoriedade de convidar para debates) não participaram. São eles: Edson Dorta (PCO), Major Costa e Silva (DC), Prof. Claudio Fernando (PMN / REDE), Rogério Chequer (NOVO) e Toninho Ferreira (PSTU).

A estrutura do debate e as regras para questionamentos foram bastante viáveis. Após todos os candidatos responderem à pergunta inicial, estes confrontaram-se durante uma rodada inteira sobre o mesmo tema, no caso, a área da Saúde. Posteriormente, houve um bloco com confrontos de temas livres entre candidatos, uma rodada de perguntas feitas por jornalistas e um bloco com novos confrontos entre os candidatos, porém, cujo escolhido para responder não poderia ser chamado novamente. Desta forma, todos os aspirantes ao Palácio dos Bandeirantes responderam ao menos uma vez e nenhum deles foi abordado mais que os demais neste bloco.

O atual governador de São Paulo desde que Geraldo Alckmin (PSDB) renunciou para disputar a Presidência da República, Márcio França (PSB), se mostrou articulado. Mostrou habilidade para não cair em diversas armadilhas preparadas por seus opositores, que tentavam fazê-lo criticar a administração que o alçou ao governo do Estado. Nas respostas, o governador destacou a grandeza de São Paulo e seus diversos hospitais, escolas, profissionais e trabalhadores, alegando que não poderia criticar o funcionamento de todas as instituições e políticas públicas. Com isso, além de evitar cair em contradição (afinal, uma crítica dele ao governo seria uma crítica a si mesmo), mostrou respeito a diversos profissionais da Saúde, Educação e funcionários públicos, que estariam fazendo sua parte ainda que suas respectivas áreas de atuação encontrem dificuldades.

Eleito vice-governador na chapa de Alckmin em 2014, Márcio França recorreu também ao tempo de exercício de seu mandato não mais como vice, iniciado em abril de 2018. Destacou também a responsabilidade de determinadas ações, que não necessariamente recaem ao governador do Estado, mas por exemplo a decisões da Assembleia Legislativa. Em pergunta sobre caça de javalis, entrou em confronto direto com João Dória (PSDB), que acusou França de ter mudado de opinião. Evidentemente, o outro candidato aproveitou a brecha para mostrar que em outros assuntos era Doria que havia mudado, como quando deixou a Prefeitura de São Paulo com pouco mais de um ano de mandato. O governador também leu mensagem que Doria havia manifestado anteriormente, em apoio a Márcio França, hoje seu concorrente. O candidato do PSB também mostrou sua disposição para dialogar com correntes políticas diversas, o que reflete a ampla coligação que realizou. Isso deu margem para Paulo Skaf (MDB) dar a velha desculpa de que não se coligou para não “lotear” o governo.

A participação de Paulo Skaf (MDB) me lembrou um pouco sua presença em debates de eleições anteriores, com números, estatísticas e fugas de respostas que o associem a outros políticos. Em 2014, já filiado ao PMDB, Skaf foi questionado por Laércio Benko (PHS) sobre quem teria o voto do presidente da FIESP na eleição presidencial. Como é sabido, Michel Temer, do mesmo partido do candidato a governador, era vice de Dilma Rousseff (PT). Apesar disso, com medo de encontrar rejeição no eleitorado paulista, Skaf insistiu que votaria em Michel Temer, não em Dilma. “Até parece que o senhor vive na época do João Goulart, quando se votava em vice”, rebateu Benko. Se naquela época Skaf preferia se associar a Temer e ignorar a candidata presidencial apoiada por seu partido, hoje Skaf foge de ser associado ao próprio Temer, cuja popularidade de governo é considerada a menor desde a redemocratização do país. O candidato também minimizou sua filiação ao MDB, afirmando que existe uma crise de confiabilidade em todos os partidos políticos e que pretende observar o futuro e não o passado. Skaf prometeu retomar obras paralisadas no Estado de São Paulo, sem uma explicação clara de onde viriam os recursos. Um dos aspectos que chamou a atenção em suas respostas, porém, foram seus “causos”, que teriam sido relatados a ele por paulistas. Evitando realizar críticas diretas, Skaf recorreu a exemplos como “encontrei a Dona Maria”, “conheci o Reginaldo” para ilustrar descasos da política paulista.

João Dória (PSDB), como era de se esperar, virou vitrine por seu rápido mandato à frente da Prefeitura de São Paulo. Apesar de ter governado somente a capital, Dória parece ter sido mais questionado sobre suas realizações do que o próprio atual governador do Estado, que se encontra em terceiro lugar nas pesquisas mais recentes de intenção de voto. A grande publicidade em torno de programas de Dória e a busca pelo fortalecimento de sua imagem foram mencionados de diversas maneiras por seus oponentes. A partir de certo ponto, respondendo a uma questão, o candidato nacionalizou o debate, trazendo temas sobre corrupção a nível nacional como forma de atacar outros candidatos, que entraram na onda e transformaram um debate até então propositivo em um cenário de ataques entre candidatos de partidos que apresentam em seus quadros investigados e condenados por corrupção. Dória chegou a mencionar sua posição nas atuais pesquisas de intenção de voto (afirmando que Luiz Marinho localiza-se “na rabeira”) e desnecessariamente ofendeu o PDT – partido conhecido por já ter realizado diversas alianças com seu PSDB -, dizendo que uma “característica típica” de partidos como este é a desinformação.

Lisete Arelaro (PSOL) destacou que é a única mulher candidata ao Governo de São Paulo. Durante vários momentos, questionou os demais candidatos sobre a PEC do teto de gastos públicos. A professora também ressaltou a importância partidária na configuração das eleições e governos no Brasil, afirmando corretamente que os candidatos que ali debatiam não poderiam se colocar como candidatos individuais, como se pudessem realizar sozinhos apenas as suas vontades. Esta ponderação veio em boa hora, num momento em que os candidatos minimizavam aspectos que prejudicam a imagem dos partidos pelos quais estão filiados. Lisete também afirmou que Dória teria assinado um compromisso de cumprir seu mandato até o final na Prefeitura de São Paulo, o que o faria estar “reprovado” e em “recuperação” caso estivesse em um sistema de ensino.

Luiz Marinho (PT) representou no debate para governador de São Paulo um espaço que ficou vago no debate presidencial. Com o impedimento da participação de Lula, preso desde abril, nos debates para presidente, restou ao PT a manifestação de seus candidatos a governador em debates estaduais. Luiz Marinho também mencionou o governo do Maranhão, administrado pelo PCdoB, partido integrante de sua coligação. Quanto ao Estado de São Paulo, como era esperado, o ex-prefeito de São Bernardo do Campo criticou os mais de vinte anos de administração tucana.

Marcelo Cândido (PDT) foi lançado candidato ao governo de São Paulo após rompimento de seu partido com a coligação de Márcio França (PSB). “A decisão é de um partido que quer ter palanque [para o presidenciável Ciro Gomes] no maior estado da federação. Não podemos ficar a reboque de candidatos que só apoiam o Alckmin”, disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, à Folha de S. Paulo no dia 05/08. E isto aconteceu: logo no início de sua participação, Cândido se colocou como o candidato que representa o presidenciável Ciro Gomes no Estado de São Paulo.

Outro aspirante que fez questão de ressaltar diversas vezes sua posição a nível nacional foi Rodrigo Tavares (PRTB). O servidor público municipal insistiu em apresentar-se como candidato de um partido filiado estadual e nacionalmente com o PSL, de Jair Bolsonaro. Com este aceno, Tavares buscou se apresentar ao eleitorado e conquistar o voto dos eleitores de Bolsonaro em São Paulo. Apesar disso, o candidato diverge do perfil do militar. Bem menos exaltado e radical, chegou até mesmo a concordar com a candidata do PSOL em determinada questão e também propôs a criação de um “novo Banespa”, política que garantiria maior presença do Estado na economia em São Paulo. A impressão que fica, ainda mais com a data tardia em que o PSL fechou coligação com o PRTB, é que Tavares já havia sido lançado ao governo como um mero candidato do PRTB e só depois Bolsonaro “caiu em seu colo”, vindo o candidato do partido de Levy Fidélix posteriormente associar suas imagens em busca de votos de um mesmo eleitorado. Repare que o PSL de Bolsonaro não indicou nem mesmo o vice-governador de sua coligação no estado que tem o maior eleitorado do Brasil.

Concluindo, o primeiro debate entre os candidatos a governador do Estado de São Paulo me pareceu mais sério e mais propositivo do que o primeiro debate presidencial, apesar dos inevitáveis momentos de ataques entre candidatos e temas alheios a este estado. Por outro lado, a plateia do encontro não mostrou a mesma seriedade. Seus integrantes pensaram estar num estádio de futebol. Torciam, vibravam, aplaudiam e vaiavam em alto e bom som a todo momento, atrapalhando respostas dos candidatos e o andamento do próprio debate.

Caso os aspirantes ao Palácio dos Bandeirantes preservem o comportamento que orientou suas respostas na maior parte dos blocos iniciais deste debate, o eleitor paulista poderá aproveitar com mais facilidade esta ferramenta para definir seu candidato a governador.

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