Miguel do Rosário – A grande imprensa divulga friamente que o preço da gasolina no Brasil, após os aumentos autorizados pela nova direção da Petrobras, passou a ser o segundo mais alto dentre os países produtores de petróleo, atrás apenas da Noruega.
Entretanto, é importante que a gente acrescente alguns comentários, para que os internautas saibam as diferenças entre Brasil e Noruega.
1) A Noruega é um dos países mais ricos do mundo. Quiçá o mais rico do mundo, se considerarmos fatores como qualidade de vida, índice de desigualdade e infra-estrutura de serviços públicos. A renda per capita na Noruega é de 62,5 mil dólares por habitante. A do Brasil é de 14,8 mil dólares.
2) A maior cidade da Noruega, a capital Oslo, é largamente servida por trens urbanos, ou seja, o preço da gasolina não impacta, nem de longe, com o mesmo peso que impacta aqui no Brasil. Em Oslo, o sistema de metrô carrega 106 milhões de pessoas por ano e tem 101 estações, espalhando-se por 85 quilômetros. Em São Paulo, maior cidade brasileira, o metrô transporta 1,3 bilhão de pessoas, tem apenas 72 estações e 80 quilômetros.
3) Segundo o site World Wealth & Income (Wid), alimentado pelo grupo do economista francês Piketty, o 1% mais rico da Noruega detêm um total de 7,8% da renda nacional. O mesmo 1%, no Brasil, controla 28% da renda nacional. Os 10% mais ricos na Noruega, controlam, por sua vez, 28% da renda nacional; os mesmos 10%, no Brasil, tem 57% da renda.
4) Ou seja, enquanto a Noruega é, possivelmente, o país mais igualitário do mundo, o Brasil é o campeão mundial de desigualdades.
5) Outra diferença radical entre Brasil e Noruega. O principal grupo de mídia norueguês é a NRK, um sistema público, financiado pelos próprios contribuintes. A NRK possui canais de tv, estações de rádio, além de serviços especiais de tv por assinatura. É filiada e uma das principais fundadoras do sistema público europeu de comunicação, o European Broadcasting Union.
6) A alíquota máxima do imposto de renda na Noruega é de 47%. Nem é das maiores do mundo desenvolvido. Para se ter uma ideia, o ranking das alíquotas máximas de imposto, segundo o wikipédia, é ocupado, pela ordem, por Bélgica (64%), Reino Unido (62%), Finlândia (62%), Suécia (60%), Canadá (58,7%) e Estados Unidos (56.7%. Sim, o Tio Sam sabe ganhar dinheiro!).
7) O regime econômico da Noruega é marcado por uma grande participação de estatais, que controlam todos os serviços públicos do país.
8) A principal empresa norueguesa é a Stat Oil, a Petrobras deles. O governo da Noruega detêm quase 70% das ações da empresa.
9) A Noruega oferece, a seus trabalhadores, uma das melhores condições (salários, horas trabalhadas, direitos) do planeta. A razão disso, segundo especialistas, é o alto nível de sindicalização do país. A maioria dos noruegueses são filiados a algum sindicato. Enquanto isso, o golpe de 2016 teve, entre outros objetivos, destruir o já débil sindicalismo brasileiro. Os últimos dados mostram que mais de 60% dos trabalhadores noruegueses são filiados a sindicatos. Detalhe: o nível de filiação sindical é mais de 95% na Suécie e na Dinamarca, e 85% na Finlândia. Na Austrália, Reino Unido e Irlanda é superior a 50%. Os EUA já tiveram mais de 30% de sua classe trabalhadora filiada a algum sindicato, mas os ataques vindos a partir da era Reagan reduziram esse percentual para 11% em 2011. O nível de sindicalização no Brasil voltou a crescer bastante a partir da era Lula, atingindo o recorde de 19,5% em 2015.
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No Valor
Gasolina do Brasil é a 2ª mais cara do mundo
Desde meados de 2017, quando a Petrobras passou a reajustar os preços diariamente e o governo aumentou a carga tributária sobre o setor, os preços da gasolina subiram cerca de 20% para o consumidor final. Com o aumento, o Brasil se consolida no posto de uma das gasolinas mais caras dentre os países produtores de petróleo (…)
Levantamento da consultoria Air-Inc, que consolida estatísticas globais de custo de vida e mobilidade, mostra que a gasolina vendida nos postos brasileiros é a segunda mais cara dentre os 15 países que mais produzem petróleo no mundo. De acordo com a pesquisa, obtida pelo Valor, a gasolina é vendida no Brasil a US$ 1,30 por litro (considerando câmbio de R$ 3,3 e preço médio de R$ 4,28). No ranking dos maiores produtores de petróleo, só não é mais cara que o combustível vendido na Noruega.
(…) A gasolina mais barata entre os grandes produtores – e também no mundo, considerando 198 países – é a da Venezuela. Grandes produtores associados à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) também figuram entre os países com a gasolina mais barata, como Kuait e Irã. (…)
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