Laura Carvalho – Quando indagado por um ouvinte do programa da jornalista Mariana Godoy na RedeTV! sobre o que pensa do tripé macroeconômico —composto por câmbio flutuante, metas de inflação e superavit primário—, Jair Bolsonaro não quis arriscar: “Quem falará de economia por mim é a minha equipe econômica no futuro”.
Em meio à forte repercussão nas redes sociais do trecho da entrevista, que deixou clara a insegurança de Bolsonaro na área econômica, um blog do jornal “O Estado de S. Paulo” informou na segunda (6) que o presidenciável estaria tendo aulas de economia com o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Adolfo Sachsida.
Embora tenha negado a informação de que foi contratado para a árdua tarefa, Sachsida confirmou que mantém conversas regulares com Bolsonaro, que, segundo ele, seria um admirador de Ronald Reagan e Margaret Thatcher: “Uma pauta conservadora nos valores e liberal na economia”, resumiu o economista.
A revelação não deixa de ser surpreendente. Afinal, Bolsonaro costuma rasgar elogios à política econômica dos governos militares brasileiros. Na mesma entrevista, tais elogios chegaram a ser rebatidos por Mariana Godoy, que lembrou a alta inflação e dívida externa herdadas do período da ditadura.
Embora também tenham mostrado maestria na tarefa de ampliar desigualdades, os militares brasileiros certamente intervieram demais na economia aos olhos dos adeptos de Reagan e Thatcher.
Diante da nova face de Bolsonaro, cabe lembrar que, há poucos meses, o MBL (Movimento Brasil Livre) —até então associado a pautas anticorrupção e em prol do liberalismo econômico- passou a dedicar-se ao moralismo privado e à repressão de liberdades individuais.
Se é verdade que o apoio a reformas impopulares promovidas por um governo denunciado por corrupção não estava angariando muitos adeptos, a mudança de foco do MBL não inovou.
Em visita ao Chile de Pinochet, Milton Friedman chegou a defender que aquele regime —quiçá o maior marco da combinação autoritarismo-neoliberalismo da história mundial- era necessário como caminho para a liberdade verdadeira. Em discurso naquele país intitulado “A Fragilidade da Liberdade”, atribuiu à emergência do Estado de Bem-Estar Social o papel de destruir a sociedade livre.
Friedrich Von Hayek, considerado por muitos o avô do neoliberalismo, também considerava o autoritarismo de Pinochet uma transição necessária para reverter excessos de regulação do passado.
“Minha preferência pessoal vai na direção de uma ditadura liberal em vez de um governo democrático sem liberalismo”, declarou a um entrevistador chileno.
Em carta ao “London Times” após uma de suas muitas visitas ao país, Hayek reportou que “não foi capaz de encontrar uma única pessoa no Chile que não concordasse que a liberdade individual era muito maior sob Pinochet do que sob Allende”. Os milhares de torturados e executados por aquele regime não tiveram a oportunidade de contestar.
No Brasil de hoje, Bolsonaro e MBL também parecem estar compondo um campo político cujo principal inimigo é a social-democracia, em todas as suas dimensões.
O modelo em vista parece ser o de um Estado forte na repressão às liberdades individuais e fraco na garantia de uma rede de proteção social e de serviços públicos de qualidade.
A julgar pelas experiências que já observamos mundo afora, os mais pobres e a classe média sairiam duplamente prejudicados.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/laura-carvalho/2017/11/1933794-liberalismo-economico-de-bolsonaro-faz-lembrar-chile-de-pinochet.shtml?mobile
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