MAURO LOPES – Lama tóxica despejada pela Vale-Billiton-Samarco chega ao Oceano Atlântico. Dois anos depois, desastre agravou-se. Agora, campanha global quer enfrentar a impunidade das transnacionais
Devastação provocada pela Vale-Billiton-Samarco vira caso central de campanha para que a ONU controle ação dos grandes grupos transnacionais. Conheça o dossiê multimídia.
Uma rede internacional de movimentos sociais e 18 organizações católicas, de 16 países, lançou nesta segunda-feira (23/10), em todo o mundo, um dossiê multimídia sob o título A lama da destruição, que apresenta de maneira detalhada a criminosa tragédia do rompimento da barragem do Fundão, Mariana (MG). Prestes a completar dois anos (ocorreu em 5/11/2015), foi o maior desastre ambiental da história brasileira e um dos maiores em todo o planeta.
O lançamento coincide com a terceira rodada do grupo de trabalho da ONU que elabora um tratado para responsabilizar as corporações transnacionais por violações aos direitos humanos e do planeta – como foi o caso da Samarco, empresa de sociedade anônima controlada em partes iguais pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton.
Pelos menos 19 pessoas morreram e uma enxurrada de lama destruiu vilarejos, 349 casas, escolas e igrejas, além de contaminar o Rio Gualaxo do Norte, o Rio do Carmo e o próprio Rio Doce. O dossiê informa que, segundo a empresa de consultoria americana Bowker Associates, o desastre de Mariana representa um triplo recorde mundial da história da mineração: 1. trata-se do derrame de uma quantidade de lama inédita, entre 32 e 62 milhões de metros cúbicos; 2. uma extensão de destruição ao longo de 680 km; e 3. danos avaliados entre 5 e 55 bilhões de dólares.
A enxurrada de lama atingiu o Oceano Atlântico, no Espírito Santo. Não apenas a população de Mariana sofreu as consequências do desastre, mas, sim, toda a população próxima ao rio Doce. Os indígenas da tribo indígena Krenak, que possuem reserva cortada pelo rio, na época do acidente, relataram estar sem água para consumo, banho e limpeza de seus objetos, por exemplo. De acordo com o governo federal 600 famílias ficaram desabrigadas e milhares foram afetadas. .
Veja a seguir um dos impactantes vídeos do dossiê. São imagens de Bento Rodrigues uma semana após o rompimento da barragem.
A iniciativa é da rede CIDSE, aliança internacional de organizações católicas de desenvolvimento e voltadas ao tema dos direitos humanos, com 18 organizações de 16 países (veja a lista e os links para os sites ao final). Participaram do projeto quatro organizações no Brasil, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Projeto #lamaquemata Thomas Bauer e Joka Madruga e a Articulação Internacional de Atingidos e Atingidas pela Vale. Além delas, o Instituto Pacs – Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e a rede latino-americana e mundial Iglesias y Mineria. E ainda a agência católica austríaca DKA.
O texto ficou sob a responsabilidade da jornalista Christian Russau, dO Centro de Pesquisa e Documentação Chile-América Latina (Forschungs- und Dokumentationszentrum Chile-Lateinamerika e.V. – FDCL), associação sem fins lucrativos fundada em 1974 em Berlim. O FDCL é uma das organizações mais antigas no movimento de solidariedade da América Latina.
São integrantes da rede CIDSE:
Broederlijk Delen – Bélgica
CAFOD – Inglaterra e País de Gales
CCFD – Terre Solidaire – França
Center of Concern – Estados Unidos
Cordaid – Holanda
Development & Peace – Caritas do Canadá
Entraide et Fraternité – Bélgica
eRko – Eslováquia
Fastenopfer – Suiça
FEC – Portugal
FOCSIV – Itália
KOO – Áustria
Manos Unidas – Espanha
Maryknoll Office for Global Concerns – Estados Unidos
MISEREOR – Alemanha
Partage.lu – Luxemburgo
SCIAF – Escócia
Trócaire – Irlanda
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