Economia

Brasil: anotações à margem da atual situação econômica

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Fernando Grossmann – Ao contrário da propaganda das classes dominantes brasileiras e de seu sinistro governo a economia nacional patina na estagnação econômica. E nada indica que possa haver novo ciclo de expansão nos próximos anos.

Partindo da situação conjuntural. Ao contrário da vontade da torcida adversária aos interesses dos trabalhadores os dados divulgados sobre o estado de saúde da economia do país não indicam que a paciente possa receber alta e voltar pra casa.

Ao contrário. Os últimos índices econômicos recomendam que ela deve permanecer na UTI. Seu estado de saúde estabilizou, mas ainda é muito grave.

Vindo de um ilusório crescimento de 1,2% no primeiro trimestre, a tendência atividade econômica medida pelo IBC- BR voltou a desacelerar no 2º trimestre de 2017. Cresceu residual 0,3% em relação ao primeiro. No ano, a expansão está em 1,8%.

Ainda assim, é o menor ritmo de tendência do mundo dentre as grandes economias da periferia. Até a Argentina de Macri voltou a crescer. Já se fala em Buenos Aires de crescimento do PIB acima de 3% neste ano. Analisaremos futuramente e com mais cuidado essas oscilações argentinas.

É preciso levar em conta que a base de comparação de crescimento no Brasil é muito baixa. Nos últimos três anos a economia afundou 11,0%. Embora tenha saído dos obscenos índices negativos dos últimos anos, a expansão brasileira de 1,8% neste ano, apontada pelo IBC-BR mostra muito mais estagnação e imobilidade no fundo do poço do que qualquer reinício de expansão econômica.

Outra sinalização muito importante. Os indicadores de arrecadação fiscal – que também funcionam com alta precisão como indicadores antecedentes da atividade econômica – estão em queda de 19,5% em termos reais nos primeiros seis meses do ano. Nenhuma economia resiste a esse estupro político da sua burguesia

A arrecadação fiscal cai principalmente pela queda da atividade provocada pela política econômica de plantão e, também, por gigantescas renúncias e desonerações fiscais para toda a franco-maçonaria capitalista: pequenos, médios e grandes capitalistas. Desconsideramos aqui a corrupção pura e simples da sonegação fiscal de capitalistas e parasitas em geral do sistema.

A gravidade deste indicador de fraqueza da atividade se revela ainda com maior crueza quando se depara com uma sinistra comparação: a arrecadação da União dos últimos 12 meses (próxima a R$ 1,3 trilhão) encontra-se no mesmo nível de 2010.

Outro indicador importante do imobilismo econômico atual é o da atividade industrial. No acumulado do ano até junho, a indústria de transformação ainda regista queda de 0,3%. Também demonstra que, na média do setor, o ano de 2017 não tem sido de recuperação.

Observa-se que o setor de bens duráveis – onde se encontra a indústria automobilística, forte indutora para outros ramos produtivos – acumula um crescimento de 10% neste ano. No entanto, este setor foi o que mais se retraiu no recente período recessivo, e sua aparente recuperação de crescimento tem sido sustentada principalmente pelas exportações de automóveis.

A indústria automobilística exprime a dinâmica industrial brasileira. É altamente recomendável se observar de perto a indústria automobilística instalada no Brasil para se entender não só a dinâmica cíclica, mas também a natureza histórica da moderna industrialização brasileira.

Os grandes males e as parcas virtudes da totalidade indústria brasileira – uma das dez maiores do mundo em termos de volume de valor agregado – aparecem de forma mais didática na evolução dos seus ramos de produção de automóveis e autopeças.

Quase a totalidade das recentes exportações de automóveis brasileiros foi destinada à Argentina (75%).  Em seguida México (8%) e Indonésia (7%).

Essa expansão exportadora atual tem limites muito rígidos. Acontece que a estrutura da indústria automobilística brasileira foi montada para concorrer e vender no mercado interno. Baixa competitividade externa. E a demanda total da América Latina por automóveis, abastecida principalmente por importações asiáticas, é inferior à demanda do mercado brasileiro. Não resolve nem um pouco o problema da superprodução brasileira.

Além disso, o atual surto exportador de automóveis não é resultado de uma mudança estrutural do setor, de qualquer abandono do velho padrão – mas como decisão emergencial das matrizes das multinacionais para manter as máquinas funcionando em suas filiais brasileiras.

As multinacionais evitam no curto-prazo o seu sucateamento físico (encerramento de atividade) e o colapso completo dos lucros. Entre 2014 e 2016 apenas duas das quatro maiores montadoras multinacionais no país – General Motors e Ford – somaram prejuízos de US$ 3,9 bilhões na América do Sul, região em que o Brasil responde por mais de 60% das vendas.

Observa-se também que a maior parte das exportações brasileiras são de veículos montados e destinadas a países da periferia do sistema. Não se verifica ainda nenhuma mudança em direção às plataformas de exportações asiáticas, mexicanas, etc.. Estas últimas só podem funcionar quando plenamente integradas às cadeias produtivas globais de capital e com exportações de partes dirigidas principalmente para o centro do sistema: EUA, Euro e Japão.

Essa integração imperialista é o grande sonho atual das classes dominantes brasileiras. Dificilmente realizável. Depende de novas condições externas da globalização, algo totalmente fora de controle das classes proprietárias. Veja o que se passa agora no caso da NAFTA e o México. O mundo gira…

Além dessas incertezas externa, se exigiria muito mais destruição interna das condições de existência da classe trabalhadora e, consequentemente, muito mais ingovernabilidade política. A modernização capitalista sempre galopa em cima da luta de classes. Na periferia, em permanente tragédia.

Se as exportações não resolvem quase nada da superprodução brasileira de automóveis, resolvem menos ainda a superacumulação do capital em suas dezenas de empresas. As multinacionais automobilísticas operam atualmente com menos de 50% da capacidade instalada para produzir 5,3 milhões de veículos.

Essa monumental capacidade foi significativamente ampliada nos últimos anos com a instalação de novíssimas fábricas e marcas globais. Muitas instalaram completamente a planta, mas não chegaram a rodar nem um dia a linha de produção.

Em 2013 ainda se produzia 3,7 milhões de unidades montadas. Atualmente, não mais do que 2,1 milhões de unidades. Na esteira dessa derrocada, foram despedidos mais de 31 mil trabalhadores qualificados das linhas de produção. Somam-se a esse contingente sucateado mais 50 mil cortes nas empresas de autopeças e 124 mil nas concessionárias de revenda.

Coloca-se então o problema da sobre capacidade instalada do setor e também por que o nível de utilização da indústria em geral está tão baixo. E, finalmente, por que as classes dominantes dificilmente recuperarão aquele antigo (2013) nível de utilização da capacidade ora em vias de extinção.

Partimos da situação conjuntural e desembocamos nesse problema muito mais estrutural a determinar a gravidade da atual situação econômica. Merecerá também cuidadosa análise em futuro boletim da Crítica.

http://criticadaeconomia.com.br/brasil-anotacoes-a-margem-da-atual-situacao-economica/

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