Paulo Moreira Leite – Como num lance de mágica, o nome de Henrique Meirelles já circula como possível candidato a uma eventual vaga na presidência da República caso Michel Temer seja despejado do Planalto. Está na Folha de hoje. Também foi lançado como balão de ensaio por David Fleischer, um professor da Universidade de Brasília que costuma ser ouvido com frequência para fazer profecias sobre as periódicas crises brasileiras.
Quando se fala — em tom de grande sabedoria — que é possível dispensar a equipe política que tomou posse do governo após o golpe, mas que é preciso preservar a equipe econômica, o sujeito oculto da frase é Meirelles. O que se quer dizer é que o governo pode ser ruim mas a economia vai bem.
Com o maior desemprego da história, uma recessão de duas décadas em perspectivas, desnacionalização intensiva e entrega de tesouros como a Petrobras, é claro que Meirelles jamais teria o voto de 100 milhões de eleitores brasileiros, aqueles que a TV Globo e seus aliados querem manter em silêncio compulsório, longe da urna.
O fiasco da política econômica, do ponto de vista de 99% da população, pode ser demonstrado em números. No curto carnaval que tentava convencer o país de que o pior estava no fim, que a recessão estava para trás, como o próprio ministro anunciou, descobriu-se que o principal fator de melhoria era uma mudança metodológica – capaz de criar uma fugaz miragem estatística. Na falta de coisa melhor para mostrar, o governo fez questão de gabar-se pela criação de pouco mais de 50 000 empregos.
Erguer este número é marketing de mau gosto, na verdade, que só a boa vontade da imprensa amiga poderia levar a sério. Num universo de mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, e de outros seis milhões que constituem a mão de obra subutilizada, conforme estatísticas do IBGE, este número pouco significa. Até porque pode ser produto de episódios sazonais, como a antecipação da safra em determinados setores.
Por razões fáceis de entender, as chances presidenciais do ministro da Fazenda se limitam à meia dúzia de grandes patrões que quer manter o controle sobre o Planalto depois que a delação de Joesley Batista escancarou o esquema de corrupção que envolve o governo Temer e aliados. É um nome sob medida para uma eleição indireta, para seguir em frente num projeto de desmantelamento do país.
Há um elemento de desfaçatez nesta iniciativa. Procura-se — numa operação rápida — assegurar a continuidade do desastre já demonstrado, numa velocidade que impeça qualquer reação efetiva. O plano é correr com a substituição presidencial, num processo fechado que lembra uma troca de executivos numa empresa, sem relação com um processo democrático, necessário de um país que abriga uma das maiores economias do mundo, possui uma cultura riquíssima e uma história respeitável.
A vaga no Planalto começou a ser aberta dias depois que o esquema de corrupção da JBS de Joesley e Wesley Batista abriu um rombo na densa rede de interesses que protege Temer desde que assumiu a presidência.
Ocorre que, executivo do mercado financeiro com carreira internacional, Meirelles foi presidente do Conselho Administrativo da JBS, a empresa dos irmãos Batista. Também presidiu o Banco Original, do mesmo grupo. Foi convidado para assumir funções executivas na JBS em 2012 — os rumores sobre os empréstimos do BNDES já eram prato do dia nas colunas de economia — e deixou o grupo ao aceitar o Ministério. A seu favor, cabe registrar que nunca teve o nome ligado a qualquer escândalo.
Vamos lhe dar o crédito da presunção da inocência e supor que nunca soube de nada do que se passava no grupo.
O problema é que, a se acreditar nessa possibilidade, é forçoso concluir por sua incapacidade absoluta de compreender o que se passa sua volta. Se já era assim numa empresa privada, imagine-se como seria a frente do governo de um país que, como ensinou mestre Antônio Carlos Jobim, e se pode confirmar pelas delações de seus antigos patrões, não é para amadores.
Alguma dúvida?
http://www.brasil247.com/pt/blog/paulomoreiraleite/296623/Meirelles-candidato-da-desfaçatez.htm
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