José Martins – Em 2016, o investimento externo na produção de capital continuou elevado no Brasil. Outro grande sucesso da crise brasileira. Com a enorme desvalorização do capital no atual ciclo econômico (2009/2016) e a correspondente depreciação da moeda nacional (real) “a economia brasileira ficou barata” para os capitalistas de fora do país.
Além dos preços das mercadorias exportadas, como vimos anteriormente, os preços em dólar das empresas instaladas no país também desabaram. Tudo a preço de banana. Alguém teria que aproveitar desta mega-liquidação. Os indefectíveis “investidores externos”, off course. O chamado Investimento Externo Direto (IED) continua entrando nos mesmos níveis muito elevados de décadas anteriores na maior economia da América do Sul. Superávit no comércio externo e pletora de IED na produção interna. Vejamos a coisa mais de perto.
O IED corresponde a operações financeiras de fusões e aquisições de empresas ou em ampliação da capacidade das empresas de capital estrangeiro já instaladas na economia. Esses movimentos internacionais de capitais são a manifestação mais evidente do processo de centralização e de concentração do capital no mercado mundial. A centralização corresponde à posse e à regulação das empresas capitalistas, a concentração à capacidade produtiva propriamente dita.
Nota bene: o IED não se trata, portanto, de um mero dinheiro-capital produtor de juro – títulos de dívidas públicas e privadas, obrigações em geral, ativos financeiros de curto-prazo, hot money, índices futuros, commodities, bolsas de valores, etc. – mas do capital-dinheiro produtor de lucro. Como em geral os economistas não distinguem as diferentes formas do capital no processo de circulação especificamente capitalista, eles sempre acabam confundindo juro com lucro, renda, e outras formas de rendimento. Para a maioria deles juro e lucro é a mesma coisa. Assim, a superprodução de capital e suas crises periódicas tornam-se um grande mistério. Os economistas marxistas de cátedra, por exemplo, geralmente não vão além das crises de superacumulação de capital. Isso nas famílias mais distintas e populares da estéril academia. Entretanto, superprodução e superacumulação são coisas bem diferentes. Embora mantenham sutis relações, é claro. Mas confundir as duas coisas abre as portas, por exemplo, para recentes diagnósticos de estagnação, longa depressão e outras invencionices em que o próprio ser capital desaparece.
Separando-se alhos de bugalhos pode-se observar melhor que os movimentos do IED indicam o mapa das minas mais férteis de exploração do capital imperialista global. Um verdadeiro mapa mundi das regiões e países onde o capital global encontra as melhores condições de se valorizar (produzir lucro) e se multiplicar (aumentar a capacidade instalada). Como se reparte espacialmente, geograficamente, a acumulação do capital global, esta é a questão.
Segundo últimos dados publicados pelo Banco Central do Brasil, o IED entrado no país nos últimos doze meses decorridos até novembro de 2016, registrava um volume significativo de US$ 78,868 bilhões. No mesmo mês de novembro de 2015, registrou-se US$ 69,866 bilhões. Crescimento de 12.9% em doze meses. Uma das maiores taxas do mundo. Não é pouca coisa para uma economia esfacelada pelo desemprego de 12% da força de trabalho; queda de quase 4% do seu Produto Interno Bruto (PIB); queda de 7 % de sua produção industrial em novembro 2016, computando catastroficamente trinta e três meses seguidos de queda na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
A continuidade desta pletora de investimentos externos diretos no país no ano passado é organicamente relacionada à atual política econômica de Meirelles, Ilan Goldfajn et caterva. Afinal, toda essa atual arquitetura de destruição armada pela quadrilha burguesa nacional não é para atrair os investidores externos? Não é esse sublime objetivo que os comentaristas econômicos da mídia mais anseiam? O objetivo da arquitetura da destruição da grande quadrilha verde-amarela não é conservar (e ampliar) as condições internas de valorização do capital global? Os números não mentem. Ninguém pode negar que esse objetivo está sendo brilhantemente alcançado.
O fato mais importante de toda essa miserável economia é que o peso da acumulação imperialista de capital no Brasil determina diretamente não só a evolução (ou involução) da economia doméstica como os próprios desdobramentos políticos e geopolíticos do pais. O mais complicado da análise é que aquele mapa mundi do capital global que falamos acima metamorfoseia-se substancialmente a cada ciclo econômico. Roda um filme permanentemente atualizado da mutante base material do desenvolvimento desigual e combinado do mercado mundial. É justamente sobre esta base altamente movediça que se desdobram as lutas de classes e as novas condições políticas e geopolíticas das principais regiões e países do planeta.
Para se localizar na situação atual, projetar as possibilidades de desdobramentos econômicos e, finalmente, as perspectivas da luta de classes no Brasil é muito importante levar em conta que é mais elevado do que se imagina o grau de importância do país para a economia do imperialismo. Em nosso próximo boletim semanal da Crítica detalharemos os números mais recentes destas mutações do mapa mundi do capital global que comprovam nossas suspeitas.
http://criticadaeconomia.com.br/yes-nos-temos-banana/
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