Kofi Annan – As Nações Unidas relatam que um recorde de 65 milhões de pessoas foram deslocadas por conflitos globais
Dezenas de milhões de pessoas estão em fuga, e a globalização trouxe mudanças rápidas e difíceis para muitas economias ao redor do mundo. A democracia seria forte o suficiente para suportar esses desafios?
Seja qual for seu nível de fé no processo, os eleitores vão às urnas no ano que vem em Hong Kong, Chile, França, Alemanha, Irã, Quênia, Holanda, Ruanda, Coreia do Sul e Tailândia, entre outros países. A esperança é que a democracia se saia melhor do que em 2016. A essência desse antigo sistema de governança está sendo testada. A liberdade tem diminuído em todo o mundo pelo 11º ano consecutivo, de acordo com a organização não governamental Freedom House.
Muitos países que pareciam estar em transição para a democracia, como Egito, Turquia, Tailândia e República Democrática do Congo, estão retrocedendo; entre as exceções encorajadoras estão Mianmar, Nigéria e Tunísia. Entretanto, muitos regimes autoritários estão reprimindo ainda mais a dissidência. E nas democracias estabelecidas, a confiança nos políticos, na filiação partidária e na participação eleitoral — todos indicadores da legitimidade democrática — vêm progressivamente diminuindo há anos.
Por que esses desafios surgiram agora e com tanta força? Um ponto em comum é a globalização, um poder supranacional não eleito. Uma vez recebida como uma bênção, ela é cada vez mais considerada uma ameaça — à segurança, à identidade cultural, à economia.
A globalização tem ajudado centenas de milhões de pessoas a escapar da pobreza, reduziu custos de bens manufaturados para os consumidores de todo o mundo e proporcionou uma mobilidade sem precedentes. Mas também aumentou as desigualdades dentro dos países e reduziu o poder dos governos para controlar suas fronteiras e suas economias.
Embora líderes autoritários, eternos críticos da democracia, também usem a linguagem do nacionalismo desvairado ao lidar com a globalização, eles são dependentes da economia global, o que limita sua margem de manobra. Esses líderes podem ser menos vulneráveis aos caprichos da opinião pública, mas são geralmente ligados a grupos poderosos e pouco transparentes, como generais do Exército, integrantes de partidos e oligarcas.
Em períodos de turbulência, sistemas autoritários podem parecer atraentes devido à rápida tomada de decisões que possibilitam. No entanto, sua capacidade de tomar decisões imediatas baseadas nos caprichos de um só homem historicamente levou a catástrofes que não seriam possíveis em democracias, que estão enfraquecidas, mas também protegidas por supervisão e controle.
Nossa apreciação das democracias pode ser afetada pela informação desigual. Regimes autoritários tendem a parecer melhores do que são, porque a informação é controlada, a crítica é suprimida e um fluxo constante de propaganda cria uma falsa sensação de popularidade; as democracias tendem a parecer pior porque seus meios de comunicação, as sociedades civis e os políticos ampliam seus problemas. Na realidade, sistemas autoritários são frágeis face à mudança e as democracias mais resilientes graças à sua legitimidade fundamental, governança responsável e válvulas de segurança proporcionadas pela liberdade de expressão.
O World Values Survey demonstrou várias vezes que o desejo de livre escolha e autonomia é uma preferência universal, temperado apenas por uma preocupação com a segurança. Políticos com tendências autoritárias exploram essa preocupação, manipulando a política do medo. Adversários, reais ou imaginários, são sua melhor defesa contra a aspiração natural de seu povo por maior liberdade.
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