Leonardo Sakamoto – Não acredito que o grupo que ocupou o plenário da Câmara dos Deputados pedindo um golpe militar e um ”general redentor”, que achou que o vermelho de uma bandeira do Japão é a prova do comunismo do Congresso Nacional, representa a direita brasileira.
Da mesma forma, não acredito que o grupo que agrediu fisicamente jornalistas, como Caco Barcellos, em uma manifestação contra os cortes em salários e direitos trabalhistas de servidores públicos do Rio de Janeiro, representa a esquerda brasileira.
Esse debate não é fácil e sei que muita gente boa já se pronunciou sobre isso. Mas, como já escrevi, nesta quinta, esses acontecimentos são frutos do desrespeito a instituições que são estruturantes de nossa sociedade e do consequente abandono de regras que balizam os limites de nossos desejos e de nossos atos.
Isso transcende categorias como ”direita” e ”esquerda”, é algo muito além. A direita e a esquerda democráticas ainda acreditam na disputa política, por mais que a capacidade da própria democracia representativa em garantir respostas sobre a qualidade de vida esteja em profundo questionamento, para não dizer descrédito. Você pode não concordar e achar que a pessoa do outro lado não merece respeito porque possui uma ideologia diferente da sua. Mas sua crença não vai fazer disso uma verdade. Apenas uma pós-verdade, talvez.
Esses dois tipos de violências são a negação da política, a negação da arena pública em que problemas e divergências são expostos, debatidos e resolvidos ou conciliados. Evitando, dessa forma, que nos devoremos.
E não estou falando daquela negação da política que é apenas estratégia de comunicação de campanha de políticos que se dizem não-políticos e vendem um discurso extremamente ideologizado travestido de não-ideológico. Mas sim da negação como destruição.
É importante que a direita e a esquerda tenham liberdade para veicular suas ideias publicamente, desde que não queiram limar, através disso, a dignidade de outras pessoas.
Mas enquanto direita e esquerda brigam entre si nas páginas de veículos de comunicação tradicionais, algo amorfo e sem rosto cresce assustadoramente de forma anônima e apócrifa nas redes sociais. Isso não é silencioso, pelo contrário, é tão estridente que quem está acostumado com o diálogo acaba por interpretar tudo como indecifrável ruído. No final, o ”ruído” levará a salvadores da pátria, com ”colo de pai e pulso firme”.
O adversário não é quem pensa diferente, mas quem não pensa. Ou, pior, terceiriza o pensamento. E, por isso, é facilmente conduzido. Ampliar o debate público de qualidade ao máximo, nas escolas, na mídia, em qualquer lugar, pode ajudar a evitar o evitável. Caso contrário, teremos uma grande noite para refletir sobre o que deixamos de fazer.
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2016/11/18/o-problema-nao-e-quem-pensa-diferente-mas-quem-nao-pensa/
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