Francisco Toledo – Relatório da Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios (AECEP) aponta mais de 104 colégios associados ao grupo ao redor do país, sendo 33 em São Paulo. Enquanto o projeto Escola sem Partido avança no debate político, a educação vai se tornando uma questão de religião.
Porém, esse número aponta apenas as escolas associadas ao AECEP — ou seja, vale destacar que ainda existem centenas de outros colégios privados que seguem uma orientação “cristã” em seu método educacional. Por exemplo: além da AECEP, existem outras organizações e associações que atingem um menor número de escolas similares, como a Anep (Associação Nacional de Escolas Presbiterianas).
Fundada em 1997, a AECEP surgiu exatamente para cumprir uma demanda em busca de apoio para as escolas cristãs no Brasil. Segundo a própria organização, “a AECEP estrutura, organiza e compartilha conceitos e práticas pedagógicas e de gestão escolar em Educação por Princípios produzidos por seus fundadores, capacitadores e associados”. No site da associação, em “Valores”, é possivel destacar: “Compromisso com a Bíblia como fundamento”.
Apesar de ser apenas uma associação que representa as escolas cristãs, e não necessariamente um movimento político, social ou religioso, a AECEP teve importância recente em um episódio envolvendo a Câmara dos Vereadores, no ABC paulista. Foi a associação que encabeçou e criou o movimento “Eu Sou Família”, interferindo diretamente e afetando o debate sobre a implantação do Plano Municipal da Educação em cidades como Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema. Associados do AECEP praticaram lobby político, percorrendo as câmaras e pressionando os vereadores contra a inclusão de temas como a diversidade sexual e o combate à homofobia nas escolas.
A página do movimento Eu Sou Família no Facebook espalha postagens criticando a chamada “manipulação” supostamente feita por professores na tentativa de “forçar a ideologia de gênero” nos jovens, além de compartilhar opiniões contra a “doutrinação marxista nas escolas” e em defesa de valores cristãos.
Ironicamente, o crescimento de movimentos similares e da quantidade de escolas cristãs no Brasil ocorre ao mesmo tempo em que a classe política passa a analisar a possibilidade de aprovar o projeto Escola sem Partido.
Teoricamente, o projeto liderado pelo advogado Miguel Nagib tem como objetivo limitar o ensinamento religioso, político e ideológico dentro da sala de aula. Isso teoricamente.
Defendido massivamente por grupos conservadores, de extrema-direita e que fazem parte da Bancada Evangélica, o projeto Escola sem Partido não deve afetar o crescimento e até mesmo o funcionamento prático das escolas cristãs — que apoiam a medida, tendo em vista o posicionamento do movimento liderado pela AECEP no estado de São Paulo.
Três propostas similares correm no Congresso Nacional: a PL 867/15, do deputado Izalci do PSDB (DF); a PL 7180/14 do deputado Erivelton Santana do PSC (BA); e a PL 1411/15 do deputado Rogério Marinho, do PSDB (RN). Outros estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Rio Grande do Sul e Distrito Federal contam com projetos similares em suas assembleias legislativas.
Recentemente, o site oficial do Senado Federal abriu uma Consulta Pública sobre o projeto Escola sem Partido. Através da mobilização nas redes sociais, grupos conservadores conseguem, até o momento, uma vantagem de 4 mil votos a favor do projeto.
https://medium.com/democratize-mídia/sem-partido-mas-com-a-bíblia-na-mão-escolas-cristãs-crescem-no-brasil-3b9d036640ca#.8f40yb5br
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