JULIANA GRAGNANI – Para o jornalista, escritor e cientista político Jorge Caldeira, “a história do Brasil como a conhecemos é uma fantasia, quase como se fosse o Joãosinho Trinta pensando o país”. Ele participou nesta quinta (30) de mesa mediada pela repórter especial da Folha Sylvia Colombo na Casa Folha, em Paraty, onde acontece a Flip.
Caldeira é autor do livro “Nem Céu Nem Inferno” (Três Estrelas), “uma antologia de como venho pensando o Brasil nos últimos 30 anos”, segundo definiu. “O Brasil acaba sendo uma nação de classe média, não é nem africano, nem a Noruega ou a Suécia, daí o título do livro”, explicou. A obra desafia a história do Brasil como se pensa hoje porque sua narrativa básica mudou nos últimos 30 anos, de acordo com Caldeira, em decorrência da evolução de duas áreas de conhecimento no país: a antropologia e a econometria.
“Aprendemos que nosso passado foi ruim e que o futuro será melhor. O Brasil alterna bons e maus momentos por razões que não estamos acostumados.”
“A economia do Brasil era a mesma economia dos Estados Unidos em 1800 e maior que a de Portugal”, afirmou, citando dados obtidos pela econometria a partir de novas informações estatísticas. “É preciso enfrentar muita estatística para manter a ideia de que a colônia era pobre.”
Ele perguntou à plateia desde quando há votações para vereador em Paraty. “1750”, chutou um espectador. “Paraty foi fundada em 1660, tem eleição desde 1660”, disse Caldeira. “Alguém já pensou que o Brasil tem tradição eleitoral desse tamanho? Não. Faz parte dos nossos valores. Em qualquer cidade do Brasil, fazemos isso há séculos. E ninguém pensa nisso como uma virtude política. Temos um fato democrático e não temos a menor percepção disso como um valor.”
Uma espectadora perguntou quais foram os “infernos” do Brasil, que deixaram o país “sem saída”. Caldeira respondeu que dois momentos, em sua opinião, fizeram o Brasil deixar de ser uma economia que crescia para uma das piores do mundo: “Duas apostas contra a globalização”, uma durante o governo Geisel (1974-79) e outra mais recente, em 2006.
A segunda aposta contra a globalização pela nação brasileira e seus empresários, disse, foi quando o pré-sal, desenhado para ser algo global, virou nacional. “Isso não foi um sucesso. Nossos problemas foram apostar que o Estado protege a economia brasileira da economia global. Estamos pagando a conta de apostar contra a globalização.”“Durante a gestão de Geisel, com a mudança do preço do petróleo, sobrou dinheiro no mundo árabe e faltou no Ocidente. A interpretação do governo Geisel foi: ‘Vamos pegar o máximo de dinheiro de fora e aplicá-lo no Brasil’. O mercado interno vai crescer e depois pagamos a dívida”, contou. “Mas o mundo global cresceu um monte e o Brasil não.”
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/06/1787401-a-historia-do-brasil-como-conhecemos-e-uma-fantasia-diz-cientista-politico.shtml
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