Bryan Schatz e Dave Gilson – Como a NRA e os fabricantes de armas exploraram a política e a paranoia para vender milhões de armas.
Dentre as armas usadas no atentado devastador de domingo em uma boate gay em Orlando, estava um rifle similar a um AR-15, a versão civil de um rifle de assalto originalmente fabricado para o exército dos EUA. A imensa popularidade do AR-15 é apenas um capítulo no crescimento recente da indústria de armas norte-americana. Enquanto a Associação Nacional de Rifles (NRA), financiada pelos maiores fabricantes de armas da nação, alimentou receios de uma iminente repressão aos donos de armas, uma onda de aquisições tem colocado armas ainda mais mortais nas mãos dos norte-americanos.
1980: companhias de armas norte-americanas fabricam 5.6 milhões de armas de fogo.
1981: A Glock, primeira pistola com receptor de plástico, é introduzida. Depois de receios de que a arma não seria detectada por máquinas de raio-X, se torna a arma mais popular dentre policiais e civis.
1982: A proposição “handgun freeze” na Califórnia é derrotada seguida de uma campanha de $5 milhões da NRA financiada por companhias de armas, incluindo a Storm Ruger e Smith & Wesson.
1990: A Colt introduziu um modelo civil do seu AR-15/M16 rifle militar nos anos 1960, mas falhou em patentear seu design. Enquanto as companhias produziam rifles similares, as vendas começaram a subir no início dos anos 90. Em 2011, os norte-americanos já haviam comprado mais de 7 milhões dos chamados “rifles modernos modelo esporte”, como os grupos pró-armas preferem chamar essas armas de estilo militar. Seus donos gastam em média $436 em acessórios e customização.
1992: Mais de um terço de todas as pistolas são feitas pelo “Círculo de Fogo” – seis fabricantes de armas do sul da Califórnia conhecidos pelos seus “especiais de sábado a noite”: pistolas pequenas e econômicas frequentemente ligadas à crimes.
1994: O Congresso aprova uma proibição de 10 anos a armas de assalto, com o ex-presidente Ronald Reagan dentre os líderes demonstrando apoio.
1995: O CEO da NRA, Wayne LaPierre, chama os policiais federais de “gângsters autoritários do governo”. O presidente George H. W. Bush retira sua filiação vitalícia da NRA em resposta “a essa calúnia contra o povo de bem”.
1996: O Congresso proíbe que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) faça pesquisas que poderiam ser usadas para “promover ou defender o controle de armas”, efetivamente acabando com pesquisas de saúde pública e violência armada financiadas pelo governo federal.
1997: A administração Clinton negocia um acordo com oito fabricantes de armas para incluir travas nos gatilhos de suas pistolas.
1998: “Não sou louco por armas. Nem sou membro da NRA”, diz o CEO da COLT, que defende a criação de licenças federais de armas.
1999: A Colt desenvolve um protótipo de arma-inteligente. Mais tarde abandona o projeto depois de a NRA ameaçar um boicote.
2000: Smith & Wesson concorda com a administração Clinton em decretar várias normas de segurança. A NRA lidera um boicote. As vendas da companhia caem 40%; depois recuam.
2003: Congresso aprova a Emenda Tiahrt, bloqueando o ATF (Bureau de Álcool, Tabaco, Armas de fogo e Explosivos) de divulgar informações sobre armas usadas em crimes. Os dados foram usados para identificar vendedores de armas sem escrúpulos e fabricantes.
2004: A proibição federal de armas de assalto expira.
2004: Bushmaster Firearms e um traficante de armas fazem acordo de $2.5 milhões com as vítimas dos atiradores de DC Beltway, que usaram um rifle feito para contornar a proibição de armas de assalto.
2005: O Congresso aprovou a Lei de Proteção de Comércio de Armas (PLCAA), que bloqueava ações de responsabilidade civil contra fabricantes de armas e vendedores. Cidades incluindo Atlanta, Chicago, Miami e Nova Iorque já haviam processaram contra os efeitos da violência armada, chacoalhando a indústria. Em 1999, o presidente da NRA, Charlton Heston, assegurou aos executivos do ramo, “sua luta se tornou nossa luta”. A PLCAA acabou com o litígio em andamento. A lei ressurgiu como uma questão importante na primária Democrata de 2016, com Hillary Clinton pressionando Bernie Sanders a justificar seu voto em favor da lei. Sanders argumentou que os fabricantes não deveriam ser responsabilizados pelas ações de “alguém louco ou um criminoso” – mas ele também disse que a lei atual deveria ser revogada.
2008: Inicia o “Barack Boom”, com a venda de armas se movimentando em paralelo com a eleição de Barack Obama. Um boletim informativo da indústria de armas relatava “demanda incessante de consumidores por pistolas de alta-capacidade e rifles de estilo militar”.
2009: O CEO da Remington, George Kollitides, concorre para o conselho da NRA. Ele não sai vitorioso, mas consegue uma cadeira no poderoso comitê de nomeação, que controla quem pode concorrer.
2013: O maior show de esporte ao ar livre da América proíbe o uso de AR-15 e outros rifles de estilo militar em respeito às famílias do massacre de Newtown. Depois de a NRA boicotar o show, ele é encerrado. Então, a NRA traz o show de volta em 2014 – com os AR-15.
2015: Walmart diz que não vai mais vender AR-15 e outros rifles de estilo militar, dizendo que vendem pouco. A NRA diz estar “desapontada” mas não realiza um boicote.
2015: Ex-deputado Jay Dickey (Republicano-Arkansas), que escreveu a medida de 1996 que acabou com as pesquisas do CDC em violência armada, diz que se arrepende. Acerca da falta de dados de confiança, ele adiciona, “o status quo não é aceitável”.
2016: O rifle de atirador Barrett calibre .50, que pode atirar através de blocos de concreto em uma distância de 3.000 pés, é nomeado como a arma do estado do Tennessee.
2016: Checagem de histórico, exigida pelo FBI, para potenciais compradores de armas, um indicador de demanda, chega a níveis recordes. Desde 2008, fabricantes de armas produziram ou importaram mais de 75 milhões de armas de fogo a venda nos Estados Unidos.
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Uma-breve-historia-da-enorme-farra-de-compra-de-armas-nos-EUA/6/36323
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