Ana Paula Coelho – Buscamos incessantemente conhecimento, mas temos dificuldade em abrir espaços autênticos de reflexão e mudança. Será possível desaprender (desprogramar) crenças limitantes? Uma delas certamente é a de que “precisamos sempre saber mais e mais”.
Na era da informação e do conhecimento, a síndrome de FOMO (Fear Of Missing Out) nos dá sempre a sensação de que precisamos aprender mais, que sabemos de menos. Mas você já se perguntou o que você precisa desaprender?
Aprendemos desde que somos crianças. Uma das primeiras palavras que aprendemos o significado é “não”. É bem comum inclusive que crianças falem “não” primeiro do que “mãe”. Dito assim a gente percebe a força que isso tem. Esse aprendizado, essa programação que temos sobre o que devemos ou não devemos, podemos ou não podemos, cresce conosco e muitas vezes se torna uma crença limitante. O que você acredita que não pode, não consegue ou não deve fazer? Seria possível desaprender essa programação? Talvez tão importante quanto nossa capacidade de aprender seja nossa capacidade de desaprender.
Uma das coisas que aprendi desde cedo é que conhecimento não ocupa espaço. Mas isso não é exatamente verdade. Sim, nossa capacidade de acumular informação é elástica, mas nosso tempo nesta vida infelizmente não. Se gastamos nosso tempo aprendendo coisas que não nos serão úteis, talvez estejamos desperdiçando um poderoso recurso. Mas como saber de antemão se algo nos será útil? Muitos de nós imediatamente pensamos no nosso tempo de escola, com matérias obrigatórias que te disseram ser importantes e você não conseguiu encontrar qualquer utilidade naquele momento – é verdade que para algumas delas não conseguimos achar nenhuma serventia até hoje.
Para além das críticas ao modelo tradicional de educação, há também nosso desenvolvimento pessoal que entra nessa fórmula de entender o que nos serve ou não. O quanto você se conhece? O que você veio fazer aqui? Já sabe as coisas que precisa aprender (e desaprender) para materializar suas intenções na vida? Quando fazemos esses questionamentos a nós mesmos, nos oferecemos uma preciosa chance de sair da rotina, da norma, do padrão preestabelecido e sermos mais verdadeiros com quem somos. Nos oferecemos a chance de responder a uma das perguntas mais fundamentais: quem sou eu? Para chegar à resposta dessa pergunta, sinto que precisamos desaprender em vez de aprender. Eis uma lista de coisas que são passíveis de serem “desaprendidas”:
- Se desvalorizar;
- Se criticar;
- Se julgar;
- Dizer que “não pode” ou “não consegue”;
- Desistir antes de tentar (tentar com vontade);
- Desconfiar;
- Que as coisas são preto ou branco, certo ou errado;
- Criticar e julgar os outros;
- _________ (adicione aqui sua sugestão).
Em Buenos Aires há um costume que vem ganhando adeptos: abrir janelas em apartamentos. Os grandes prédios tem por vezes uma lateral inteira sem nenhuma janela ou com pequenos basculantes. Essa parede tem o nome de medianeira. Por lei não é permitido grandes janelas nessas paredes, entretanto, nos prédios antigos as pessoas passaram a simplesmente quebrar a medianeira e fazer novas janelas para arejar e deixar o sol entrar nos apartamentos.
Desaprender é abrir uma janela na parede das suas crenças. Não é fácil, não é de uma hora pra outra, mas é possível. Muitos vão dizer que inclusive é proibido, mas os argentinos já entenderam que mais ar entrando é necessário. Nos resta aprender com eles.
http://outraspalavras.net/alexbretas/2016/04/11/o-que-voce-precisa-desaprender/
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