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Aumentam os atritos e críticas entre EUA e Israel

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LUIZ EÇA – Durante a maior parte do governo de Obama, ele e Netanyahu discutiram várias vezes, ficando claro que os dois não se bicavam. No frigir dos ovos, porém, os EUA mantiveram sua política de apoio total a Israel. Críticas estadunidenses em questões essenciais como os assentamentos, Jerusalém Oriental, os excessos na guerra de Gaza e a independência da Palestina ficaram nisso.

Na Palestina tudo continuou como Netanyahu queria. A partir de 2015, alguma coisa mudou.

As críticas de Obama tornaram-se bem mais duras, as divergências em certos casos foram além das declarações oficiais, as condenações norte-americanas foram mais frequentes, ameaçando até por limites à tradicional defesa sem limites de Washington a Telavive.

O ano começou quente, com o premier de Israel contestando a política externa norte-americana em pleno Congresso, numa fala que tentava convencer os parlamentares indecisos a votarem contra o acordo nuclear com o Irã, tido como essencial por Obama.

Naquela ocasião, talvez pela primeira vez, os EUA mantiveram uma política que Israel repelia com os mais duros adjetivos.

Pouco depois, na campanha eleitoral, Netanyahu afirmou que jamais permitiria uma Palestina independente. Entre outras coisas, isso representou uma negação da solução dos “Dois Estados independentes na Palestina,” com que Obama está completamente comprometido, defendendo-a como a única saída para o problema da região. Depois de reeleito, o chefão de Telavive voltou atrás, mas o que fora dito estava dito.

Em resposta, autoridades norte-americanas de vários níveis falaram em possível (ou mesmo provável) mudança da posição dos EUA a favor de Israel na ONU.

O próprio Obama, em entrevista à imprensa de Israel, entrou de pé alto na jogada: “As propostas de paz de Netanyahu incluíam tantas advertências e tantas condições que não é realístico pensar que essas condições poderiam ser atendidas em qualquer momento num futuro próximo. O perigo aqui é que Israel perde credibilidade. No momento, a comunidade internacional não acredita que Israel seja sério sobre a solução dos dois Estados. A manifestação que o primeiro-ministro fez cria esta convicção”.

Netanyahu não gostou nada. Mas não deixou de continuar criando novos assentamentos. Até que as críticas da comunidade internacional cresceram tanto que ele decidiu fazer uma concessão: prometeu que reduziria o número de novas construções nos assentamentos. O que não cumpriu.

Não demorou muito e a Rádio oficial das Forças Armadas israelenses anunciou o confisco de uma vasta área de propriedade palestina. Segundo a ONG israelense Paz Agora, fora o maior confisco de terras em muitos anos.

As terras confiscadas destinam-se a assentamentos judaicos. E formariam um corredor israelense, separando territórios palestinos até então contíguos, o que traria um sem número de problemas para os moradores.

O primeiro-ministro não parou por aí. Mais recentemente, o Paz Agora denunciou a existência de projetos do governo que iriam triplicar o número de moradias construídas em 2015. Tomando por base as construções nos três primeiros meses do ano, Israel planeja executar mais 674 novos projetos neste ano, contra 194 em 2015.

Indignados protestos nos EUA, cujo Departamento de Estado declarou que as obras israelenses estavam “fundamentalmente sabotando as chances da solução dos dois Estados” e “levantando sérias dúvidas sobre as reais intenções a longo prazo de Israel em relação aos territórios ocupados”.

Termos inusitadamente duros, diferentes das habituais “preocupações” que os EUA normalmente usam ao referir seus sentimentos diante de ilegalidades ou violências de Telavive.

Netayahu tentou explicar-se dizendo que se tratava apenas de reformas de construções já existentes, mas o jornal Haaretz, com uma série de fotos aéreas, provou que eram novas construções, sim.

Acusações bem mais pesadas foram lançadas pelo relatório anual do Departamento de Estado dos EUA, relativo a 2015, que criticou o excesso de força usado pelo exército de Israel contra os palestinos nos territórios ocupados.

Foi salientado que metade dos palestinos mortos por terem presumivelmente atacado militares ou civis israelenses na verdade não haviam atacado ninguém. De acordo com o relatório, entre os 149 palestinos mortos pelas forças israelenses, apenas 77 lançaram ataques. Todos os demais foram assassinados em manifestações ou durante “operações de rotina”. Muitos não representavam qualquer ameaça quando foram alvejados pelas forças de segurança de Israel.

E o Departamento de Estado dos EUA foi ainda mais agressivo ao denunciar a existência de uma política israelense de “prisões arbitrárias, seguidas de torturas e outras violências, frequentemente deixadas impunes”. Frases que tipificavam regimes como os de Pinochet, Somoza e Fulgencio Batista.

Causa espanto que os acusados sejam o exército de Israel, “o exército mais ético do mundo (segundo Telavive)”. E espanto maior que o acusador seja o governo dos EUA.

É verdade que Obama não ficou tão independente assim. Pressionado pelas eleições (o eleitorado judaico ainda pesa nos EUA) e pelos políticos pró-Israel do seu partido, ele concordou em aumentar a ajuda militar a Israel de 3 bilhões de dólares por ano para compensar a derrota diplomática de Telavive no acordo com o Irã.

A pressão popular não foi levada em conta. Pesquisa do Google em março mostra que 61,5% dos norte-americanos acham excessiva a ajuda atual, sendo que 32,4% acham “mais do que demais”. Em julho de 2015, em outra pesquisa, 67,8% se opunham a que os EUA compensassem Israel de qualquer forma pelo acordo nuclear com o Irã.

A quantia proposta por Obama, levada a Telavive pelo vice Joe Biden, foi considerada pequena por Netanyahu. Ele prefere esperar que o novo presidente tome posse, já que os dois prováveis candidatos são 100% pró-Israel e seriam mais generosos na concessão do aumento.

Voltando de sua viagem a Israel, Biden fez uma conferência na qual refletiu o pensamento do presidente Obama. “Eu acredito firmemente que as ações que o governo de Israel tomou nos últimos anos — a firme e sistemática expansão dos assentamentos, legalização dos postos avançados e confiscos de terras – estão nos levando e, mais importante, levando Israel, numa direção errada”.

Indiferente a todas estas sucessivas reprovações, Netanyahu lançou mais um desafio. Declarou que a região síria de Golan, outrora ocupada por suas forças de segurança, jamais deixaria de ser parte de Israel.

Golan fora tomada na guerra de 1967 e formalmente anexada em 1991, sob protestos de toda a comunidade internacional. O direito de tomar para si terras alheias é universalmente considerado ilegal. O premier israelense não está nem aí para isso.

Chamou a atenção a reprovação estadunidense. Em vez de apenas “preocupar-se”, desta vez recusou-se a aceitar a anexação de Golan, taxando-a de “ilegal”. Foi mais um ataque verbal de Obama às estripulias de Netanyahu. Só falta agora avançar.

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