SABRINA TAVERNISE – De acordo com uma análise de dados federais, o suicídio nos Estados Unidos subiu para seu nível mais elevado em quase 30 anos, e sua incidência cresceu entre todas as faixas etárias exceto os adultos mais velhos.
O crescimento foi especialmente pronunciado entre as mulheres. Também foi substancial entre os norte-americanos de meia-idade, o que é um sinal de profunda angústia para uma categoria na qual o índice de suicídios vinha estável ou em queda desde os anos 1950.
O número de suicídios entre as mulheres de meia-idade dos 45 aos 64 anos subiu em 63% no período do estudo, e entre os homens dessa faixa etária subiu em 43%, o que representa a maior alta para os homens entre todas as faixas etárias. O índice geral de suicídios subiu em 24% entre 1999 e 2014, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas da Saúde norte-americano, que divulgou o estudo na sexta-feira.
Pesquisa com dados federais mostra maior taxa de suicídio nos Estados Unidos nos últimos 30 anos
A elevação foi tão pronunciada que conduziu a incidência de suicídios no país a 13 por cem mil pessoas, a mais alta desde 1986. De 2006 para cá, o índice vem crescendo em 2% ao ano, uma elevação duas vezes maior do que a registrada no período anterior do estudo. No total 42.773 pessoas se suicidaram em 2014, ante 29.199 em 1999.
“É verdadeiramente espantoso ver tamanha elevação nos índices de suicídio em virtualmente todas as faixas etárias”, disse Katherine Hempstead, assessora sênior de serviços de saúde na Fundação Robert Wood Johnson, que identificou um vínculo entre suicídios na meia-idade e os crescentes índices de insatisfação no emprego e quanto às finanças pessoais.
Os pesquisadores também identificaram uma alta alarmante entre as meninas dos 10 aos 14 anos, uma faixa etária na qual a incidência de suicídios, embora ainda muito baixa, triplicou. O número de meninas dessa faixa de idade que se suicidaram subiu de 50 em 1999 a 150 em 2014. “É uma categoria que claramente se destacou”, disse Sally Curtin, pesquisadora de estatística do centro e autora do relatório.
Os indígenas dos Estados Unidos registraram a maior alta entre os grupos raciais e étnicos, com 89% mais suicídios entre as mulheres e 38% entre os homens. As mulheres brancas de meia-idade registraram 80% de elevação no número de suicídios.
O índice só caiu para um grupo étnico: os homens negros. E só para uma faixa etária: os homens e mulheres com mais de 75 anos de idade.
A análise de dados oferece novas provas de sofrimento entre os norte-americanos brancos. Pesquisas recentes indicaram os problemas dos brancos com nível educacional mais baixo, mostrando altas no número de mortes por overdose de drogas, suicídio, doenças do fígado, e envenenamento por álcool, especialmente entre as pessoas com nível de educação de segundo grau ou inferior.
O novo relatório não oferece uma divisão do número de suicídios por nível educacional, mas pesquisadores que revisaram os dados afirmam que os padrões de raça e idade são compatíveis com pesquisas recentes e pintam um quadro de desespero para muita gente na sociedade norte-americana.
“Isso é parte de um padrão mais amplo de provas da conexão entre a pobreza, a desesperança e a saúde”, disse Robert Putnam, professor de política pública na Universidade Harvard e autor de “Our Kids”, uma investigação sobre as novas divisões de classes nos Estados Unidos.
A alta na incidência do suicídio aconteceu lentamente, ao longo de muitos anos. Os pesquisadores do setor federal de saúde dizem ter selecionado 1999 como data inicial do período para estudo porque representou um ponto baixo para o número de suicídios no país, e eles desejavam cobrir plenamente o período recente de elevação sustentada.
O mais recente relatório da agência federal de saúde sobre o suicídio, divulgado em 2013, apontava para elevação acentuada do suicídio na faixa etária dos 35 aos 64 anos. Mas houve elevação ainda maior de lá para cá –de 8% para a população como um todo, desde 2010, o ponto final do período do estudo anterior– e os pesquisadores federais dizem ter produzido o novo estudo para atrair atenção a esse ponto.
As autoridades norte-americanas dizem que os esforços de prevenção do suicídio são desordenados no país. Embora alguns hospitais e sistemas de saúde busquem sinais de pensamentos suicidas em seus pacientes, e ofereçam bons programas de tratamento, muitos outros não o fazem.
“Temos mais tratamentos e tratamentos mais efetivos, mas precisamos descobrir como incorporá-los aos sistemas de saúde para que sejam usados de modo mais automático”, disse a Dra. Jane Pearson, presidente do Consórcio de Pesquisa do Suicídio, no Instituto Nacional da Saúde Mental norte-americano, que controla as verbas de pesquisa para a prevenção do suicídio. “Temos uma coisa aqui, outra ali, mas não as reunimos como deveríamos, até agora”.
Ela aponta que embora as verbas dos Institutos Nacionais da Saúde para projetos de prevenção de suicídio tenham se mantido quase inalteradas –subiram de US$ 22 milhões em 2012 a US$ 25 milhões em 2016–, elas representam apenas uma pequena fração das verbas para pesquisa de doenças mentais, que incluem distúrbios como a depressão.
A nova análise federal aponta que os métodos de suicídio estão mudando. Cerca de um quarto dos suicídios em 2014 envolveu sufocação, uma categoria que abarca enforcamento e estrangulação, ante menos de um quinto em 1999. As mortes por sufocação são mais difíceis de prevenir porque quase qualquer pessoa tem acesso aos meios, disse Hempstead. As mortes por disparo de arma de fogo caíram tanto entre os homens como entre as mulheres, no caso das mulheres de 37% para 31% dos suicídios, e no dos homens de 62% para 55%.
A disparidade na incidência de suicídios entre homens e mulheres se reduziu porque o número de suicídios vem crescendo mais rápido entre as mulheres do que entre os homens. Mas o número de homens que se suicidam ainda é 360% maior que o de mulheres. Ainda que o número de suicídios entre os adultos mais velhos tenha caído ao longo do período do estudo, os homens com mais de 75 anos ainda mostram a maior incidência de suicídio entre todas as faixas etárias –38,8 por 100 mil em 2014, ante apenas quatro por 100 mil entre as mulheres da mesma faixa.
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/04/1763764-numero-de-suicidios-nos-estados-unidos-e-o-mais-alto-em-30-anos.shtml
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