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Pesquisa sugere baixa adesão de brasileiros a teses conservadoras

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Ricardo Mendonça – Uma pesquisa recém-concluída pelo instituto Ideia Big Data sobre temas comportamentais e econômicos sugere, conforme os formuladores do levantamento, que as posições dos brasileiros são bem menos conservadoras do que tem aparecido nas análises políticas, nos discursos de parlamentares e em manifestações em redes sociais.

O estudo mostrou, entre outras coisas, que há forte apoio dos brasileiros à atuação do Estado para garantir igualdade de oportunidades, proteção aos mais pobres, aposentadoria aos mais velhos e crescimento econômico do país.

São majoritários também o apoio a cotas raciais em universidades públicas e a defesa de direitos de homossexuais. A formulação segundo a qual os direitos humanos “devem valer para todos, incluindo bandidos”, supera com folga o entendimento de que deveria ser algo seletivo. E uma ampla maioria manifesta rejeição à ideia de punição criminal às mulheres que fazem aborto.

Já a bandeira da redução dos impostos, muito cara ao pensamento conservador e muito defendida por políticos de direita e entidades empresariais, não é vista como prioridade.

O único tema testado em que teses normalmente associadas ao conservadorismo ganham mais destaque é o da segurança pública. Por pequena margem, a ideia segundo a qual o país precisa de mais presídios tem mais concordância do que oposição. A defesa da pena de morte empata com a rejeição à adoção dessa medida radical.

Embora a maioria dos entrevistados manifeste preferência por um modelo de penas alternativas em detrimento do aprisionamento como única maneira de punição, 44,8% dos brasileiros concordam com a frase “bandido bom é bandido morto”. O grupo que compartilha esse entendimento vence com folga o dos que discordam da frase (31,4%). Outros 22,2% nem concordam nem discordam.

Para chegar a essas conclusões o Ideia Big data ouviu 3 mil pessoas em todo o país entre os dias 1º e 10 de novembro. A pesquisa foi feita face a face e tem margem de erro de 2,5 pontos para mais ou para menos.

O levantamento foi encomendado pelo chamado Movimento Agora!, um grupo criado há um ano para, segundo a própria definição, “impactar a agenda pública e a ação política” no país. Segundo o CEO do instituto, Maurício Moura, o estudo foi financiada pela própria empresa de pesquisa em colaboração com o Movimento Agora!.

Composto por aproximadamente 90 pessoas, o Agora! reúne pesquisadores, empresários, ativistas, economistas, ongueiros, profissionais liberais e até um indígena entre os seus cofundadores e membros.

No grupo dos 48 cofundadores listados em seu site estão, entre outros, os empresários Carlos Jereissati Filho e Eduardo Mufarej, o ex-secretário Nacional de Justiça e ex-chefe de gabinete da ex-presidente Dilma Rousseff, Beto Vasconcelos, a economista Mônica de Bolle, o ativista Anápuáka Muniz Tupinambá Hã-Hã-Hãe e as pesquisadoras Ilona Szabó e Melina Risso.

Cotado como possível candidato à Presidência da República em 2018, o apresentador de TV Luciano Huck (sem partido) é apresentado na mesma lista como “membro” do Agora!.

Para Melina Risso, o resultado que melhor expressa o sentimento captado pela pesquisa é o da primeira pergunta formulada pelo Ideia. Os entrevistados foram provocados a dizer se preferiam impostos mais baixos ou melhores serviços públicos, como saúde e educação. De cada 10 brasileiros, 8 optam por melhores serviços públicos.

“Vivemos um momento complicado no país porque o único fenômeno com forte visibilidade é o de um amplo conservadorismo que teria dominado o país”, disse Risso ao Valor. “Então foi com satisfação que eu vi os resultados dessa pesquisa. Uma boa surpresa perceber que há espaço para discussão de outros temas. Acho esse resultado da preferência por serviços públicos revelador da desconexão entre o que ganha visibilidade na imprensa e no debate público e o que é dito pelos brasileiros.”

O tema importo também foi testado numa peste do questionário que perguntava sobre concordância ou discordância dos entrevistados em relação a determinadas frases.

Três entre quatro pesquisados concordaram com a frase “Reduzir imposto é importante, mas não urgente”. Apenas 15,5% discordaram. Outros 8,3% nem concordaram nem discordaram.

As respostas à pergunta sobre direitos humanos também surpreenderam a pesquisadora. Para 62,4%, os direitos humanos devem valer para todos, incluindo bandidos. A ideia segundo a qual “não devem valer para bandidos” teve adesão de 33,8%.

Acostumado a lidar com levantamentos desse tipo, Mauricio Moura chama a atenção para dois pontos em que ele detecta “evolução” no pensamento médio dos brasileiros.

O primeiro é um aumento notável no apoio às políticas de cotas raciais em universidades públicas. Conforme a pesquisa recém-concluída, 57,2% são favoráveis a esse tipo de medida, 39,2% são contra. “Dez anos atrás, só um terço da população defendia cotas desse tipo. Houve uma rápida inversão nesse tema”, diz.

O segundo é o apoio majoritário às políticas que representam direitos para homossexuais. É um padrão que ficou claro em mais de uma questão. O entendimento segundo o qual pessoas do mesmo sexo têm direito de se casar recebeu adesão de 65,5% dos brasileiros. A opção oposta, de negação dessa possibilidade, foi apontada por 29,7%.

Tendência parecida foi observada numa pergunta sobre adoção de crianças por parte de casais formados por pessoas do mesmo sexo. Conforme a pesquisa, 62,4% reconheceram esse direito. Os contrários somaram 34,6%.

Um resultado visto como positivo por Moura foi o que mostrou rejeição à ideia de “salvador da pátria” para o Brasil. Para 72,8%, isso não existe. A posição oposta foi defendida por apenas 16%.

“O populismo sempre foi um tema de muita ressonância e o Brasil já viveu experiência de político que se apresentou como ‘salvador da pátria'”, disse, sem citar nomes. “Mas na pesquisa, ainda é possível ver resquício disso na forte adesão à frase ‘bandido bom é bandido morto’. Indica que o tema segurança será muito forte em 2018”, conclui.

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